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Opinião|Pérolas escondidas no streaming; descubra três filmes para assistir na Netflix e Prime Video

Suspense, drama, terror, fidelidade, casos de família ou tudo isso junto à distância de um clique: veja estas três joias garimpadas das profundezas dos serviços de streaming

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Foto do author Simião Castro

Às vezes a gente gasta mais tempo procurando o que assistir nas plataformas do que propriamente vendo um filme ou série. Por isso, esta lista traz três pérolas do cinema que estão escondidas na vastidão dos catálogos dos dois principais serviços de streaming: Netflix e Amazon Prime Video.

Curiosamente, e isso não foi mesmo proposital, todas elas têm um ou mais elementos que ultrapassam a superfície das aparências e permitem reflexões mais profundas sobre os temas que abordam. Veja a lista de joias garimpadas:

Com direção de Remi Weekes, Wunmi Mosaku e Sope Dirisu vivem um jovem casal de refugiados na Inglaterra após fugir da guerra no Sudão do Sul Foto: Aidan Monaghan/Netflix/Divulgação
  • O que ficou para trás (Netflix)

Esse é um drama de terror diferente, porque a entidade macabra que assombra as personagens representa muito mais que um mero espectro sinistro. A carga dramática que ela provoca é muito mais forte que os sustos.

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Na trama, Bol e Rial Majur formam um jovem casal sudanês refugiado na Inglaterra após fugir da guerra no país natal. Eles tentam recomeçar a vida na Europa, mas a casa onde passam a morar e a própria vida deles começa a ser atormentada por uma força sombria que habita o lugar.

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Acontece que o terror de verdade não vem das figuras medonhas ou das visões pavorosas. O que dá medo mesmo é entender que este é um filme que fala sobre a pressão de ser refugiado em outro país. Sendo obrigado a se adaptar a outros costumes, cultura, crenças.

Isso sem falar das cicatrizes da discriminação e da xenofobia, apresentadas supostamente de passagem, mas que permeiam todo o enredo. Dirigido por Remi Weekes e escrito por ele em parceria com outros roteiristas, o longa é uma reflexão sobre quais são os limites morais em situações extremas.

Importante apontar o talento de Wunmi Mosaku e Sope Dirisu, que dão vida - e angústia - brilhantemente ao casal protagonista. Vale menção também a presença de Matt Smith no elenco, que fez o Príncipe Philip nas duas primeiras temporadas de The Crown.

No final, a assombração maior vem dos fantasmas interiores e da dificuldade de lidar com eles. Aliás, de admitir que existem. Causados por todos os terrores enfrentados até chegar a essa nova terra. Pelos erros, acertos e escolhas de vida ou morte feitas no meio do caminho, impostas pela ingrata luta pela própria sobrevivência.

E, principalmente, pelo que foram forçados a deixar para trás no processo.

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  • Blow the man down (Prime Vídeo)

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Aparentemente, o título deste filme em português é Afunde o Navio, mas ele não aparece nos resultados de busca do Prime Video se procurar assim. Tem que ser o nome original em inglês, mesmo.

Essa dramédia, que não é exatamente engraçada - o que traz os traços cômicos é a mais ironia das coisas - conta a história de duas jovens irmãs que acabaram de perder a mãe, morta após uma longa doença. Ainda tomadas pelo luto e pelas frustrações da vida, uma delas comete um crime e a outra ajuda a acobertar.

O que deslancha a partir daí é apenas uma isca presa em uma rede muito maior sobre como realmente as coisas são comandadas no pequeno vilarejo de pescadores onde elas moram. Com lâminas afiadas, sangue e corpos por todos os lados.

Longe de ser uma trama policial, o filme vai revelando segredos sombrios do lugar, afogados durante anos a fio e tão bem guardados que só vêm à tona meio por vontade própria. Como bem disse Rose em Titanic, “o coração de uma mulher é um oceano profundo de segredos”. O cérebro, então…

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Inclusive, a perspectiva feminina adotada pela dupla de diretoras Bridget Savage Cole e Danielle Krudy é um dos grandes trunfos da produção. E isso vale para as protagonistas, as coadjuvantes e também o olhar dado à história.

Aliás, vale o destaque para as atuações de Sophie Lowe e Morgan Saylor, as irmãs. E também das veteranas que interpretam as senhoras meio fofoqueiras, meio controladoras que colorem o enredo. Ah! Fica a dica: jamais subestimar do que idosinhas são capazes.

  • Pixote, a lei do mais fraco (Netflix)

O clássico brasileiro de 1980, dirigido por Hector Babenco, é adição recente - e silenciosa - no catálogo da Netflix. O filme - que não romantiza a violência no Brasil à época, mas oferece uma visão crua, interna e humanizada do que provocava a criminalidade infantil - é um marco no cinema nacional e chegou ao streaming em 20 de novembro de 2023.

A estética realista, o elenco de não-atores e a repercussão internacional levaram Pixote à aclamação pela crítica e indicação ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Ele é considerado um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos pela Abraccine.

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A história, que retrata a vida de crianças de rua na São Paulo dos anos 80, abandonadas à própria sorte e à mercê de criminosos, denuncia a situação precária das entidades juvenis - onde os menores são vítimas de abusos, violações diversas e mortes -, chega ao streaming em uma cópia restaurada em 4k.

O resgate foi feito usando o negativo original da câmera e material de primeira geração preservado na Cinemateca Brasileira. A trilha sonora original também foi recuperada, restaurada e digitalizada. Vale demais o play.

Opinião por Simião Castro

Repórter de Cultura do Estadão

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