Você se lembra de quando se apaixonou pela 1ª vez? Então ‘Heartstopper’ é para você, diz diretor

Euros Lyn falou ao ‘Estadão’ sobre uma das séries mais vistas da Netflix atualmente, que retorna com 2ª temporada mais madura e tramas que mostram ‘os aspectos mais complicados da vida’

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Foto do author Julia Queiroz

Heartstopper é uma das séries da geração Z, mas se engana quem pensa que apenas os jovens podem se identificar com ela. Ao menos é o que diz Euros Lyn, responsável pela direção de todos os 16 episódios da produção, em entrevista ao Estadão.

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A segunda temporada do seriado chegou à Netflix na última quinta-feira, 3, e rapidamente alcançou o posto de série mais assistida da plataforma no Brasil. Os novos episódios almejam alcançar o sucesso da primeira temporada, que atingiu o Top 10 do streaming em 54 países.

Inspirada nos quadrinhos de mesmo nome de Alice Oseman, que também é a pessoa por trás dos roteiros da série, Heartstopper conta a história de amor entre o tímido Charlie Spring e o popular Nick Nelson, atleta na escola só para meninos em que os dois estudam na Inglaterra.

A série cativou a atenção do público jovem não só pela representação leve e delicada de dois meninos adolescentes se apaixonando, mas também por acolher e representar pessoas de diferentes tipos.

Os melhores amigos de Charlie, por exemplo, são Tao, um garoto asiático, e Elle, uma garota transexual. Ao ser transferida para o colégio das meninas, a jovem conhece Tara e Darcy, um casal interracial de garotas lésbicas.

Elenco principal de 'Heartstopper': Corinna Brown (Tara), Kizzy Edgell (Darcy), Joe Locke (Charlie), Kit Connor (Nick), Tobie Donovan (Isaac), Yasmin Finney (Elle) e William Gao (Tao). Foto: Samuel Dore/Netflix/Divulgação

“Algo que é realmente importante para mim é que cada personagem da série deve parecer verdadeiro e real, porque eles estão representando não apenas a si mesmos, mas a um grupo de pessoas”, diz Lyn.

A princípio, isso pode assustar muitas pessoas que acham que não vão conseguir se identificar com a série. Mas o diretor tem uma resposta pronta para isso: “Eu perguntaria se eles se lembram de terem se apaixonado pela primeira vez”.

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“E se lembrarem, devem assistir a essa série, porque isso vai lembrá-los de como foi essa experiência. Acho que vai deixá-los felizes porque vai lembrá-los um pouco de como era aquela alegria”, completa.

2º temporada de ‘Heartstopper’ é mais madura

Lyn menciona como a segunda temporada dá mais espaço para os pais dos protagonistas, que são todos adolescentes entre 14 e 16 anos. Nick acabou de se assumir bissexual para a mãe - que, inclusive, é vivida pela vencedora do Oscar Olivia Colman - e não tem um bom relacionamento com o pai, que não é presente em sua vida.

Já Charlie enfrenta problemas nas aulas e é cobrado pelos pais, que chegam a pedir que ele pare de ver tanto o namorado. Tao divide o luto pelo pai ao lado da mãe, enquanto Darcy precisa mentir para os parentes sobre ser lésbica.

“Sempre me certifico de que o relacionamento entre eles pareça real, porque um público mais jovem reconhecerá como é ter um pai, mas os pais também reconhecerão como é ter um filho. É uma coisa muito importante”, aponta o diretor.

Joe Locke e Kit Connor, ambos de 19 anos, interpretam Charlie Spring e Nick Nelson em 'Heartstopper'. Foto: Samuel Dore/Netflix/Divulgação

As tramas mencionadas são apenas alguns dos conflitos abordados no novo ano da série. Os primeiros episódios mostraram Nick e Charlie se apaixonando, enquanto Nick entendia e aceitava a sua própria bissexualidade.

Agora, o jovem quer se assumir para a família e amigos, mas percebe que isso é muito mais difícil do que achava. Charlie tenta apoiar o namorado, mas sente os traumas do bullying que sofreu quando ele próprio foi tirado do armário à força, e dá sinais de que vive com um transtorno alimentar.

