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Thiago Lacerda revela técnica para não esquecer as 7.983 palavras da peça ‘A Peste’, de Camus

Ator reflete sobre as pragas que passaram e que virão em conversa com o ‘Estadão’; ele vive Dr. Bernard Rieux no teatro, na capital paulista; veja vídeo

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Foto do author Paula Bonelli

Em cartaz com a peça A Peste, Thiago Lacerda, de 46 anos, ensaiou por quatro meses o espetáculo. Mesmo assim, ele repete diariamente as falas com receio de algum trecho não estar na ponta da língua. Baseado no livro de Albert Camus, com adaptação e direção de Ron Daniels, o monólogo tem 7.983 palavras. “Eu sempre tenho a sensação de corda bamba, de que não sei o texto quando chego no teatro. É muito emocionante”, afirma.

Thiago Lacerda na peça 'A Peste' Foto: Mônica Côrtes/Divulgação

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“Esse exercício diário com a peça para mim é muito importante. Não só com essa obra, mas também folheio outros livros de Camus. Isso me mantém muito conectado com o que eu espero do texto”, completa.

Com trajetória nas telenovelas, o ex-global tem se apresentado com casa cheia no Sesc Santana, em interpretação energética, e recebido boas críticas do público. Até o dia 10 de novembro, ele está na pele do doutor Bernard Rieux, que conta como a pequena cidade de Orã, na Argélia, luta para sobreviver ao terrível e devastador flagelo da peste.

Como surgiu o projeto teatral

O ator, que já tinha feito Calígula, outra peça do mesmo autor, conta como a vontade de encenar A Peste surgiu na época da pandemia de covid-19: “Toda aquela circunstância de praga me fez voltar ao Camus. O Ron Daniels começou a ler o texto. Estávamos em contato online e, a partir desse momento, achamos que a peça era urgente. Decidimos inicialmente preparar a adaptação para o formato online, mas não aconteceu. Entendemos que, quando aquilo tudo passasse, teríamos condição de trazer para o palco, e têm sido semanas lindas em São Paulo”.

Refletindo sobre as pragas que passaram e as que virão, o espetáculo é uma metáfora direta à ascensão do autoritarismo e da violência na Europa dos anos 30. “A gente não pode esquecer que o bacilo da peste não morre, nem desaparece nunca. Ele fica aguardando um momento no qual a imunidade do organismo cai para ter coragem de mandar seus ratos morrerem à luz do sol. Isso serve para peste e para política também. Os ratos estão sempre à espreita”, diz Lacerda fazendo as feições de seu personagem.

“O livro narra a evolução da peste bubônica e isso serve de metáfora para o avanço da violência, da estupidez e da ignorância, que o Brasil experimentou. Nós vivemos essa metáfora e todo esse contexto com a covid-19”, diz Lacerda.

“E acima de tudo, é um grito de investigação sobre a nossa natureza, como o homem se comporta diante do horror e os caminhos que ele encontra a partir da resiliência e da solidariedade.”

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Acredito na manutenção dessa tradição. Ela é essencial para a gente exercitar a conexão que o teatro propõe com o humano. É uma arte tão antiga que chega a ser revolucionária

Sobre o teatro ser arte uma antiga, Lacerda defende: “Acredito na manutenção dessa tradição. Ela é essencial para a gente exercitar a conexão que o teatro propõe com o humano e se a gente pensar em tempos de século 21, em 2024, a nossa vida tem uma velocidade e uma interatividade para além do humano. Então, é uma arte tão antiga que chega a ser revolucionária”.

Levar a peça para mais pessoas

Lacerda está empenhado em levar o espetáculo A Peste para mais pessoas, além das grandes capitais. Ele “quer entrar em cidades do interior do Brasil” e “passear com Camus por aí”. No streaming, o ex-global poderá ser visto em breve na minissérie sobre o assassinato de Ângela Diniz, na HBO. A socialite foi morta com quatro tiros numa casa na Praia dos Ossos, em Búzios, por seu então namorado Doca Street.

Ator quer retomar a natação

Lacerda não sente medo de adoecer. Confia bastante na sua saúde, mas tem se cobrado menos: “Eu tô bastante alijado de mim e nessa inquietação de retomar os meus cuidados. Eu fui atleta a vida inteira, né? E de uns tempos para cá, me dei uma certa folga da disciplina do cuidado pessoal. Quem sabe eu volto a nadar. Vamos ver. Tô interessado na piscina de novo.”

Além disso, ele não gosta muito de festas e eventos sociais. Considera-se uma pessoa caseira, e isso foi intensificado pela pandemia. Quando não está trabalhando, ele conta que gosta de ir à praia, ter conversas com os filhos e ler livros na varanda de casa. No momento, não está lendo nenhuma obra nova. Para não esquecer a peça, sua técnica é voltar ao texto todos os dias. Repete as palavras e mantém-se conectado ao monólogo e a outros livros de Camus. Confira o vídeo da entrevista:


Serviço

  • Quando: Até 10/11. Quinta a sábado, às 20h. Domingo e feriado, às 18h
  • Onde: Sesc Santana - a – Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd. São Paulo
  • Quanto: R$ 70,00 (inteira), R$ 35,00 (meia) R$ 21,00 (credencial plena)
O espetáculo tem 1h20 de duração Foto: Mônica Côrtes/Divulgação
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