Musical ‘Elvis’ tem estreia de galã, Miguel Falabella na direção e Luiz Fernando Guimarães no elenco

Produção com Leandro Lima retrata a carreira e as tempestades cerebrais do astro do rock e sua relação com o Coronel, o empresário que jamais o deixou sair dos Estados Unidos; ‘Elvis: A Musical Revolution’ fica em cartaz até dezembro em São Paulo

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Foto do author Danilo Casaletti
Atualização:

Ao ser chamado para dirigir Elvis: A Musical Revolution, espetáculo que estreia nesta quinta-feira, 1º, no Teatro Santander, em São Paulo, Miguel Falabella usou como ponto de partida para seu processo criativo o figurino de uma showgirl - figura que lhe fascina e que ele traz tatuada no braço esquerdo. No entanto, havia um problema: no texto original de Sean Cercone e David Abbinanti a história de Elvis Presley (1935-1977) ia apenas até o lendário concerto de 1968 para a NBC, aquele em que o cantor apareceu de macacão preto.

Para ter as showgirls no palco, Falabella precisava, então, avançar no tempo e chegar ao período em que o rei do rock foi o astro de Las Vegas - uma terceira e derradeira fase da vida do cantor, marcada por sua mudança física, roupas extravagantes e um tanto de gravações sensacionais. “Eles toparam”, diz o diretor ao Estadão. A seu favor, o fato de já ter impressionado os produtores americanos ao dar um toque pessoal no musical Donna Summer (2021/2022). “Em Vegas, Elvis foi um passarinho preso em uma gaiola dourada”, afirma Falabella.

Leandro Lima, cercado de showgirls, no musical 'Elvis' Foto: Taba Benedicto/Estadão

E, sim, em Elvis: A Musical Revolution há muitas dançarinas com figurinos deslumbrantes. Não apenas para compor as cenas ou preencher o imenso palco do Teatro Santander. Elas são fundamentais em momentos dramáticos da vida do astro. Um deles abre o espetáculo: Elvis, em Vegas, já com seu figurino branco bordado com pedrarias, tem o que Falabella define como uma “bad trip” e hesita em subir ao palco para dar seu concerto daquela noite.

Para implementar as mudanças que julgou necessárias, Falabella não alterou o texto original. Apenas reorganizou as cenas. Pediu que o menino Elvis fosse substituído por um jovem Elvis. O encontro do astro jovem com o cantor adulto - um clássico dos musicais - ficou mais “interessante”, segundo o diretor.

A Dercy (Gonçalves) dizia que teatro é sexo. O ator tem que ter sexo em cena!

Miguel Falabella

No mais, Elvis - interpretado pelo ator Leandro Lima, com Daniel Haidar como alternante - segue o mesmo: o cara que colou os ouvidos nas vozes de artistas negros americanos como Sister Rosetta (Letícia Nascimento, em performance deslumbrante) e Roy Brown (Rupa Figueira) e revolucionou a música mundial. Não apenas como cantor, mas como um performer. Sobre isso, lhe pesa a acusação de apropriação cultural, tema que o musical não debate.

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Daniel Haidar reveza com Leandro Lima a função de viver Elvis em algumas sessões Foto: Taba Benedicto/Estadão

“Elvis mudou o mundo. Libertou os homens, a pélvis. Nas audições, buscamos bailarinos e atores que tivessem flexibilidade e sexualidade em cena. A Dercy (Gonçalves) dizia que teatro é sexo. O ator tem que ter sexo em cena!”, diz Falabella.

Lima foi apresentado a Falabella por um amigo em comum, já como um candidato a Elvis. O diretor encarou a indicação com certo preconceito, confessa. O ator, conhecido pelo grande público por seus personagens nas novelas Pantanal e Terra e Paixão, foi modelo. “Não vejo mais televisão. O Leandro é de uma geração que não é mais a minha. Vi as fotos e o achei lindo. Mas eu pensei: ‘um modelo?’ Quando ele entrou na audição e começou a cantar...”, conta o diretor.

Barítono - ou baritonão [o cantor que pode usar mais ainda os graves] - como Elvis, Lima, 42 anos, é estreante em musicais. Seu começo de carreira, ainda na juventude, foi como cantor em João Pessoa, na Paraíba, onde nasceu. A profissão de modelo internacional veio depois, assim como a de ator. Além de Falabella, ele já havia impressionado Jô Soares (1938-2022), que o escolheu para o elenco da peça Gaslight - Uma Relação Tóxica (2022), último projeto do apresentador.

