Celeiro de produções recentes e bem aceitas pelo público e pela crítica – como Cais ou Da Indiferença das Embarcações e Gotas d’Água sobre Pedras Escaldantes -, o Instituto Cultural Capobianco abre suas portas a partir desta terça-feira, 9, para peças em processo de escrita. O projeto Terceira Margem III traz leituras encenadas de oito textos inéditos, cada um de um dramaturgo diferente.
Os experimentos do instituto com dramaturgia existem há cerca de três anos, quando a diretora artística Fernanda Capobianco começou a promover ciclos de leitura, nos quais os autores liam seus textos e discutiam com o público presente. “Comecei a perceber essa necessidade”, diz Fernanda. “Os dramaturgos escrevem isolados em suas casas e precisam ver o texto montado, e o público passa a ter uma noção maior de como é o processo de montagem de uma peça.”
Em suas edições anteriores, o projeto Terceira Margem levou ao instituto profissionais como o dramaturgo espanhol José Sanchi Sinisterra, o diretor russo Adolf Shapiro e a encenadora franco-americana Léa Dant. Também diretora do francês Théâtre du Voyage Interieur, Léa fez residência no local e montou a peça Antes de Partir.
O projeto se mescla à temporada do espetáculo Não Nem Nada, encenada pela companhia Empório de Teatro Sortido, já em cartaz no local. Além de ministrarem workshops, dois integrantes da companhia têm textos que ganharão leituras encenadas: Rafael Gomes (autor de O Dublador) e Vinícius Calderoni (Os Arqueólogos).
Além de serem autores integrantes do projeto, Gomes e Calderoni dividem, com Fernanda, a curadoria. “O título de curador é um pouco capcioso”, diz Gomes, afastando a ideia de que ele e Calderoni escolheram seus próprios textos para serem lidos no projeto. Segundo o dramaturgo, as leituras fazem parte da ocupação da Empório de Teatro Sortido no instituto.
O primeiro texto a ser lido no Terceira Margem III será Gênesis, de Roberto Alvim, que estreia ainda este mês no teatro da companhia Club Noir, a qual Alvim dirige. “Há muitos anos, tenho o sonho de fazer, no teatro, uma releitura do Gênesis bíblico”, diz. “É a criação desse lugar vazio, onde ainda não há nada. O verbo surge e começa a criar tempo, espaço e formas de vida.”
Para criar a peça, Alvim pegou uma série de episódios do Velho Testamento e os reescreveu, dando novos significados para os textos. Ele exemplifica o processo com o trabalho feito sobre os Dez Mandamentos. “Moisés tinha um problema de fala e passou os mandamentos para seu irmão, Aarão, que passou ao povo”, diz Alvim, concluindo que os mandamentos não seriam a palavra de Deus, mas o que Aarão compreendeu do que foi dito por Moisés. Assim, Gênesis mostra uma releitura dos mandamentos.
Na próxima semana, a peça Os Médios, de Michelle Ferreira, ganha a leitura encenada, seguida por Não Contém Glúten, de Sérgio Roveri. Participam ainda os dramaturgos Jô Bilac, Kiko Marques, Vinícius Calderoni e Priscila Gontijo. A diretora artística sinaliza a vontade de montar os textos que integram o projeto, mas afirma que tudo depende da captação de verba.
SERVIÇO:
TERCEIRA MARGEM III. Instituto Cultural Capobianco, Rua Álvaro de Carvalho, 97. tel. 3237-1187. 3ª feiras, 21h. Grátis. Até 28/7.
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