Em 2013, Iarlei Rangel e Rani Guerra ensaiavam na sala de casa quando perceberam que eram observados. Não se intimidaram. No mesmo cômodo, montaram a peça Esparrama pela Janela que transformou a abertura na parede em palco e o asfalto do Elevado Costa e Silva, em plateia. Visto por mais de 7 mil pessoas, o grupo foi selecionado para o programa Rumos Itaú Cultural e criou o projeto Janelas do Minhocão.
Entre as ações da empreitada, destaca-se o Esparrama Amigos pela Janela, programa que prevê a exibição, no mesmo local, de uma companhia diferente a cada domingo, às 16 h , até o dia 8/3 (exceto 15/2). A estreia ocorreu semana passada, com a Cia. Noz de Teatro, Dança e Animação e reuniu cerca de 150 pessoas - que não se importaram muito com a chuva.
“É o momento de diversificar a linguagem e apresentar novas possibilidades de ocupação do espaço público. É também nossa chance de ver como plateia e de pensar na montagem que estamos preparando para junho”, explica o diretor Iarlei Rangel.
Hoje, 8, o convidado será o grupo de dança Zumb.boys, com a performance Dança por Correio em: A Casa do Carteiro. “É um trabalho projetado para espaços alternativos. Cada um requer uma dinâmica”, diz o diretor Márcio Greyk. Na intervenção original, realizada em ruas e praças, seis atores com figurino de carteiro abordam as pessoas e oferecem um leque de cartas coloridas. Para cada carta escolhida ocorre a apresentação de uma mensagem. No viaduto, entretanto, a adaptação promete surpresas.
Antes e depois de cada exibição, a fotógrafa Sissy Eiko distribui postais e convida a plateia a refletir sobre ‘O Que Você Esparramaria na Janela?’ As respostas podem ser compartilhadas pela hashtag #conectandojanelas.
Apesar do sucesso da janela, transformá-la em palco não foi tão simples. “Havia uma empatia com o público. Percebemos que a distância de uns dez metros entre a janela e o viaduto não era muita, mas tivemos que fazer um estudo detalhado para viabilizar a ideia”, explica Rangel, que recebeu apenas 30 pessoas na primeira exibição - e 450 na última, no ano passado.
Começava assim uma pesquisa de voz, corpo e figurino. Os integrantes perceberam que o microfone era dispensável, bastava se expressar de forma direta, com a voz mais dilatada. Já o teste com as cores indicaram que o azul chamava mais atenção e as nuances foram usadas na roupa da princesa e na janela cenográfica - instalada propositalmente durante o espetáculo. No período de estudo, os integrantes se revezavam entre a janela e o viaduto.
Porém, em pouco tempo, o trabalho tomou conta da área, atraiu a curiosidade de visitantes de outros bairros e a atenção dos vizinhos. A vizinha debaixo do apartamento dos atores é a síndica do prédio e, por vezes, o marido dela sai na janela para conversar com a plateia, antes da peça. Outro dia, segundo Rangel, uma família que buscava um apartamento na região alugou uma unidade do outro lado da via, só para ficar de frente para o palco. Nasceu uma amizade e os inquilinos até ofereceram o local para fixar o tripé que faria as novas fotos da janela azul.
Em pleno Minhocão, a atração não tem endereço preciso, mas basta seguir as setas. Elas estão fixadas em muretas, dos dois lados das alças de acesso do metrô Santa Cecília e Rua da Consolação. Há explicações divertidas do tipo “conte 17 prédios”, “faltam apenas 300 passos para chegar à janela”. Não há erro. A pioneira Esparrama pela Janela estará de volta dia 15/3.
PROGRAMAÇÃO'O Herói Torto' Intervenção circense de Ronaldo Aguiar. Dia 22/2, às 16 h 'Caos Rotina e Pasmasseira' Intervenção musical de Ester Freire. Dia 1º/3, às 16 h 'Ruberia Fantástica' Artes plásticas e música, com Raul Zito. Dia 8/3, às 16 h 'Conectando Janelas' Intervenção colaborativa, com Sissy Eiko. Todos os domingos, até 8/3 'Esparrama pela Janela' Grupo Esparrama. De 15 e 23/3, às 16 hDANÇA POR CORREIO EM: A CASA DO CARTEIRO Elevado Costa e Silva. Entre alças de acesso à R. da Consolação e metrô Santa Cecília. Hoje, 16 h. Grátis
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