Posso te dizer algo seguramente: tem muita gente da televisão que não conseguiria fazer esse musical

Leandro Lima

“Está tudo no tempo certo. Posso ser o galã agora, a ‘carne fresca’ com 40 anos”, diz Lima. Eximindo-se de talentos especiais, ele diz que encarar o Elvis em um musical grandioso não é para qualquer um. “Posso te dizer algo seguramente: tem muita gente da televisão que não conseguiria fazer esse musical. É bastante diferente do teatro de prosa, quando levantamentos da mesa com o espetáculo quase pronto. Aqui tudo tem contagem [de tempo], é quase esquizofrênico”, diz Lima. O ator confessa experimentar uma disciplina que nunca teve na vida.

Conhecido por papeis na TV, Leandro Lima faz sua estreia em musicais Foto: Taba Benedicto/Estadão

Lima define Elvis como um grande “canastrão” [ele faz algumas caras do astro]. “Ele inaugurou a canastrice. Adoro isso”, diz. O ator, que esteve em Graceland recentemente - a terra encantada de Elvis -, disse que buscou - além de dominar os drives da voz do cantor - o humano de seu biografado. “Os maneirismos dele já estão muito explícitos. Mas é o humano que traz o resto. Fizemos uma sessão de terapia do Elvis. Busquei a antropofisiologia vocal dele”.

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Personagem tão fascinante quando Elvis é o Coronel Tom Parker, o empresário do cantor. Foi ele que impediu que Elvis saísse da América, por medo, talvez, de perder o controle de seu pupilo ou, como conta a história, por não ser um cidadão americano - Parker nasceu na Holanda e entrou ilegalmente nos Estados Unidos no final da década de 1920.

No musical, Parker é interpretado pelo ator Luiz Fernando Guimarães, especialmente convidado por Falabella. “Aceitei na hora. Foi intuitivo. Ainda mais para fazer um papel que Tom Hanks já fez. Adoro o Tom Hanks”, diz Guimarães. É a primeira vez que os amigos de mais de 40 anos trabalham juntos.

Luiz Fernando Guimarães e Miguel Falabella trabalham pela primeira vez juntos no teatro Foto: Taba Benedicto/Estadão

Guimarães cita Hanks por conta do filme Elvis (2022), do diretor Baz Luhrmann, no qual o ator americano brilhou como um Coronel que, além de ódio pelo poder que exerce em Elvis, desperta quase dó por ser igualmente dependente de sua criatura.

“Fui pelo mesmo caminho. O público tem que ter sentimentos variados. Essa coisa do dó, de ter ódio, gostar ou não gostar, faz parte de um teatro vivo”, diz o ator.

Para o Coronel, Elvis era o menino que nunca cresceu

Luiz Fernando Guimarães

Guimarães confessa já ter cruzado com agentes parecidos com Coronel ao longo da carreira. “As pessoas que cuidam de carreiras são assim. Querem o bem do artista - e também sua cota, claro. Para o Coronel, Elvis era o menino que nunca cresceu”.

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Para simbolizar essa multiplicidade de sentimentos e a tempestade cerebral que acomete Elvis em vários momentos do musical, Falabella se lembrou da xilogravura Relatividade, do artista holandês Mauritz Cornelis Escher. O resultado foi um cenário gigantesco criado por Natália Lana, com mais de 200 degraus, com escadas que parecem flutuar na cabeça do elenco e não dão em lugar nenhum. Uma metáfora do cérebro humano, para o diretor.

Pela grandiosidade da produção - as caixas de som do Teatro Santander foram mudadas de local para que o cenário ocupasse integralmente a boca de cena do palco - Elvis: A Musical Revolution será apresentado apenas em São Paulo, em uma temporada que vai até dezembro.

Cerca de 25 mil ingressos foram vendidos desde que as vendas foram abertas, em 8 de janeiro, dia do aniversário de Elvis. “Não é todo o espetáculo que ficamos satisfeitos. Nesse, por acaso, eu estou”, avalia Falabella.

Serviço:

  • Elvis: A Musical Revolution
  • De 1º/8 a 1º/12
  • Teatro Santander - Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041, Itaim Bibi
  • Quintas, 20h; sextas, 20h; sábados, 16h e 20h; domingos, 16h e 20h
  • R$ 39/R$ 380
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