De longe, a tenda já impressiona. É impossível não visitar o Parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo, e não ficar curioso pela estrutura grandiosa montada ao lado da biblioteca. Trata-se da tenda que vai abrigar, entre esta sexta, 5, e o dia 6 de outubro, o novo espetáculo do Cirque du Soleil: Crystal.
Depois de uma curta temporada no Rio, a trupe canadense apresenta este que é o primeiro espetáculo no gelo de sua história.
Se o objetivo do Cirque du Soleil em quatro décadas de história sempre foi impressionar, Crystal, que une circo, teatro e patinação, vai além. Para se ter uma ideia, a tenda estacionada no Parque Villa-Lobos precisou vir de Dubai - não havia, em São Paulo, um ginásio que abrigasse a pista de gelo e a estrutura necessária para dar corpo ao show.
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Crystal leva o nome da protagonista, interpretada por quatro artistas diferentes. A moça é uma jovem criativa, mas incompreendida, que precisa se aventurar no gelo fino para se reencontrar. Em um mundo invertido, ela enxerga um reflexo de si mesma que a faz descobrir sua individualidade.
No palco, são 45 artistas de 23 nacionalidades. Nos bastidores, são 97 pessoas de 25 nacionalidades. Há também os funcionários locais, cerca de 250, que cuidam de, entre outras coisas, segurança, alimentação e bilheteria. “Nós temos uma pequena cidade aqui”, comenta o brasileiro Roberto Larroude, relações públicas do Cirque du Soleil, durante a visita do Estadão nesta quarta, 3.
A reportagem teve a oportunidade de visitar os bastidores, acompanhar os ensaios da equipe de Crystal e atestar que tudo o que ocorre na pista e atrás dela impressiona.
Uma cidade na metrópole
A tenda que chegou a São Paulo é a maior que o Cirque du Soleil já trouxe para o Brasil em toda a história - e a maior da companhia no mundo. Ao todo, são 6,3 mil metros quadrados, 20 metros de altura e cerca de 3,5 mil lugares.
Foram necessários 40 contêineres para trazer Crystal ao Brasil e a montagem da estrutura em São Paulo demorou mais de um mês. Segundo Roberto, a tenda enviada ao Brasil é usada apenas em ocasiões especiais - em outras cidades por onde o espetáculo já passou, incluindo o Rio, ele foi apresentado em ginásios, estádios e arenas.
Mas, afinal, o que há de tão especial e desafiador em Crystal? Gelo...
Foram cerca de três dias para que uma empresa contratada pelo Cirque construísse o palco. Atrás dele, há uma malha de canos que bombeiam constantemente um líquido especial que só congela a -70º C.
Apesar da grandiosidade da estrutura, o clima nos bastidores é intimista. Durante a visita do Estadão, artistas brincavam entre si, ensinavam uns aos outros o que exibem com profissionalismo no palco e malhavam na academia montada no local. É uma família que se desenvolve nas longas viagens ao redor do mundo - nesse meio tempo, até casais se formam entre os membros do grupo.
E é a tenda gigantesca que criará o mesmo sentimento de proximidade entre os artistas e a plateia. “Algumas das arenas por onde já passamos são estádios de esportes enormes. Então, aqui você vai ter um show muito mais íntimo, porque você está mais perto do que acontece no palco”, diz Dawn Wilson, diretora artística de Crystal.
Aprender a lidar com o gelo
Se Crystal é tão diferente dos outros espetáculos da companhia, os artistas e a preparação para lidar com tanto gelo também precisam ser versáteis. Patinadores foram contratados para fazer números no espetáculo e acrobatas tiveram de aprender a patinar.
O patinador artístico Michael Helgren, que já fez parte do Disney On Ice, enxerga em Crystal um “sonho se tornando realidade”. “Eu nunca pensei que faria parte do Cirque”, comenta o americano, dizendo que a equipe de artistas leva de duas a seis semanas para se preparar para subir ao palco.
