Tem gente que, até hoje, não se conforma. Em 1954, Judy Garland parecia imbatível na categoria de melhor atriz, por Nasce Uma Estrela, de George Cukor. Hollywood, porém, preferiu outorgar o prêmio para uma xaroposa Grace Kelly (por Amar É Sofrer), que já vivia seu conto de fadas para se tornar princesa de Mônaco. Foi a terceira versão – e a primeira (semi) musical da história que William A. Wellman já filmara em 1937. Mesmo a de Wellman, se já não era um remake, foi em todo caso inspirada numa das tramas de What Price Hollywood, também de Cukor, de 1932 – e o filme chamou-se simplesmente Hollywood, ao ser lançado no Brasil.
Em 2 de novembro, Dia dos Mortos, a Globo cancelou a atração na qual vinha investindo pesado – Bohemian Rhapsody – e substituiu o musical (que deu o Oscar para Rami Malek) pelo terror Corra!, que colocou Jordan Peele no firmamento de Hollywood. Nesta segunda, 23, a Globo volta aos musicais e apresenta justamente a mais recente versão de Nasce Uma Estrela (com Lady Gaga e Bradley Cooper) na Tela Quente, às 22h55, após a novela A Força do Querer. A seguir, uma olhada nas várias versões da história que se tornou clássica.
'What Price Hollywood', ou simplesmente 'Hollywood', de George Cukor, 1932
O começo de tudo, a indústria vista de dentro. Constance Bennett como a garçonete que sonha ser estrela de cinema.
'Nasce Uma Estrela', de William A. Wellman, 1937
A primeira versão da história, tal como se tornou conhecida. Norman Maine é um astro dependente de álcool e decadente. Descobre o potencial da garçonete Esther e lhe consegue um teste no estúdio. Ela vira Vicki Lester, uma grande estrela, a dele apaga-se. O mais curioso é que, na vida, as coisas não eram bem assim. Janet Gaynor já estava se aposentando precocemente, e Fredric March, que faz Norman, estava no auge. Muitos críticos reclamam por isso. Um ator como John Barrymore conseguiria expressar muito mais a curva descendente de Norman. Wellman e Robert Carson receberam o Oscar de história original - Dorothy Parker foi roteirista. Um prêmio especial foi para a fotografia em cores de W. Howard Greene.
'Nasce Uma Estrela', de George Cukor, 1954
Se você viu o recente Judy, que deu o Oscar para Renee Zelwegger, deve estar lembrado(a) de que a Garland já estava afundada em bebedeiras, drogas e dívidas. James Mason, por outro lado, estava no auge do prestígio como ator intelectual na indústria. Assim se poderia dizer que ambos foram mal-escalados e faziam papéis inversos aos momentos que viviam. Na verdade, ambos são excepcionais, e a cena do suicídio, quando Norman entra mar adentro – Cukor utiliza o formato cinemascope, e talvez tenha sido só por essa cena – faz parte do imaginário de todo cinéfilo que conhece o filme. Cukor foi quem mais entendeu o pathos da história – o amor de Norman e Vicki é muito mais uma história de respeito entre eles. Na época, o fracasso de público levou a empresa Warner a uma medida radical – cortou quase 30 minutos, que nunca foram inteiramente reintegrados.
'Nasce Uma Estrela', de Frank Pierson, de 1976
Tem gente que detesta Barbra Streisand como atriz, diretora e performer, mas ela tem seu público, e como! Se Barbra anunciar uma turnê para daqui a dez anos os ingressos vão se vender na hora. Em 1973, Marvin Hamlisch ganhou o Oscar de canção por The Way We Were/Nosso Amor de Ontem, de Sydney Pollack, que ela cantava. Três anos mais tarde, Barbra venceu o Oscar de canção por Evergreen, e dessa vez era co-autora com Paul Williams. Sua Vicki talvez seja a mais durona da tela, mas é o jeito de Barbra, que literalmernmte 'engole' Kris Kristofferson, como Norman.
'Nasce Uma Estrela', de Bradley Cooper, de 2019
Passados mais de 40 anos, uma nova versão da história veio celebrar Lady Gaga, que repetiu Barbra, levando o Oscar de canção por Shallow. O filme concorria em diversas categorias do Oscar e parecia um começo de carreira brilhante do astro Bradley Cooper como diretor. Mas era o ano de Olivia Colman (A Favorita) e The Green Book - O Guia (melhor filme), e o prêmio de canção, por Shallow, já foi bom demais da conta para Lady Gaga.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.