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A grande família

Um papo com o pessoal de 'Modern Family', que chega à 2ª temporada na Fox

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LOS ANGELES - Eles não estão participando de nenhum documentário, mas, ao final de cada episódio, dão depoimentos olhando para uma câmera invisível. São histriônicos, porém menos caricatos que os personagens de sitcoms, e a falta de claques e risadas de fundo faz com que, muitas vezes, as situações cômicas sejam preenchidas por silêncios constrangedores.

 

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Artifícios como esses aproximam o telespectador, mas ainda assim é difícil calcular qual a fórmula do sucesso de Modern Family, série que conquistou a audiência e a crítica, indicada a todos os prêmios de TV dos Estados Unidos (venceu o Emmy e o Globo de Ouro do ano passado como Melhor Série de Comédia e recebeu 17 indicações ao Emmy desde ano).

 

Em papo com a imprensa internacional, da qual o Estado participou, os atores da trama falaram sobre o segundo ano da série - que estreia amanhã, às 22 horas, na Fox - e, apesar de darem entrevistas separadamente, entraram num consenso: além de um time de redatores geniais - assim como seus atores - Modern Family faz sucesso porque é fácil e provoca identificação.

 

"Os personagens fazem da série o que ela é. E tudo porque eles são colocados em situações que qualquer um pode se identificar", acredita Eric Stonestreet, ator que interpreta o gay Cameron. "É isso que faz a série universal".

 

Seu parceiro de cena, Jesse Tyler Ferguson, que vive o gay Mitchell, acredita que a série cria confusões familiares simples. "E nós somos obrigados a sair delas. É aí que usamos muito da improvisação que aprendemos nos palcos."

 

Está certo que à primeira vista, a história parece moderna, já que retrata três famílias incomuns: um sessentão casado com uma jovem e bela colombiana, que tem de criar o enteado; um casal que tenta a todo custo se enturmar com três filhos; e um casal gay, pais de uma bebê vietnamita.

 

 

Porém, apesar de mostrar relacionamentos que seriam vistos como transgressores em outros tempos, a série só leva ao ar o beijo do casal gay nesta segunda temporada - fato que só aconteceu após campanha de associações LGBT. Durante a entrevista, Eric e Jesse lembraram que o casal Jay (Ed O’Neill) e Gloria (Sofia Vergara) também não trocaram um beijinho sequer.

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"Acho que antes de fazer o Mitchell e Cam se beijarem, eles quiseram mostrar todo o problema que Mitchell sentia em relação a demonstrar seus sentimento. Tudo por causa da criação do pai, Jay", diz Jesse. "Nossos roteiristas são muito espertos e, tudo isso, é milimetricamente pensado."

 

Para Julie Bowen, que interpreta a mãe de família Claire, o "genial" é que os roteiristas não revelaram todas as facetas dos personagens durante a primeira temporada. "Todos os personagens são multifacetados. A cada episódio descobrimos mais sobre eles." Seu marido em cena, o Ty Burrel, que interpreta Phill, concorda. "O luxo de ter uma segunda temporada é poder ver lados diferentes do personagem. Nessa temporada, por exemplo, descobriremos mais sobre o namoro de Claire e Phill."

 

Reality show. Tanta identificação também vem da inspiração da vida real. Jesse garante que a história de Mitchell "sair do armário" para o pai três vezes foi inspirada em sua própria vida.

 

Já Eric diz que ele próprio inspirou o nome do palhaço Fizbo (na primeira temporada, Cam interpreta um palhaço), dado a ele por seu pai. "O fato de Cameron vir de uma área rural, de ter jogado futebol, de ter sido atleta na escola tem tudo a ver comigo. E é legal, porque o personagem tinha de ser gay, mas se relacionar com a figura patriarcal de Jay, o sogro, de alguma maneira.

Também inspirado na vida real é o forte sotaque latino de Gloria, interpretada pela colombiana Sofia Vergara - muito de sua graça, porém, se perde na versão dublada.

 

"No começo, improvisava muito em espanhol, falava ditados e orientava os roteiristas: ‘olha, não coloca aquela palavra junto com aquela outra, porque eu não consigo falar’. Agora, eles já me conhecem e escrevem para mim. Tanto que sigo o roteiro todinho."

