Taylor Swift: fãs descrevem desespero com calor e água a R$ 8 em saquinho de 315ml; leia relatos

Jovem de 23 anos passou mal e morreu no estádio. Fãs falam de calor, água cara e difícil de encontrar e até ‘humilhação’ para pegar pedaços de papelão para se abanar. Organizadora da turnê lamentou morte, mas ainda não falou sobre críticas

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Foto do author Renata Okumura
Foto do author Rodrigo Ortega
Atualização:

Fãs que foram ao show da cantora Taylor Swift nessa sexta-feira, 17, no Rio, relataram nas redes sociais problemas com o calor, o veto à entrada de água e a falta de organização no Estádio Engenhão. Lá dentro, um copo ou em um saquinho de 315ml de água era vendido a R$ 8 cada. Mas a demanda era tão alta que alguns ambulantes passavam sem o produto.

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Uma jovem de 23 anos, Ana Clara Benevides, morreu após passar mal antes de a artista americana subir no palco. Taylor chegou a pedir a distribuição de água para a plateia, que estendia cartazes e gritava reclamando da desidratação.

Em meio ao calor “fora do comum”, uma das fãs que falou ao Estadão diz que quase desmaiou e viu cenas “humilhantes” como o desespero de fãs para pegar pedaços de papelão distribuídos para pessoas se abanarem. Ela tentou pegar o papelão, mas não conseguiu.

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Ana Clara Benevides, de 23 anos, passou mal antes do início do show Foto: Reprodução/@acbenevidesm

As equipes de atendimento tiveram de socorrer várias pessoas que passaram mal e até desmaiaram durante a noite. Nessa sexta, a sensação térmica no Rio ficou perto dos 60ºC e a cantora tem novas apresentações previstas para este sábado, 18, e este domingo, 19. A Tickets for Fun, que produz o show no Brasil, lamentou a morte de Ana Clara em nota, disse ter oferecido pronto atendimento, mas não se manifestou sobre as queixas.

Veja relatos ao Estadão:

Isadora Noronha Pereira, 21 anos:

“Na hora em que cheguei eu já não peguei o ápice do calor, pois só consegui chegar 17h. Já não tinha mais sol direto. Eu fiquei na pista premium, mas não consegui pegar a entrada antecipada. Eu peguei só o bafo e o mormaço. Depois que eu vi que a sensação térmica era 60 graus nas notícias, e não achei exagero, era isso mesmo. Era bizarro, todo mundo junto, suando muito. Nunca fui em nenhum show em que tivesse essa experiência, e já fui em Lollapalooza, The Town, mas esse estava fora do comum. A forma de lidar com o calor era se hidratar. Ali na pista tinham ambulantes vendendo refrigerante e água, mas acho que teve uma super falha: acabava a água. Teve uma hora, antes de começar o show de abertura da Sabrina Carpenter, nesse período já estava impossível ficar sem água, porque você ficava passando mal pela falta de hidratação, e os ambulantes passavam sem água, não passava mais ninguém para vender. Você falava: ‘passa aqui com a água’. E os ambulantes diziam que não tinha, acabou. Demorou muito tempo até eu consegui achar água ali na pista. E pista é um setor que naturalmente as pessoas naturalmente não saem para buscar as coisas. Era depender da água que passava ali do meu lado, e passou uns três ambulantes que estavam sem. Tinha muita gente precisando e demorou muito até trazerem. Depois que começaram os shows demorou muito tempo para começarem a levar água de graça. Até então estava tendo que comprar dos ambulantes, que pararam de passar. Eles começaram a distribuir os copos de água no show da Taylor, e eu associei que foi depois que ela pediu mesmo. Depois ela falou, parou o show umas três vezes, para falar de água, jogou garrafa. Dava para ver que as pessoas estavam mal. E demorou muito para eles fazerem essas rodadas de levar caixa de água e distribuir. Muita gente já tinha passado mal ali do meu lado antes disso. Foi realmente ruim, as pessoas estavam num calor enorme e demorou a assistência. Primeiro que não podia entrar com água. Todas as que eu comprei foram 8 reais, uma que era tipo um saquinho de plástico. Só consegui água em copo, não em saquinho, quando começaram a distribuir durante o show.”

