‘The Crown’: última temporada estreia amanhã e vai mostrar morte da princesa Diana; saiba como será

A primeira parte do encerramento do drama da Netflix começa em 1997, no auge de um dos períodos mais analisados da história britânica recente. Saiba como foi pesquisa e produção

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Por Sarah Lyall

THE NEW YORK TIMES - As imagens são surpreendentemente familiares, mesmo depois de todos esses anos.

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Em uma delas, reproduzida com incômoda precisão na nova temporada de The Crown, Diana, a princesa de Gales, está sentada no trampolim do convés de um iate, com suas longas pernas balançando sobre as águas. Em outra, ela abraça seu novo namorado, Dodi Fayed. E em uma terceira, tirada de uma câmera de segurança, o casal desce pelo elevador do Ritz Hotel, em Paris, a caminho do carro, no fim de uma noite de agosto. Sabemos muito bem o que vai acontecer a seguir.

A sexta e última temporada de The Crown começa aqui, em 1997, no auge de um dos períodos mais estranhos e desconcertantes da história britânica recente. Foi quando Diana (interpretada por Elizabeth Debicki) e Dodi (Khalid Abdalla), um casal improvável, unido pelas circunstâncias, morreram em um acidente dentro de uma passagem subterrânea de Paris, perseguidos por um bando de fotógrafos. Diana tinha apenas 36 anos e sua morte levou a Grã-Bretanha a um paroxismo de tristeza por sua perda e raiva contra a família real.

Nas últimas cinco temporadas, The Crown vinha se desenrolando década a década, produzindo um retrato épico do reinado de Elizabeth II, desde seu casamento com o príncipe Philip, em 1947. Os episódios às vezes pareciam pitorescos e distantes, histórias reembaladas de um passado mais ou menos longínquo.

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Elizabeth Debicki como Diana, a Princesa de Gales, na 6ª temporada de 'The Crown'. Os primeiros quatro episódios focam a preparação e as consequências da morte de Diana Foto: Daniel Escale/Netflix

Mas a nova temporada – que começa um ano depois de Diana se divorciar do príncipe Charles (Dominic West) e termina com o casamento de Charles com sua namorada de longa data, Camilla Parker Bowles (Olivia Williams) em 2005, oito anos depois – é algo completamente diferente.

Os primeiros quatro episódios da temporada (um segundo lote vai chegar em 14 de dezembro) exploram os antecedentes e as consequências do acidente de 1997. Ao dedicar tanta atenção a esse período, a produção corre o risco de entrar em conflito não apenas com as memórias dos espectadores, mas também com inúmeras representações anteriores dos mesmos eventos – um fluxo aparentemente interminável de livros, dramas e documentários.

Para citar apenas dois: Diana, filme de 2013 sobre os últimos dois anos de Diana, estrelado por Naomi Watts; e Diana e Dodi: A Princesa e o Playboy, documentário sobre o casal que foi lançado este ano.

Diana (Elizabeth Debicki) com Dodi Fayed, interpretado por Khalid Abdalla Foto: Daniel Escale/Netflix

Peter Morgan, criador e roteirista de The Crown, também está competindo com seu próprio filme de 2006, A Rainha, que cobre o mesmo período. Helen Mirren estrela como uma Elizabeth perplexa e encalacrada, lidando com a emoção crua e a raiva quase selvagem contra a realeza que irrompeu em toda a Grã-Bretanha depois da morte de Diana. Com cenas íntimas de conversas entre membros da família real e figuras públicas como o então primeiro-ministro, Tony Blair (Michael Sheen), A Rainha foi uma prévia da abordagem de Morgan em The Crown – uma mistura de história e ficção, borrando as linhas entre público e privado.

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A nova temporada de The Crown não consegue não revisitar os temas do filme de 2006. Mostra Elizabeth (Imelda Staunton, canalizando habilmente o timbre e a cadência da voz de Elizabeth) sem saber se fica na Escócia com os netos após a morte de Diana, como ela prefere, ou viaja a Londres e se dirige à nação, como os tabloides e o primeiro-ministro querem (ela acaba acatando).

