Reinaugurado, o Sesc Paulista anuncia corpo-arte-tecnologia como o tripé que sustentará a sua atuação. Na maratona de programação, que vai até hoje, 1º, a presença da dança está consistente e parece apontar certa relevância da área neste novo momento. Há que aguardar para confirmar a impressão.
Anátema 01, estreia do grupo Cena 11, que será reapresentada hoje, 1º, atualiza a discussão ‘arte e tecnologia’ para 2018, desligando-a das noções de tecnologia dos anos 1990, que ainda circulam. No trabalho, os “objetos tecnológicos”, já tão popularizados (projeções, eletrodos, telas em geral), não mais precisam ser protagonistas, e dão lugar ao corpo, que expõe o ambiente do qual já é parte constitutiva e constituída, sem escape.
São corpos que estão isolados em universos individuais, mas, ao mesmo tempo, obedecem a uma mesma maldição-instrução, que instaura uma agonia compositiva - manifesta no modo violento como se movem, na luz piscante que desnorteia o olhar e na sonoridade aguda e cortante que agride os ouvidos.
O ambiente é enviesado pela força ‘hipnótica’ do direcionamento dos olhos dos bailarinos. Não são raras as vezes em que o público passa a olhar na direção em que os dançarinos olham e não mais para quem olha, o onde a dança acontece. Em tempos de redes sociais, é possível enxergar quem olha e, principalmente, o porquê do direcionamento do olhar, antes de optar por um sentido da visão?
++ Tecnologia propõe nova relação com espectador no teatro
O controle dos corpos vai se tornando evidente no trabalho e, no limite, aproxima a tecnologia de um aspecto reptílico do humano – individualista, reativo e violento. Não por acaso, em meio a um dia de celebração, a agonia estendida de Anátoma 01 constrangeu os aplausos, que demoraram para acontecer no final. Em contradição com o ritmo festivo, o Cena 11 faz lembrar, com certa crueza, que talvez haja pouco a celebrar e muito a ser refletido, hoje, na nossa condição.
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