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Saquinho de água era vendido a R$ 8 dentro do Engenhão durante show de Taylor Swift no Rio Foto: AP Foto/Natacha Pisarenko e Arquivo Pessoal / Isadora Noronha Pereira

Bruna Zanatta, 28 anos:

“Eu e minha amiga chegamos por volta das 17h, fomos de transporte público. Relativamente organizado, trens saindo direto da Central do Brasil para lá, com ar condicionado. E a única maneira de conseguir água, até então, era comprando dos ambulantes ou saindo preparada de casa, o que é normal. Tinha bastante ambulante dentro do trem. Quando chegamos, ainda tinha bastante fila para acessar as cadeiras e a pista. Muita gente ao redor para entrar. A gente entrou no setor inferior oeste. Chegamos, passamos pela revista e as garrafinhas de água que tínhamos comprado pelo caminho já não podiam entrar. Terminei de tomar minha água e joguei minha garrafinha por ali. O primeiro show era 18h30 e fomos direto sentar. Tinha bastante fila no banheiro, nas lojinhas ali do setor inferior. Fomos escolher um lugar para ficar, pois estava ficando bem cheio. Uma das entradas já estava lotada, fomos em outra e não tinha ninguém direcionando, ajudando, como costuma acontecer em outros shows, para mostrar onde tinha lugar. Tinha muita gente guardando lugar, e decidimos ficar nas escadas, em vez de tentar lugar, porque todos estavam marcados ou lotados. Tinha bastante gente de fora ao redor, como é o caso da menina que faleceu e não era do Rio. No transporte também dava para perceber bastante gente de fora. E essas pessoas com quem a gente conversou estavam lá desde 9, 10 da manhã. Tinha pipoca, Bob’s, empada, cachorro quente, essas coisas. E a água que passava ali para gente era dentro das opções de bebidas: cerveja, refrigerante e aqueles copinhos de água que custavam 8 reais. Então você imagina como era para as pessoas que estavam lá desde 9 da manhã e estavam pagando 8 reais a cada copinho de água para se hidratar o dia inteiro, não tem a menor condição, sendo que tiravam as garrafinhas na entrada. E vi bastante gente com leque, mesmo que não pudesse entrar nem com leque nem com guarda-chuva. Então, proteção zero contra o sol e o calor. Na pista eu vi que tinha algum ventilador daqueles que soltavam água, vi um só de onde eu estava, voltado ao pessoal do bar na pista. Aí começou o show à noite. No meu setor não vi pessoas passando mal. Na pista estava muito pior, porque era muita gente se aglomerando, todo mundo um em cima do outro. Foi ali que as pessoas passaram mais mal, pelo que eu entendi. A Taylor mesmo, na primeira intervenção dela, pediu para a organização mandar água para as pessoas, porque estavam pedindo e escrevendo mensagens no celular. Estava bem sério. Muita gente estava vestida com tecidos que não transpiram, tem também isso, as pessoas estavam indo montadas, faz parte da experiência de ir para o show. Acho que faltaram essas recomendações sobre o calor. No telão mostrou aquela coisa padrão de saída de emergência que não vi ninguém prestando muita atenção. Mas tinha muito que ter aviso sobre se hidratar, calor, mais gente falando e distribuindo água. Faltou muito um gerenciamento de risco do calor. Eu não vi que tinha sido tão grave até chegar em casa que muitas pessoas desmaiaram e que uma menina tinha morrido e eu estava nesse setor diferente. Depois que percebemos que estava bem grave para quem estava ali na pista mesmo. Não deixar entrar com água e cobrar 8 reais o copinho para se hidratar durante horas é bem difícil. Ficar ali naquele calor ao redor do estádio, que não tem árvore, um lugar bem quente, ão é brincadeira.”