“Há um idealismo em se apaixonar pela primeira vez. Isso é algo que a série realmente celebra, é divertido e os fãs têm realmente respondido. Mas, na verdade, aquele primeiro entusiasmo do amor não pode durar para sempre. Todo mundo tem problemas na vida”, argumenta Lyn.

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A segunda temporada [de ‘Heartstopper’] é mais animadora porque é corajosa o suficiente para começar a examinar os aspectos mais complicados da vida

Euros Lyn, diretor de 'Heartstopper'

Se por um lado Nick e Charlie estão passando por grandes desafios pessoais, por outro, eles também estão aprendendo juntos o que é estar em um relacionamento. A temporada tem muitas cenas de conversas honestas entre os dois rapazes, além de uma quantidade consideravelmente maior de beijos.

O primeiro episódio começa com Nick revelando para Charlie que se assumiu para sua mãe. Em seguida, vemos uma montagem de cenas dos dois garotos se beijando, rindo e brincando um com o outro em diversas situações.

Lyn revela que quase todas as cenas dessa primeira montagem foram improvisadas pelos atores Kit Connor e Joe Locke, que vivem Nick e Charlie, respectivamente. “Nós fomos inventado as cenas enquanto filmávamos. Se algo não funcionasse, a gente mudava”.

“Na cena em que Charlie bagunça o cabelo de Nick, nós não contamos para o Kit antes. Eu disse para Joe: ‘Mexe no cabelo dele’. Então Kit ficou genuinamente chocado quando aconteceu”, diz o diretor.

A questão é que Nick e Charlie são ótimos amigos, além de serem namorados. Então, nós queríamos passar um pouco da noção dessa amizade ao mesmo tempo em que se mostra a paixão entre eles.

Euros Lyn, diretor de 'Heartstopper

Para cenas como essas, a produção contou com um coordenador de intimidade, um profissional responsável por supervisionar cenas íntimas e garantir o conforto dos atores.

A função tem crescido exponencialmente em Hollywood e também no Brasil, e é usada até para séries como Heartstopper, em que as cenas de intimidade não contém sexo ou nudez.

“Ele trabalha comigo e com os atores. Conversamos sobre ‘isso é um beijo apaixonado? Isso é um beijo amigável? Isso é um beijo engraçado? Existe humor por trás disso?’ Nós analisamos o que é o beijo e então ele vai trabalhar com os atores de uma forma bem técnica”, explica Lyn.

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Joe Locke e Kit Connor em cena de 'Heartstopper'.  Foto: Netflix/Divulgação

Adaptação fiel

Para quem já era fã da produção, existia a expectativa de que a segunda temporada se mantivesse tão fiel ao produto original quanto foi a primeira. Até o momento, quatro volumes da graphic novel foram publicados e estão à venda no Brasil - a previsão é de que a história se encerre no sexto livro.

Apesar de acrescentar novas tramas e dar mais espaço para personagens coadjuvantes, os episódios continuam trazendo a essência do que foi apresentado nas HQs. “No meu roteiro, eu tenho as palavras em uma página e os quadrinhos de Alice em outra”, conta Lyn.

A razão para isso é clara: ele tenta manter o enquadramento das cenas da maneira como elas foram originalmente desenhadas. As comparações entre as cenas do seriado e as ilustrações dos quadrinhos já têm aparecido na internet. Veja exemplos:

“Quando o público que amou os livros nos vê replicar um quadro na tela, isso lhes dá essa alegria adicional de ver que essa coisa que eles tanto amam é representada fielmente”, afirma Lyn.

Heartstopper terá 3ª temporada?

A terceira temporada de Heartstopper já está a caminho - ela foi confirmada no ano passado, junto com a segunda, um testemunho de que a Netflix realmente deu um voto de confiança à produção.

Segundo Lyn, os próximos episódios ainda estão sendo escritos por Alice Oseman, o que significa que, à princípio, não foram afetados pela greve dos atores de Hollywood - assim como outros artistas, Joe Locke e Kit Connor não têm participado da divulgação da série a mando do sindicato. Os dois tinham uma entrevista confirmada com o Estadão, que foi cancelada logo que a greve começou.

Ao ser questionado sobre o assunto, Lyn não revela muito. “Nós todos estivemos super focados na segunda temporada”, diz. “Os roteiros [da terceira] são ultra secretos, mas sei que Alice tem planos ótimos e animadores”.

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*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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