Análise: Faustão no streaming - por que não?

De saída da TV, apresentador deu indícios de que está cansado do excesso de gravações; é momento para se pensar em um projeto com gravações concentradas e episódios espaçados

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Foto do author André Carlos Zorzi

“Uma fórmula antiga que não muda e faz sucesso”. A frase sobre programas de auditório foi o título de uma reportagem do Caderno 2 do Estadão em 27 de julho de 1988, quando foi noticiada a saída de Faustão da Bandeirantes rumo à Globo. 35 anos depois, o apresentador deixa a Band mais uma vez - mas agora não há ‘fórmula antiga’ que garanta o sucesso.

Página do Caderno 2 do 'Estadão' anunciando a ida de Faustão para a Globo em 1988, com as manchetes "Fausto Silva pintou na Globo", "A guerra vai para os auditórios" e "Uma fórmula antiga que não muda e ainda faz sucesso" Foto: Acervo/Estadão

Faustão na Band não marcou

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Em seu primeiro trabalho fora da Globo depois de mais de três décadas, Fausto Silva começou 2022 cercado por holofotes e com convidados de peso no Faustão na Band. O desafio era manter a relevância conforme o tempo fosse passando, especialmente dando a cara ao espectador de segunda a sexta.

Um ano e meio depois, há poucos momentos do programa que marcaram o imaginário popular. Acabou sendo um ‘mais do mesmo’ em relação ao Domingão, mas com mais potencial de se tornar enjoativo por conta da frequência - consta no comunicado de desligamento divulgado pela Band o número de 350 edições. Para efeito de comparação, à frente do Domingão, o apresentador levaria quase sete anos para alcançar a mesma quantidade.

Faustão ao lado de Anne Lottermann e de seu filho, João Guilherme Silva, os outros apresentadores do 'Faustão na Band' Foto: Rodrigo Moraes/BAnd

Pode-se argumentar que o mundo mudou e Faustão não soube se atualizar, tanto que manteve fiel ao formato que já estava desgastado na Globo, apenas fatiando-o ao longo da semana. Mas é inegável que se trata de alguém que entende do mundo da comunicação.

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‘Vou parar por um bom tempo’

Em entrevista recente ao Notícias da TV, o apresentador deu breves declarações sobre o momento. “Vou parar um bom tempo. Eu tô na hora de dar uma descansada, uma parada, principalmente curtir os amigos, curtir a família. Estava num ritmo muito acelerado. Esse negócio de [programa] todo dia, embora se grave só três vezes por semana, na verdade, você fica envolvido a semana inteira”.

A fala indica que a correria de um programa frequente e ao vivo não parece estar em seu radar. Uma possível saída seria algum formato em que fosse possível gravar episódios num período delimitado de tempo e passar o resto do ano descansando, ou fazendo o que bem entendesse.

Faustão em foto de outubro de 2018 Foto: Luciana Prezia/Estadão

Em seus últimos anos de carreira, Gugu Liberato (1959-2019) fazia algo parecido: vinha ao Brasil para apresentar o Power Couple ou o Canta Comigo e, em seguida, voltava para sua casa nos Estados Unidos. É uma forma de conciliar a vida pessoal com a profissional, e o contato com o público.

Faustão no streaming: por que não?

Desconsiderando programas de auditório ao vivo, que não parecem mais ser de seu interesse, e reality shows, com os quais Faustão nunca demonstrou muito ânimo, uma possibilidade seria um projeto de longo prazo em alguma plataforma de streaming, talvez como um programa de entrevistas.

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Apesar da fama de ‘cortar’ os entrevistados, a verdade é que ao longo das décadas muitos artistas se sentiram à vontade para falar o que pensavam nos programas de Faustão. Sua credibilidade e a extensa lista de contatos do mundo artístico poderiam abrir um ótimo caminho. Ainda que vivamos tempos de podcasts a torto e a direito, certamente o apresentador conseguiria se destacar.

Hoje, o mundo dos streamings parece mais aberto a novidades e formatos inovadores do que a TV aberta. E, por vezes, é preciso contar com alguém que tenha experiência e proximidade com o público de uma faixa etária que está ‘migrando’ para as plataformas, mas ainda busca alguma familiaridade nos rostos que vê.

Resta, é claro, saber se Faustão teria interesse em tocar um projeto do tipo, e se alguma plataforma aceitaria bancá-lo. Mas um nome tão relevante ficar fora do mercado soa como uma perda para a comunicação brasileira.

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