Fernanda Almeida, 23 anos:

“Eu e minha irmã viemos de São Paulo porque o show do Rio foi o único para o qual achamos ingresso. Fomos na Pista VIP, e não foi uma experiência legal. A gente chegou e já estava bem quente, e como era VIP, tinha entrada antecipada, às 15h. A fila estava enorme e tivemos dificuldade para achar sinalização e funcionários. Super esquisito, não tinha grades, era uma fila em zigue zague. Mas conseguimos entrar e no começo foi tranquilo. O povo começou a chegar. Conseguimos ficar sentadas um tempo, mas teve um momento que não dava mais, o povo começou a ficar em pé, horas em pé. Eu já estava começando a passar mal, um calor absurdo. Depois eu vi o povo começar a distribuir água, eu vi umas pessoas passando mal e eles distribuindo água, conseguimos pegar umas duas, porque estava surreal. Cada água custava oito reais, e compramos também, não quero nem fazer a conta de quantas. Eles também estavam distribuindo papelão para se abanar. Foi humilhante, pedaço de papelão, a gente pedindo pelo amor de Deus para se abanar e não conseguimos. Várias pessoas em volta conseguiram, mas a gente não. E estava naquela muvuca, cabelos das pessoas grudando, insuportável, mas eu estava me esforçando pois minha irmã é bem fã e eu sabia que ela queria ver pelo menos o início do show da Taylor naquele miolo. Chegou no meio do show da Sabrina e eu comecei a passar mal, me sentir muito, muito mal. Comecei a sentir que a minha pressão estava muito baixa, que eu ia desmaiar, vomitar, alguma coisa. Senti que ia acontecer e falei com a minha irmã e falei: ‘Desculpa, mas eu preciso sair’. Comecei a me debater nas pessoas, mas foi a melhor coisa que a gente fez. Uma mulher até me ajudou, me deu água, pipoca, e eu fiquei mais tranquila. Quando começou o show da Taylor a gente ficou mais atrás, ainda estava muito calor, mas perto de lá da frente, muito melhor. Eu vi que na pista premium tinha um ventilador. Eu acho que tinha que ter também mais na pista comum, porque as pessoas estavam muito grudadas. A água distribuída não era muita, era de mão em mão, não era demais. A própria Taylor pediu para distribuir, ela mesma arremessou uma garrafa. A gente mesma saiu várias vezes para comprar, mas aquela coisa, oito reais. Faltou pensar que numa sensação térmica de 60 graus ninguém ia dar conta, a menina morreu e muita gente passou muito mal. Podia ter sido eu, se não tivesse saído daquela muvuca.’

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Relatos nas redes

No X (antigo Twitter), Bel Rodrigues relata ter precisado de atendimento médico depois de se sentir mal. “Tontura, visão embaçada, tremedeira e sensação de desmaio”, enumera, que só conseguiu assistir a uma parte do show. “É bobo, eu sei, mas quando você espera a vida toda por um show, se planeja e a fins, é muito frustrante não conseguir ter domínio do seu corpo”, acrescentou.

Também no X, Igor Paiva diz que houve problemas com a organização das filas e dificuldades de obter informações. Além disso, a ventilação no espaço estava prejudicada. “O Estádio Olímpico Nilton Santos possui em sua estrutura vãos e áreas para promover a circulação do ar nas arquibancadas e nas pistas. Todas elas estavam cobertas por tapume, o que prejudicou - e muito - a ventilação do ambiente”, escreveu.

Segundo os relatos, não havia bebedouros disponíveis para os fãs. A equipe da artistas chegou a distribuir água para fãs que estavam próximos à grade, conforme as publicações nas redes, e Taylor pediu mais de uma vez que fosse dada água para o público.

Os fãs citaram ainda a proibição a leques dentro do estádio. “Sem contar as arquibancadas LOTADAS e as pessoas ocupando todas as escadas. Impossível depois de uma certa hora ir no banheiro ou comprar água. Uma desorganização sem igual!!!”, escreveu Ju Louro.

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O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse ter determinado à Secretaria Nacional do Consumidor para editar normas e notificações emergenciais sobre o acesso à água em shows e outros espetáculos públicos. Também disse que vai adotar medidas de responsabilização relativas aos danos já causados.

Já na manhã deste sábado, foi criado um abaixo-assinado que reivindica a criação da Lei Ana Benevides, que prevê água gratuita em eventos.

A T4F, organizadora do evento, publicou comunicado informando que promoverá “fornecimento de água gratuita nas filas e em todos os acessos e entradas ao estádio e no seu interior”. Confira a íntegra abaixo:

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