Nascido e criado na Cidade de Deus, favela da zona oeste do Rio de Janeiro, Jonathan Batista, de 30 anos, foi nomeado, em agosto deste ano, o primeiro bailarino do Pacífico Northwest Ballet, tradicional companhia dos Estados Unidos, com mais de 50 anos de fundação. O brasileiro é o primeiro negro a ocupar o posto, e pretende com sua arte ampliar o debate racial e ser referência.
“A principal dificuldade do qual eu passei na minha carreira era de não ter representatividade negra no balé. Eu sempre ouvia: ‘nossa você é muito talentoso’, porém sempre tinha uma resistência ao meu talento”, conta o artista, que tem 10 anos de carreira. “No início, não havia essa visão de diversidade na dança como hoje. Meu esforço é para que todos possam entender que é possível celebrar outras culturas dentro do balé.”
Alcançar o posto mais importante de uma das cinco principais companhias de balé foi fruto de muito esforço e dedicação, como aponta Jonathan. Por morar em uma região com altos índices de criminalidade, os pais de Jonathan o matricularam em várias atividades extracurriculares, a fim de protegê-lo da violência, como ele próprio afirma. Um destes cursos foi o Projeto Unicom, iniciativa da professora Viviane Carvalhal que ministrava aulas de balé e jazz para crianças.
Foi neste espaço que Jonathan, então aos 7 anos, deu os primeiros saltos e pliés para a realização de seu sonho. Único menino da turma, ele enfrentou o preconceito de gênero, além do racial. “Não foi fácil, principalmente no começo, mas sou feliz por levar com autenticidade a minha masculinidade aos palcos. Hoje, as coisas estão melhores, muitos meninos estão encontrando na dança uma possibilidade de mudar, transformar suas vidas e histórias.”
Depois de quatro anos no projeto, Jonathan foi para a Escola de Dança Alice Arja, no bairro da Taquara, de onde saiu para fazer um curso de três anos no English National Ballet, em Londres.
“Repentinamente eu me vi na Inglaterra, e lá foi que eu abri meus horizontes. Vi pela primeira vez um bailarino negro, e aí pude entender o poder da representatividade, porque também me vi no palco”, conta o bailarino. Após esta formação, ele passou por outras seis companhias nos Estados Unidos e Canadá.
Atualmente, mesmo estando no cargo mais destacado de uma conceituada companhia de balé, Jonathan tem mais ambições profissionais. A principal delas é que sua história profissional se torne inspiração para crianças negras.
“Eu rompi barreiras. Um homem negro retinto no balé clássico, podendo estar no papel de príncipe no Lago dos Cisnes, Cinderella ou Bela Adormecida é impactante. É possível ter um príncipe negro, e eu sou a prova disso. Uma criança, ao assistir a um espetáculo desses, pode se sentir motivada a trilhar seus sonhos.”
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