Opinião | ‘Vinagre de Maçã’ é uma série baseada em fraude real com acidez e pegada

Nova produção da Netflix tem mais profundidade e mordacidade do que muitas outras histórias de golpes; leia crítica

PUBLICIDADE

Por Margaret Lyons (The New York Times)

Vinagre de Maçã é o mais recente docudrama sobre golpistas na Netflix, mais uma história real desagradável que foi simplificada ao máximo para ficar boa de ser maratonada. Mas esta é sobre dois golpes, na verdade: 1) uma australiana que finge ter câncer; 2) a indústria do bem-estar de forma mais geral.

Kaitlyn Dever estrela como Belle Gibson, que alcançou a fama como blogueira de câncer e culinária. A série entrelaça sua história com a de duas outras personagens que realmente têm câncer: Milla (Alycia Debnam-Carey), a blogueira ídolo de Belle, que está convencida de que pode curar seu câncer e, mais tarde, o de sua mãe, com sucos; e Lucy (Tilda Cobham-Hervey), uma paciente com câncer de mama desesperada por alternativas à brutalidade da quimioterapia. Presumivelmente, “Enema de Café” não era um título tão atrativo quanto “Vinagre de Maçã”, mas essa prática pseudocientífica ocupa muito tempo de tela aqui. Muito mesmo.

Kaitlyn Dever estrela a série 'Vinagre de Maçã' como Belle Gibson, que alcançou a fama como blogueira de câncer e culinária Foto: Ben King/Netflix

A história se desenrola em linhas de tempo confusas entre 2009 e 2015. O tamanho e a aspereza das lesões nos braços de Milla situam onde ela se encontra em seu prognóstico, e Lucy fica cada vez mais debilitada. A “jornada” de Belle, por outro lado, é contada pelo estado de suas lentes dentárias: quanto mais brilhantes e reluzentes, mais recentes. As queixas de Belle iniciaram na adolescência, mas ela começou a aprimorar sua história sobre o câncer em fóruns de mães, quando ainda era uma jovem mãe. “Uma das piores coisas que podem acontecer a uma pessoa aconteceu comigo!”, ela declara, absorvendo cada molécula de piedade que consegue arrancar dos outros.

Publicidade

Vinagre de Maçã tem mais profundidade e mordacidade do que muitas outras histórias de golpes, com mais hipóteses sobre o que pode motivar alguém a cometer fraudes sociais: mãe ruim, pai ausente, necessidade voraz de atenção – as mesmas coisas que levam muitas pessoas a uma vida nos palcos. A alienação e o desespero são motivadores poderosos, e a atuação de Devers faz com que Belle seja empática o suficiente para nos atrair.

'Vinagre de Maçã' tem mais profundidade e mordacidade do que muitas outras histórias de golpes Foto: Ben King/Netflix

Para quem quiser saber mais sobre o mundo das fraudes de câncer, a série documental Scamanda, baseada em um podcast de mesmo nome, vai ao ar nos Estados Unidos, pelo canal ABC. (A série não está disponível no Brasil). Amanda Riley passou anos mentindo sobre ter câncer, escrevendo em blogs sobre o assunto e dando palestras em sua igreja, enganando amigos e conhecidos em centenas de milhares de dólares. Enquanto Vinagre de Maçã se concentra na criminosa, Scamanda se preocupa mais com as vítimas, com sua humilhação e revolta por terem sido enganadas. É um documentário medíocre, mas a história é fantástica.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Opinião por Margaret Lyons
Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.