Mas a série também dá tempo à história de Mohamed al-Fayed (Salim Daw), pai de Dodi, um empresário egípcio agora extremamente rico e ambicioso, cujas propriedades incluíam não apenas o Ritz em Paris, mas também a loja de departamentos Harrods, um símbolo da opulência da classe alta, em Londres.

Salim Daw como Mohamed al-Fayed na 6ª temporada de "The Crown", que, após o acidente, é mostrado como um pai em luto, devastado pelo fato de os britânicos parecerem não se importar com a morte do filho Foto: Netflix

Em cenas que já provocaram uma certa reação online e nos tabloides britânicos, o fantasma de Dodi regressa após a morte para falar com o pai, enquanto o fantasma de Diana aparece brevemente em conversas com Charles e Elizabeth.

Quão precisas são as cenas não fantasmagóricas nesta última representação do romance Dodi-Diana? Annie Sulzberger, chefe de pesquisa da série – ela também é irmã do editor-chefe do New York Times, A.G. Sulzberger – disse que a equipe estava ciente de como pode ser delicado ressuscitar uma história da qual tantos participantes ainda estão vivos.

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“As pessoas que viveram a morte de Diana têm um sentimento de propriedade sobre essa história, um sentimento de participação, que pode influenciar sua percepção”, disse ela em entrevista. “Com a história recente, estamos sempre lutando contra as perspectivas íntimas e particulares das pessoas”.

Sulzberger disse que a equipe de pesquisa recorreu a múltiplas fontes para retratar os acontecimentos de 1997, inclusive livros de memórias, documentários e o inquérito oficial do governo sobre a morte do casal no carro junto com uma terceira vítima, Henri Paul, o motorista.

“Se tem documentário, nós o vimos. Se tem um artigo, nós o lemos. Se tem um livro, nós o temos”, disse ela.

Charles, então príncipe de Gales, o príncipe Harry e o príncipe William observam as flores em tributo a Diana do lado de fora do Palácio de Kensington, em Londres, em 1997 Foto: Rebecca Naden/Reuters

Uma fonte de informação particularmente valiosa foi o inquérito policial conhecido como Operação Paget, que investigou as alegações de um cada vez mais desequilibrado Mohamed al-Fayed de que Diana estava grávida do filho de Dodi e que o casal tinha sido assassinado pelos serviços de segurança britânicos a pedido do príncipe Philip, entre outros. (Diana não estava grávida, revelou o relatório, e as mortes foram acidentais).

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O relatório final do inquérito incluiu depoimentos de amigos e funcionários do casal, revelando como Diana descrevia o romance deles ao vasto círculo de confidentes com quem conversava por telefone, da França.

Lady Annabel Goldsmith, amiga de Diana, disse ao inquérito que elas conversaram em 29 de agosto, dois dias antes da morte de Diana. Goldsmith testemunhou que, quando perguntou a Diana se ela estava pensando em se casar com Dodi, Diana disse: “Annabel, preciso de casamento tanto quanto de uma cicatriz no rosto”.

Richard Kay, repórter do Daily Mail que por muitos anos cobriu a realeza e amigo próximo de Diana que conversou com ela no dia do acidente, disse que ninguém pode dizer com certeza o que aconteceu entre Dodi e Diana naquelas horas finais.

“Está no reino da fantasia”, disse Kay em entrevista. “É só... como posso dizer? É só especulação”, disse ele sobre a representação de uma última conversa entre Dodi e Diana na série.

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'The Crown' apresenta uma interpretação particularmente gentil dos últimos dias do relacionamento de Diana e Dodi. Foto: Netflix

Há muitas maneiras pelas quais The Crown poderia ter retratado o estado de espírito de Diana nas semanas finais, mas a série escolheu uma interpretação particularmente gentil de seu relacionamento com o ex-marido e o novo amante.

Mais de 25 anos depois, é difícil dizer com certeza se Diana realmente tinha encontrado um pouco de paz emocional depois de tanta turbulência. A versão de Morgan é apenas a mais recente de uma longa fila de interpretações. Mas, agora que The Crown chega à era Diana, talvez seja a que traz mais conforto.

A sexta temporada de 'The Crown' aborda a morte de Diana, a Princesa de Gales Foto: Daniel Escale/Netflix

Este artigo foi originalmente publicado em The New York Times.

/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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