Espetáculo “Square” transforma uma praça em representação da sociedade

A companhia holandesa Wunderbaum, atração do Festival de Curitiba, criou peça inspirada nas histórias da população da cidade

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Por Dirceu Alves Jr.

De um lado, o prédio da Universidade Federal do Paraná. De outro, o Teatro Guaíra, um dos maiores do Brasil, com 2,1 mil lugares. Restaurantes e lojas de comércio popular, um hotel e a sede dos Correios e Telégrafos completam o entorno da Praça Santos Andrade, na região central de Curitiba, com seu intenso fluxo de transeuntes, carros e ônibus. Este foi o cenário que serviu de inspiração para a companhia holandesa Wunderbaum criar Square, espetáculo apresentado entre a quinta, 30, e o sábado, 1º, no 31º Festival de Teatro de Curitiba.

Cena da peça Square, da companhia holandesa Wunderbaum, atração do Festival de Curitiba. A montagem é única para cada lugar onde é apresentada Foto: Daniel Sorrentino

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Fundado há 22 anos, o coletivo sediado em Roterdã concebe seus trabalhos com base nos lugares em que vão se apresentar e na vivência dos habitantes locais. Capitaneada por seis artistas holandeses, Walter Bart, Wine Dierickx, Matijs Jansen, Maartje Remmers, Marleen Scholten e Maarten van Otterdijk, a trupe conta em seu elenco com dois brasileiros, os atores cariocas Monique Vaillé e Pedro Uchoa, colaboradores há seis anos. O repertório é formado por peças únicas que só existem naquele determinado território e recomeçam do zero no próximo palco - seja a rua ou um teatro convencional. Quando Square estrear em Roterdã, em setembro, por exemplo, será outro espetáculo, apoiado nas informações de uma nova praça.

Monique e Uchoa chegaram a Curitiba em fevereiro para realizar entrevistas e escolher o elenco de apoio recrutado em cada cidade. Dos duzentos inscritos, trinta pessoas, entre 20 e 62 anos, de estudantes a aposentados, foram peneiradas. Em comum, todas tinham uma narrativa envolvendo a Praça Santos Andrade. “Encontramos certa dificuldade para garantir uma representatividade, contemplando todas as raças, gêneros e perfis, mas acredito que conseguimos uma boa seleção”, diz Monique. “Talvez essa diversidade nem seja a representação de Curitiba, mas certamente é a do Brasil.”

Entre as histórias está do jovem que acompanhou o irmão, calouro de medicina, em seu primeiro dia de aula e a da mulher que observava regularmente uma outra alimentando os pombos e, um dia, elas começaram a namorar. Existem aqueles que contemplavam o sol nascer nos bancos da Santos Andrade depois da balada e outros que relembram do local como ponto de manifestações políticas desde a década de 1980. “Para falar de um território precisamos ter gente local, senão fica uma visão estrangeira que por mais que pesquisemos nunca vamos conseguir nos igualar aos que têm a vivência”, explica Monique.

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Cena da peça Square, da companhia holandesa Wunderbaum, atração do Festival de Curitiba e que estreará em setembro, em Roterdã Foto: Daniel Sorrentino

A atriz, que se juntou a Wunderbaum depois de participar de uma oficina no Rio de Janeiro em 2016, diz que o tema atual se justifica pelas praças representarem lugares democráticos e de fácil sociabilização. “Todas as bolhas se encontram e podem conviver em relativa harmonia nesta grande celebração do caos que é viver em sociedade”, afirma Monique. A plateia, acomodada na escadaria da universidade, acompanha tudo através de fones de ouvido, e o espetáculo se consuma quando, em meio à movimentação natural, o público começa a se confundir em relação a quem é artista ou mero transeunte.

Esta é a segunda passagem do grupo pelo Festival de Curitiba. Em 2018, eles apresentaram no Sesc da Esquina a montagem Let’s do it Ourselves (Vamos Fazer nós Mesmos), que instigava o público a tomar a iniciativa das ações sociais e não esperar apenas pelo governo. Os bastidores da preparação de Square geraram um documentário que será lançado em julho e, para uma nova visita ao Brasil, quem sabe em 2024, a Wunderbaum sonha passar pela primeira vez por São Paulo. Uma nova versão de Square seria criada sob a inspiração de praças míticas, como a ou a República. “É uma vontade que temos há tempos, mas trata-se de uma equipe grande que vem da Europa e mais as pessoas selecionadas na cidade, todo mundo recebe cachê, ninguém trabalha de graça”, avisa Monique.

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