É a sétima vez que o diretor artístico da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo conversa com o Estado por telefone para falar de mais uma edição do principal festival do gênero no País. Diante da repetição anual, não é difícil imaginar que o projeto teve a chance de amadurecer e aprimorar suas fragilidades. “A falta de planejamento pode matar a MITsp”, afirma Antonio Araújo.
Com programação anunciada nesta terça, 4, a mostra reúne, entre os dias 5 e 15 de março, doze produções internacionais, uma mostra nacional, além de atividades de formação, oficinas e debates e a estreia de mostra off. “Seria ideal planejar com um ano de antecedência. Outros festivais na América Latina conseguem se viabilizar com mais tempo. É preciso acabar com a cultura do último minuto”, ressalta o diretor.
E não é preciso comparar a MITsp com modelos europeus. Araújo explica que, na cena latino-americana, os principais festivais já conseguem funcionar com dois, três anos de planejamento, que inclui provisão de recursos. "No Chile, o Santiago a Mil já teve cinco anos para planejar suas edições, o FIBA, em Buenos Aires, três anos. Aqui, no Brasil, em janeiro estávamos definindo algumas coisas da programação. Um dos entraves é o repasse de recurso pelos parceiros. É preciso acabar com a cultura do último minuto", ressalta.
Entre os destaques da programação, o encenador português Tiago Rodrigues participa com dois espetáculos. By Heart e Sopro. “São obras que usam a memória como força, na superação de opressões políticas e sociais”, conta Araújo. Em Sopro, o diretor utiliza o recurso de ponto eletrônico, ainda utilizado em Portugal, como uma homenagem ao teatro. “Ele tira do bastidor e traz para o centro da cena. No palco, uma atriz ‘sopra’ o texto no sentido de reavivar a memória.”
Há também produções mais radicais, que não “contam historinhas”, definidas por Araújo como “ame-as ou deixa-as”. O espetáculo Farm Fatale, do francês Philippe Quesne, representa um movimento da curadoria que deixa o tom documental das edições anteriores para uma aposta mais contemporânea. Na peça, os humanos não existem mais e só restou no mundo um grupo de espantalhos. “A peça traz uma hiper-realidade, com vozes distorcidas, atores mascarados e um humor meio patético. Mas há também um profundo compromisso em debater questões ambientais”, explica Araújo.
Em sua terceira edição, a plataforma MITbr traz um panorama da produção nacional de artes cênicas. São doze espetáculos de Fortaleza, Paraná, Piauí, Amazonas, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Minas. Muitos inéditos na cidade.
A sétima edição de MITsp também estreia uma programação off chamada FarOFFa - Circuito Paralelo de Artes Cênicas, com 30 espetáculos nacionais em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade, Pequeno Ato e Espaço 28, durante todo o período da Mostra.
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7ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. 5 a 15 de março. vários lugares. Mais informações, no site https://mitsp.org