Para quem tem dúvidas sobre o alcance e a importância da série The Chosen - Os Escolhidos, basta ver como foi a pré-estreia da quarta temporada na última segunda-feira, 18, no Theatro Municipal, em São Paulo. Não só o local estava lotado, com filas dando voltas e voltas na Praça Ramos de Azevedo, como havia uma empolgação generalizada com a presença dos atores Jonathan Roumie (que interpreta Jesus), Paras Patel (o apóstolo Mateus) e Lara Silva (Éden).
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Essa empolgação foi confirmada não só quando os atores subiram no palco do Municipal, mas também quando os dois episódios foram exibidos para as centenas de pessoas que lotaram o espaço. Quem já assistiu a filmes da Marvel Studios em sessões de pré-estreia vai entender: as pessoas gritavam (entre aplausos, assovios e gritos de “aleluia”) quando certas coisas aconteciam na tela. Foi uma ovação completa quando Jesus mudou o nome de Simão para Pedro, por exemplo. Ou, então, em uma piada envolvendo casamento.
O fato é que de The Chosen é um sucesso inesperado: começou com um financiamento coletivo, para viabilizar a produção, e hoje conta com 200 milhões de visualizações ao redor do mundo. Além disso, a série sobre a história de Jesus não passa apenas nas telinhas. Desde quinta-feira, 21, os dois primeiros episódios da quarta temporada estão em cartaz nos cinemas. Depois, esta nova temporada vai para o streaming próprio da série, onde ela pode ser vista com dublagem para 50 idiomas. Ainda não há previsão de chegada à Netflix, que já disponibiliza as três primeiras partes.
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Jonathan Roumie, hoje, é o maior astro dentro desse nicho. Quando aparecia na tela, as pessoas imediatamente tinham alguma reação – se mexiam na cadeira, prestavam mais atenção ou até assobiavam. “É uma coisa bonita ser admirado pelas pessoas, mas você não pode deixar isso subir à sua cabeça”, diz ele, em entrevista ao Estadão. A seguir, confira o papo com o astro, que fala sobre sucesso, religião e o desafio de interpretar Jesus.
Você tem interpretado Jesus há mais de 10 anos – primeiramente em curtas, depois em ‘The Chosen’. Como sua relação com Jesus, e até mesmo com a fé, mudou durante este período?
Sim, eu tive algumas oportunidades para, eu espero, melhorar um pouco na interpretação do Nosso Salvador, mas é um trabalho – e é sempre um trabalho em progresso. Eu sempre sinto que tenho muito a aprender sobre Jesus. É um caminho longo a percorrer como ser humano para entender o que Ele está pedindo de nós e depois tentar interpretar isso para que seja convincente no papel.
É difícil interpretar Jesus?
Em um nível prático, é difícil pela quantidade de roteiro que eu tenho que memorizar. Há muito roteiro, mas também é preciso torná-lo acessível, vivo e compreensível para o público e também para os discípulos, para todos nós. É quase como Shakespeare, sabe? Tem uma linguagem muito específica. Mas eu tento deixar a compreensão [da Bíblia] para os teólogos e tento confiar principalmente na minha fé para as coisas que não entendo, que são muitas.
É preciso se perguntar: como alguém entende a mente de Deus? Acho que a resposta é vendo como Ele viveu como humano e, seguindo esse exemplo, podemos obter vislumbres de sua mente. E então acho que, à medida que passo mais tempo com as escrituras, penso: ‘o que Jesus faria? Como Jesus agiria em certas situações?’. O objetivo é que isso me aproxime mais Dele.
Você teme ser estigmatizado por seu papel em ‘The Chosen’ como Jesus?
Quanto aos estigmas, diria que só algumas pessoas na História tiveram isso, então não suspeito que isso acontecerá comigo (risos). Quanto à carreira, não. Tive um momento na minha vida e na minha carreira, seis anos atrás, em que eu entreguei todo o meu controle e minhas noções do que minha carreira deveria ser para Deus. Aos 44 anos, quando consegui o papel, eu entreguei tudo isso a Ele e, quando fiz isso, comecei minha carreira.
O que acontece agora, eu deixo tudo nas mãos Dele. Se Ele quiser que eu faça um filme da Marvel ou filme de Star Wars depois de The Chosen, ótimo. Desde que pareça certo e seja um desafio para mim. Eu sempre estou interessado em papéis que façam parte de histórias boas e bem contadas e em personagens que me empolgam, me interessam e, eu espero, tenham um impacto positivo na sociedade, trazendo luz para a cultura. Esse é o meu objetivo como artista. E desde que eu mantenha minha fé e controle minhas expectativas, acho que estarei bem.
Com ‘The Chosen’, você se tornou uma pessoa famosa mundialmente. Como é isso para você?
Está tudo bem. É uma coisa bonita ser admirado pelas pessoas, mas você não pode deixar isso subir à sua cabeça. Eu nunca quis ser famoso. Eu nunca quis ser ator aparecendo na câmera. Afinal, comecei dublando animações e estava satisfeito com isso. Mas, obviamente, Deus tinha outros planos e agora estou fazendo isso.
Eu não tenho mais tanta privacidade. Ainda tenho, se me comparar com o The Rock, por exemplo, que é algo totalmente diferente. Não sei como eles administram e chegam a esse nível, como o Timothée Chalamet, que é tão famoso tão jovem. Eu não sei se eu poderia ter lidado com a fama nessa idade.
Acho que é parte da razão pela qual Deus meio que esperou que eu chegasse a uma certa idade e dissesse: ‘ok, você está bem, você vai ficar bem, você vai conseguir lidar com isso’. Então, para a pequena quantidade de fama que eu aproveito, está tudo bem. Os fãs são ótimos. Eu os amo. Temos os melhores fãs do mundo.
‘The Chosen’ se tornou um sucesso inesperado mundialmente. O que isso significa para o mercado audiovisual?
Acho que conseguimos redefinir o padrão das produções sobre fé. Muitas pessoas relutaram, e talvez ainda relutem, em assistir ao programa. É um pouco mais fácil agora que estamos em plataformas de streaming, especialmente aqui no Brasil, em que estamos na Netflix. Isso é enorme para nós. Acho que inicialmente era difícil encontrar a série: precisava entrar em um aplicativo e as pessoas tinham que ser tecnologicamente inteligentes para entender como assistir.
Além disso, tem a questão de ser uma série cristã que, por muitos anos, tinha uma reputação muito ruim. A percepção era de que este era um programa estritamente cristão, mas não é só isso. Vai além. É um drama histórico sobre a vida de Cristo, o movimento que Ele iniciou, as origens do cristianismo, mas não está limitado aos cristãos. Não é para as pessoas que já conhecem Jesus. Na verdade, ficamos tão animados quanto, se não mais, quando pessoas que nunca ouviram falar de Jesus encontram a série e gostam do que assistem.
O padrão de qualidade de séries cristãs mudou [com The Chosen]. Precisamos ser capazes de contar essas histórias com o mesmo nível de qualidade que qualquer outro estúdio de Hollywood levaria para fazer um filme da Disney, da Marvel, um Star Wars ou qualquer outro tipo de projeto. Temos muito menos dinheiro do que esses caras, mas a atenção aos detalhes e o valor de produção têm que estar lá. Caso contrário, você não alcançará tantas pessoas.
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