Finalmente a Netflix acertou a mão. One Piece é a mais nova série do catálogo e já chegou com o potencial de dominar o serviço de streaming. O live-action do mangá mais lido no mundo, de Eiichiro Oda, que já é anime há quase 25 anos, é grandioso em todos os melhores sentidos. Elenco certeiro, texto afinado, efeitos no lugar certo e personagens cativantes.
A trama épica de Monkey D. Luffy, o jovem sonhador aspirante a rei dos piratas, avança durante a busca dele por formar a própria tripulação. E ele não ter um navio não parece ser empecilho suficiente.
Aliás, nada é. A personagem surpreende pela ingenuidade misturada a uma sabedoria muito orgânica, que encanta muito rapidamente. Luffy vive numa lógica meio “não sabendo que era impossível, foi lá e fez”. E isso vale para as duas fases da história, tanto no presente jovem quanto no passado criança.
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Os planos de Luffy jamais são abalados nesse mundo de fantasia, onde o rapaz tem um corpo de borracha quase invencível. Ele pode se esticar para todos os lados sem se ferir. Enquanto interage com outras criaturas e espécies que vivem em harmonia. Ou algo próximo disso.
Neste caminho de pirataria, ele vai conhecendo e aglutinando figuras inesperadas de se associar: uma ladra, um inventor, um cozinheiro e, ironicamente, um habilidoso caçador e assassino de piratas.
Eles vão atrás do One Piece, o tesouro escondido de um pirata morto que todos querem encontrar. Principalmente Luffy. E, por isso, ele passa a ser perseguido não só pelas autoridades da Marinha, como vira inimigo automático de todos os outros grupos de piratas.
Matéria-prima para a Netflix trabalhar não falta. Só o anime já tem mais de mil episódios. A série animada estreou em 1999 no Japão, produzida pela Toei Animation - a mesma de sucessos absolutos como Dragon Ball, Os Cavaleiros do Zodíaco e Digimon.
A obra original já é um fenômeno, com milhões de fãs ao redor do mundo e mais de 500 mil cópias vendidas. Adaptações deste tipo para o formato live-action sempre levantam preocupação. E não raro terminam em desastre, a exemplo de Dragonball Evolution, Ghost in the Shell, Cowboy Bebop e Death Note - as duas últimas da própria Netflix.
Isso para não mencionar os remakes da Disney, que vem varrendo as antigas produções animadas e transformando em live-actions. Apesar de alguns acertos, exemplos como os de Pinóquio e O Rei Leão não convenceram muito. O estúdio pode aprender com a redenção da Netflix.
One Piece parece que veio como um tesouro para romper a maldição. A produção esteve rodeada de expectativa, especialmente pelo envolvimento próximo do criador Eiichiro Oda. Trouxe esperança aos fãs ele ser um dos produtores executivos da série e ter voz ativa no projeto.
A competente adaptação é fruto do showrunner e roteirista Steven Maeda, que escreveu a versão de carne e osso junto com Matt Owens. Uma confirmação de que quem criou costuma saber segurar a batuta da própria história.
Foi deste ponto de inicial que a equipe partiu para encontrar o elenco diverso e perfeito. Sem risco de exagerar no termo. As caracterizações e figurino estão brilhantes e as atuações em total sincronia com o mundo superlativo de One Piece.
Para não dizer que que tudo é positivo, a série sofre com o tendência geral das produções mais recentes do cinema e streaming: sequências noturnas muito escuras. Ver no celular em local muito iluminado ou com uma janela no fundo é impossível. E, embora a série funciona nas telas menores, a recomendação é procurar o maior telão possível para assistir.
Outra discrepância que fica perceptível é a mudança na direção do primeiro para o segundo episódio. O capítulo inicial tem close-ups belíssimos e uma estética de enquadramentos parecidos com o das HQs, o que cai um tanto na sequência.
Nenhuma palavra é desperdiçada nos diálogos. E os efeitos são usados de forma inteligente e bem acabada, para garantir que a mágica e bizarrice das personagens do desenho ganhem vida na tela.
Funcionou. As primeiras reações online não poderiam ser melhores. Na quinta-feira de estreia, o termo “One Piece” passou o dia quase todo no top 5 dos trending topics do Twitter. Na plataforma Rotten Tomatoes, a aprovação da série entre o público alcançou retumbantes 94%.
Mantendo o nível e sabendo aproveitar o hype, que já transbordou a fanbase do mangá e anime, One Piece pode virar a substituta perfeita para Stranger Things, que está próxima do fim. Talvez não no mesmo gênero, mas certamente em tamanho, público e crítica.
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