Análise: a era em que música brasileira era líder de audiência

‘O Fino da Bossa’ foi um momento único em que Gil, Milton Nascimento e Dorival Caymmi rendiam índices insuperáveis

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Foto do author Julio Maria
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Era para ser Elis, Baden Powell e Zimbo Trio. Era para ser apenas um show. E era apenas uma aposta de um produtor de festivais universitários, Walter Silva, e sua mulher, Dea Silva, que saíram pela cidade colando lambe-lambe pelos muros para anunciar um espetáculo no Teatro Paramount chamado Dois na Bossa. A história então fica muito veloz: como Baden não podia, por ter uma viagem marcada, Walter segue atrás de outro parceiro para Elis. Sua mulher vê Jair Rodrigues plantando bananeira em uma boate de São Paulo e cutuca o marido: “Ele é o cara certo para Elis”. “Você está maluca! Ele não tem nada a ver com Elis.” “Eu acho que tem.”

Bastidores do Fino da Bossa Foto: TV Record

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O show, feito com o Jongo Trio por impossibilidades do Zimbo, provoca comoção. Walter resolve abrir uma nova noite e a ideia do show vira três discos sob o nome Dois na Bossa. Elis e Jair se tornam o sonho da TV Record e a emissora de Paulo Machado de Carvalho faz ofertas imbatíveis a Elis. Ela aceita, passa a ser a cantora mais bem paga do Brasil antes dos 21 anos e inaugura uma era em que a música brasileira criada por Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Wilson Simonal, Jorge Ben, Hermeto Pascoal, Adoniran Barbosa, Os Cariocas e tantos outros recheiam um programa de televisão semanal exibido às quartas-feiras que ganha a liderança de audiência em seu horário. Um feito que não havia acontecido antes e que jamais voltaria a acontecer. A música brasileira liderando a audiência na TV brasileira.

Foi nesse ano de 1965 que Elis ajudaria a fortalecer o Fino com a ideia de resistência nacionalista diante do bombardeio das frentes jovem-guardistas. O Programa Jovem Guarda aparece em agosto com um trio que passou a desbancar Elis e Jair do topo. Roberto, Erasmo e Wanderléa são atacados pela cantora nas entrevistas. A garota que surgia de Porto Alegre como um tornado, passando por um beco do Rio por alguns meses, já havia vencido o 1.º Festival da Música Popular Brasileira da TV Excelsior cantando Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Já tinha, portanto, noção do seu próprio tamanho. O Fino da Bossa ensina Elis a lidar com música em todas as situações. Com ou sem ensaio, ela resolvia o problema.

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