Precisamos de uma nova temporada de Black Mirror? A resposta curta é: sim! A série antológica da Netflix chegou metendo o pé na porta em 2011. E o impacto foi tão grande que não só virou meme como ganhou ditado popular: ‘Isso é muito Black Mirror’.
Ela é conhecida por gerar desconforto. Por fazer pensar. E nestes tempos de crescentes experimentos com inteligência artificial, questionar o mundo é fundamental. Aquele alerta externo que levanta a guarda contra retrocessos sociais.
Tudo isso é muito comum em Black Mirror. Explícita ou subliminarmente. E foi assim que o lugar da produção na cultura pop foi mais que conquistado.
Por isso que, em 2020, os fãs receberam com frustração a notícia de não haver planos para uma nova temporada. Na ocasião, o criador Charlie Brooker disse a uma rádio britânica não ver clima para ‘histórias sobre sociedades desmoronando’.
O contexto era outro, porém. Nossa sociedade estava desmoronando. A pandemia de Covid-19 estava no começo, o que por si só já era muito Black Mirror. E muito do que aconteceu nesses últimos anos poderia facilmente ter saído de um roteiro da série.
Qual alarme Black Mirror vai tocar desta vez
Agora, no entanto, a antologia volta. A Netflix anunciou que em 15 de junho cinco novos episódios entram no ar. E as expectativas não poderiam estar mais altas.
Em Metalhead, o quinto episódio da quarta temporada, aparecem cães-robôs com a missão de destruir a humanidade. Isso foi há apenas seis anos, e agora eles já são realidade. Não necessariamente para matar os humanos, mas já há variações dos “bichos” para combate militar.
Da tela para a realidade
A espera por esta temporada está em descobrir quais novos alertas teremos. Os visionários do roteiro já previram muita coisa. Desde novas tecnologias até comportamentos sociais.
Na pandemia, programas de auditório adotaram plateias online. Já na primeira temporada, ‘Quinze Milhões de Méritos’ apresentava uma competição em que o público era composto de avatares virtuais.
E o que impede o ChatGPT de replicar a personalidade de um ente querido morto e conversar conosco? Ele já é capaz de emular o estilo de texto usado por alguém, desde que submetamos amostras para a inteligência artificial analisar. As deepfakes já reproduzem nossas vozes quase à perfeição.
Lembranças na caixinha de som
Ambas aplicações podem ser identificadas em ‘Volto Já’, primeiro episódio da segunda temporada. E estes são apenas alguns exemplos. Houve outros contos, alguns mais ou menos distópicos, com fortes bases ou traços de realidade.
Netflix precisa resgatar o bom status
Outro motivo por que uma nova temporada de Black Mirror é bem-vinda é a baixa qualidade das atuais produções da Netflix. A plataforma que criou, entre muitas, as excelentes Orange Is the New Black, Dark, Sense8 e House of Cards - com a ressalva do caráter de Kevin Spacey -, perdeu a mão.
Apelando muito mais para volume, o catálogo virou um amontoado de doramas e enlatadinhos fracos. Mas que dão audiência. Praticamente abandonando as superproduções - sejam de bons roteiros ou de alto custo.
O que sobrou foi Stranger Things, que está acabando, e The Witcher, que deve morrer sem Henry Cavill - alma do personagem principal. Há um salvamento aqui outro ali, como a perfeitinha Heartstopper, The Crown e Bridgerton? Sim. Mas está difícil justificar os preços de assinatura e a absurda nova taxa de ponto extra.
A Netflix precisa de Black Mirror para garantir o posto de produções relevantes. A promessa é grande. A plataforma vende a temporada como a “mais imprevisível até agora”. Charlie Brooker afirma que irá subverter deliberadamente suposições do que é ser muito Black Mirror.
“Além de alguns dos elementos narrativos mais familiares de Black Mirror, também temos alguns elementos novos, incluindo alguns que jurei anteriormente que a série nunca faria, para esticar os parâmetros do que é ‘um episódio de Black Mirror’. As histórias ainda são totalmente Black Mirror em termos de tom, mas com algumas reviravoltas malucas e mais variedade do que nunca”, diz ele em material de divulgação da série.
A ver!
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