Acostumado a ter apenas patinadores ao seu redor, a maior novidade, para Michael, é lidar com as acrobacias ao seu lado e as pessoas que flutuam acima de sua cabeça. “Em princípio, é um pouco assustador, mas agora se tornou algo natural e estou confortável com tudo o que acontece ao meu redor. Mas, definitivamente, leva tempo para se acostumar com isso”, brinca.
Dentre os artistas que flutuam acima da cabeça dos patinadores, está a acrobata australiana Elli Huber - durante a visita do Estadão, ela fez números impressionantes no trapézio. Elli não usa patins durante a apresentação - apenas um calçado adaptado para o gelo -, mas, mesmo assim, teve de aprender a patinar.
“Foi um novo desafio”, comenta ela, que diz que teve de se acostumar a fazer o trapézio acima de um palco todo branco. “Você não tem pontos de referência. [...] Levou um tempo para eu me acostumar e me localizar, mas tem sido realmente divertido e agora eu gosto disso. E eu não fico com calor quando estou lá em cima, é agradável”, brinca.
Apesar de tudo parecer perfeito no Cirque du Soleil, lidar com possíveis erros em uma apresentação ao vivo é o que a faz ser mais emocionante, segundo os artistas. “Nosso trabalho é tornar tudo o mais integrado possível e fazer parecer que o que está acontecendo no palco é para acontecer. Essa é a magia por trás da performance”, afirma Michael.
Para Elli, “se tudo está perfeito em 100% do tempo, não é real”. “Isso é o mais incrível da performance ao vivo e não na TV ou algo assim. Porque não somos robôs e é isso o que faz cada apresentação diferente, única e divertida”, diz.
Reações do público
O Estadão, que acompanhou o espetáculo integral em Frisco, no Texas, em fevereiro, assistiu ao ensaio de alguns dos números que estarão presentes no espetáculo. No palco, tudo é feito para surpreender: há até uma tecnologia que usa rastreadores nos figurinos para controlar 36 holofotes que acompanham os artistas. “O palco é criado à medida que o show vai acontecendo”, comenta Roberto Larroude.
Elli conta que há um trabalho intenso da equipe para alcançar um nível técnico que deixe o público empolgado. “O que é realmente especial para mim não é apenas impressionar as pessoas, mas fazer com que elas sintam algo, que sejam cativadas pela história”, diz a acrobata.
Dawn Wilson afirma que, apesar de demandar um trabalho extenso e uma organização rigorosa, a parte mais gratificante de fazer parte do Cirque du Soleil é, ao final de um espetáculo, ver a reação da plateia. “É muito estressante, mas a alegria no final é ver o público. Quando ouvimos esse público, é tipo...”, comenta ela, simulando um gesto de euforia com as mãos.
Criado por Shana Carroll e Sebastien Soldevila, Crystal mescla performances como trapézio, mãos-a-mãos, banquine, aros aéreos, malabarismo e equilíbrio de mãos. As sessões ocorrem de quarta a domingo e os ingressos variam de R$ 190 (meia entrada, Silver) a R$ 820 (inteira, Premium). É possível comprar online, com taxas, no site da Eventim, ou presencialmente, sem taxas, no Shopping Market Place e na bilheteria do Parque Villa-Lobos.
Cirque du Soleil: Crystal em São Paulo
- Local: Parque Villa-Lobos (Av. Queiroz Filho, 1.315 -Vila Leopoldina)
- Temporada: 5/7 a 6/10
- Sessões e horários: Quarta e quinta-feira, às 21h / Sexta-feira, às 16h e às 20h Sábado às 13h*, 17h e 21h Domingo, às 16h e às 20h *apenas em datas específicas
- Abertura do local: 1h antes do show
- Capacidade: 3.582 lugares
- Duração: 2h, incluindo 25 minutos de intervalo
- Classificação: Livre. Menores de 12 anos de idade somente acompanhados dos pais ou responsáveis legais. Sujeito a alteração por decisão Judicial.
- Acesso para deficientes: Acesso e assentos disponíveis.
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