 

Sucesso em todo o mundo, a série já garantiu um 3.º ano, que deve estrear em setembro nos EUA. E a piada talvez seja que hoje o país cultue a série que foge de seu clássico retrato.

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ENTREVISTA

Ed O'Neill

Famoso pela série Married with Children, ator é o patriarca de Modern Family

 

 

"NÃO QUERIA MAIS FAZER COMÉDIA"

 

Após viver o lendário Al Bundy, de Married with Children (Um Amor de Família), Ed O’ Neill até tentou se desvencilhar da comédia, enveredou para o drama e quase recusou o convite para viver o patriarca Jay, de Modern Family, papel que lhe rendeu uma indicação ao Emmy 2011. Em entrevista à imprensa internacional, o ator falou do 2.º ano da série e contou ao Estado ser faixa preta em Jiu-jítsu, arte marcial brasileira que ele, 65 anos feitos, pratica há 20. "Sou quase membro da família Gracie (criadora do Jiu-jítsu). Os meninos me chamam de Tio Ed".

 

Cam e Mitchell vão se beijar neste 2º ano. Quando Jay e Gloria vão se beijar?

Espero, por ela, que isso não aconteça (risos). Na verdade, sou bem consciente sobre isso, porque, sabe, quando se chega nessa idade, você nunca sabe que diabos é ou não apropriado...

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Mas você não acha estranho que um casal apaixonado nunca tenha se beijado?

Quando veio à tona essa questão do Cam e do Mitchell (associações gays fizeram campanha pelo beijo), disse: "Por que beijo? Vão direto pro sexo oral". Porque é uma questão boba. O público já sabe que somos casados, que fazemos sexo.

 

Como é a interação de vocês, atores, no set?

Ótima. Improvisamos bastante. Quando cheguei na leitura, não conhecia ninguém e pensei: "Sou o único nome conhecido desse lugar (risos)?" Depois, vi: "Esse cara é bom. Ela é boa também. Jesus! Essa criança é muito boa." E foi uma delícia descobrir que a Sofia Vergara, além de deslumbrante, é incrivelmente engraçada. Quando ela foi indicada ao Emmy (no ano passado), diziam: "Jane Lynch já ganhou". Sou fã da Jane, mas ela em Glee é sempre a mesma. Acho Sofia mais engraçada, principalmente nesses papéis comparativos.

 

Você teve de pensar muito antes de voltar para uma sitcom após 10 anos fazendo Married with Children?

Sim. Até tentei me libertar disso (fazer só comédia). Comecei minha carreira no teatro fazendo drama e, após tantos anos de Married with Children, quis voltar para o ponto de partida. Quando meu agente disse que os criadores de Modern Family queriam falar comigo, respondi: "Não estou interessado."

 

Você recusou o convite?

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Por respeito, vim até a Fox. Isso foi um ano antes de eles escreverem o roteiro. Achei a ideia sensacional, mas disse: "Realmente não estou interessado, mas prometo que dou uma olhada." Eles acharam justo e, um ano depois, peguei o roteiro e pensei: "Meu Deus! Isso é bom! Tenho de fazer". E meu agente disse: "Agora eles estão atrás do Craig T. Nelson". Eu devia ter imaginado que eu não era o único maldito ator que eles consideravam. Mas, uma semana depois, me ligaram e eu aceitei na hora. Tive um bom pressentimento, sabe?

 

Talvez Jay seja uma versão melhorada de Al Bundy, não?

Nós nos parecemos muito fisicamente (risos). Quando fiz o Al Bundy, tinha muito a ver com ele. Vim de uma cidade operária, da classe trabalhadora, nunca tive nem 10 centavos no bolso. Agora, o Jay é mais parecido comigo, porque vivo em Brentwood, e ele também. Temos a mesma idade... Não consigo "interpretá-lo". Mas do jeito que é feito, ele se encaixa perfeitamente em mim.

 

Você disse aos produtores que não sabia como interpretar esse personagem?

Claro que não. Atores, vocês têm de mentir. "Você sabe cavalgar?" "Claro, sou cavaleiro". "Toca guitarra?" "Claro, já toquei com o Eric Clapton." Se você mente, você pega o trabalho (risos).

 

Mentiu nessa entrevista?

Não preciso disso agora. Só minto quando preciso. / ALLINE DAUROIZ

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