Fake news. A expressão em inglês virou vocabulário corrente na boca do brasileiro, especialmente após as últimas eleições presidenciais, que foram marcadas por elas tanto quanto o pleito americano em 2016 e o plebiscito do Brexit. Mas o que são, exatamente, as “fake news”? E como se dá sua disseminação nas redes sociais?
O documentário A Verdade da Mentira, dirigido por Maria Carolina Telles e feito em parceria pela ELO Company, o canal History e o Instituto Tecnologia e Equidade, tem como objetivo esclarecer de forma didática a forma de funcionamento da criação e divulgação das “fake news” e apresentar possíveis soluções. “Não é um documentário de cinema, porque o mais importante era a mensagem que a gente tinha de extrair dos nossos entrevistados”, explicou a diretora. “É um especial jornalístico, colocando o repórter na linha de frente, mostrando o caminho tortuoso da imparcialidade para falar da mentira, da desinformação, do que a gente chama de ‘fake news’.” O documentário está disponível nas plataformas digitais NET NOW, Looke e Vivo Play e no site A Verdade da Mentira . O canal History exibe com exclusividade na televisão no dia 8 de novembro, às 20h45.
A estrutura do filme é bem simples. Pétria Chaves conduz entrevistas com jornalistas como Pedro Dória, checadores de notícias como Cristina Tardáguila, da Agência Lupa, e Tai Nalon, da Aos Fatos, com a observadora da OEA Laura Chinchilla e a psicanalista Fernanda Hamann, e com especialistas no assunto, por exemplo Amaro Grassi, coordenador da Sala de Democracia Digital da Fundação Getúlio Vargas, e Thiago Rondon, diretor do Instituto Tecnologia e Equidade (IT&E) e do AppCívico. “Nossa preocupação desde o primeiro dia foi não ter viés”, afirmou Ariel Kogan, do IT&E. “O filme não é de direita nem de esquerda. Nosso objetivo é a educação midiática. A sociedade como um todo precisa avançar no entendimento de como essas plataformas funcionam e no relacionamento com essa nova tecnologia. Queríamos mostrar o fenômeno para aprofundar a consciência.”
Realizar o documentário em plena campanha de 2018 foi desafiador. “Era um momento muito raivoso da sociedade brasileira”, disse Maria Carolina Telles. “Era uma hora de polarização política e de emoções confusas, principalmente porque ainda não se entendia bem qual o papel das redes sociais no ambiente político. Nós também estávamos tateando.” Hoje é quase inacreditável pensar como o Brasil não estava preparado para a entrada com força da desinformação nas eleições, mesmo depois do que tinha acontecido nos Estados Unidos e do Reino Unido. “Havia frentes trabalhando de forma importante no combate às fake news e aos robôs, mas a sociedade em si não estava pronta para absorver as redes sociais como esse quinto elemento na estrutura política”, disse Telles. Uma dessas frentes eram organizações como a Sala de Democracia Digital e o próprio IT&E, que tinham publicado estudos sobre o assunto. “Foi muito difícil acompanhar o que estava acontecendo. Dava uma sensação de impotência. As pessoas não acreditavam que isso ia ocorrer”, disse Kogan. Para ele, é importante notar que ainda não é possível mensurar a influência da desinformação no resultado. “Não dá para afirmar que este candidato ou aquele ganhou por causa disso. Mas é um fator importante a ser considerado.”
A Verdade da Mentira discute inclusive o termo “fake news”, que nem sempre é bem compreendido, até porque foi cooptado e teve seu significado revertido. No filme, usa-se mais a expressão desinformação, que é a alteração de fatos, a mentira pura ou a distorção de dados. Não raramente, pessoas e grupos chegam a criar realidades paralelas. “Durante muito tempo, a gente não enxergava o ambiente virtual como um espaço de construção de realidade. Era um lugar de comunicação, de troca”, disse Kogan. “Agora a gente está percebendo se constrói realidade no ambiente físico e no ambiente virtual.”
Com a realidade deturpada, muitas pessoas reagem com raiva ao fato. “Porque a verdade dói”, disse Maria Carolina Telles. “Ter chance de refutar a verdade e produzir sua própria verdade, ou acreditar em novas verdades e trazer aquilo que te cabe é confortante. É mais simples viver assim. Você não quer enfrentar o diferente. ” Isso corrompe as estruturas e processos democráticos, pois segrega as perspectivas e isola o debate. Por isso, para a diretora, a solução é abrir o diálogo sem medo. “Exercer a democracia é um ato de coragem. Você precisa ser corajoso para entender o outro e para rever suas convicções.”
Lançar o filme a menos de duas semanas das eleições municipais em diversas plataformas é uma estratégia para abrir essa discussão e quem sabe fazer com que cada um dê uma pausa antes de compartilhar algo sem checar. “O filme é parte de um movimento maior”, explicou a produtora Paula Garcia. A desinformação não se espalha apenas em período eleitoral. Por isso, os produtores de A Verdade da Mentira promovem hoje um evento online, a partir das 15h, no YouTube, Facebook, Twitter e site do canal History, sobre “Os Limites do Discurso de Ódio nas Redes Sociais”. São três painéis: “Como enfrentar o discurso de ódio no contexto eleitoral?”, às 15h, “A experiência de grupos que sofrem com discursos de ódio”, às 16h30, e “Como prevenir os linchamentos virtuais na eleição de 2020?”, às 18h.
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