Morre Aracy Balabanian, atriz polivalente e figura fundamental da TV brasileira, aos 83 anos

Atriz, que interpretou personagens inesquecíveis como Dona Armênia, em ‘Rainha da Sucata’, estava internada; veja vídeo e relembre a vida e a carreira de Aracy Balabanian

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Por Redação
Atualização:

A atriz Aracy Balabanian morreu aos 83 anos, no Rio de Janeiro. Ela estava internada na Clínica São Vicente, no bairro da Gávea. A causa da morte ainda não foi confirmada. A atriz foi diagnosticada com um câncer de pulmão e estava em tratamento desde o final de 2022.

Ao longo de mais de seis décadas de carreira, a atriz se destacou no teatro e se tornou uma das figuras mais conhecidas da teledramaturgia brasileira. Ela criou personagens marcantes com um talento polivalente, e sempre transitou com segurança entre o drama e a comédia.

A atriz Aracy Balabanian estava internada no Rio; ela tinha 83 anos Foto: Fabio Motta/Estadão

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Entre seus papéis mais memoráveis nas novelas e programas da Globo estão Dona Armênia, de Rainha da Sucata (1990) e Deus Nos Acuda (1992), e a matriarca italiana Filomena, de A Próxima Vítima (1995), além de Cassandra, em diversas temporadas de Sai de Baixo.

Uma das últimas fotos de Aracy foi de um encontro com Claudia Raia e o filho, Luca, no Rio de Janeiro em julho de 2023.

O velório da atriz ocorrerá nesta terça-feira, 8 de agosto, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, das 10h às 13 horas, e será aberto ao público. A cerimônia de cremação será restrita a familiares e amigos, no mesmo dia, às 15h, no Crematório da Penitência, no Caju, no Rio.

A atriz Aracy Balabanian em encontro com Luca, filho de Claudia Raia, em junho Foto: Instagram/@claudiaraia/Reprodução

Vida e obra de Aracy Balabanian

Aracy Balabanian nasceu no dia 22 de fevereiro de 1940, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Filha de imigrantes armênios, ela descobriu o teatro na infância, quando já vivia em São Paulo e foi levada pelas irmãs para assistir a uma peça de Carlo Goldoni com a companhia de Maria Della Costa. Ela tinha 12 anos.

Na cidade, na adolescência, cursou a Escola de Artes Dramáticas (EAD), da Universidade de São Paulo, e fez sua estreia no teatro no final dos anos 1950. Participou de montagens de peças como Macbeth (1962), tragédia do dramaturgo inglês William Shakespeare, e a versão brasileira do musical Hair (1969). Trabalhou com os principais diretores e dramaturgos, como Augusto Boal, Oduvaldo Vianna Filho, Flávio Império, Ademar Guerra e Gianfrancesco Guarnieri

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À TV, chegou em 1964, quando participou da novela Marcados Pelo Amor, de Walther Negrão - autor com quem faria diversos outros trabalhos - e Roberto Freire, exibida pela TV Record. No elenco, ainda estavam nomes como Francisco Cuoco e Cláudio Marzo.

Logo migrou para a TV Tupi, a principal produtora de novelas nos anos 1960. Na emissora participou de produções como Meus Filhos, Minha Vida (1967), Antônio Maria (1968) e Nino, O Italianinho (1970), sempre como protagonista.

Um dos principais nomes da Globo

Aracy estreou na TV Globo em 1972, emissora com a qual sua imagem ficou associada e na qual emendou uma novela atrás da outra. A primeira delas foi O Primeiro Amor, escrita por Walther Negrão.

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Logo em seguida, a atriz entrou para o elenco do programa infantil Vila Sésamo, uma coprodução brasileira entre a TV Globo e a TV Cultura do popular programa de televisão infantil norte-americano Sesame Street. Aracy deu vida a Gabriela, uma moça que gostava de dançar e cozinhar.

Em 1974, foi convocada para mais uma protagonista, dessa vez na novela Corrida do Ouro, a primeira na carreira do autor Gilberto Braga. Na trama, a atriz intepretou a mocinha sofredora Teresa Rodrigues. Ao seu lado no elenco estavam atores como Walmor Chagas, Sandra Bréa e José Wilker, nomes com quem contracenaria outras vezes ao longo da carreira.

Durante a década de 1970, Aracy fez praticamente uma novela por ano.

Em Locomotivas (1977), de Cassiano Gabus Mendes, trama recém disponibilizada na íntegra no Globoplay, a atriz interpretou Milena, filha da personagem Kiki Blanche, da atriz Eva Tudor. Milena disputava com a filha o amor de Fábio, papel de Walmor Chagas. A novela foi um dos maiores sucessos do horário das sete e consagrou o estilo mais leve que até hoje é seguido pela TV Globo para o horário.

Aracy entrou nos anos 1980 com o mesmo prestígio da década anterior. Em 1982, ela foi uma das protagonistas de Elas Por Elas, também de Cassiano Gabus Mendes, outro sucesso do horários das sete. Nesse trabalho, Aracy formou ao lado das atrizes Eva Wilma, Maria Helena Dias, Joana Fomm, Esther Góes, Sandra Bréa e Mila Moreira o grupo de amigas que conduzem a trama central do folhetim.

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Ela é a segunda da turma de sete atrizes de Elas Por Elas a morrer em um período de poucos dias - Maria Helena Dias morreu na semana passada.

Ao longo da década de 1980, Aracy esteve em novelas como Transas e Caretas (1984), Ti Ti Ti (1985), Mania de Querer (1986) e Helena (1987).

A virada de Dona Armênia

Aracy como Dona Armênia na novela 'Rainha da Sucata' Foto: Nelson Di Rago/TV Globo

Em 1990, Aracy teve uma grande virada em sua carreira quando foi convidada pelo autor Silvio de Abreu para dar vida à personagem Dona Armênia, na novela Rainha da Sucata. Filha de pais armênios, Aracy emplacou o sotaque perfeito e o bordão “na chón”.

Em entrevista ao Estadão em 2016, Aracy falou que a personagem a possibilitou mostrar sua atuação além do drama, gênero no qual ela sempre foi associada tanto na TV quanto no teatro.

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“Eu sempre fazia as mocinhas mais sofredoras. Acontece que o Silvio de Abreu (autor de Rainha da Sucata), que é muito meu amigo, disse: ‘vamos mostrar um pouco seu lado mais extrovertido’. Eu conhecia a língua armênia, sabia que o tom era aquele, porque eu vivi aquilo com minha família”, disse na época. “Dona Armênia deu oportunidade de mostrar um outro lado meu na televisão. Não sou só dramática, não sou só trágica – como me chamava o (crítico de teatro) Sábato Magaldi.” Leia a entrevista na íntegra.

Na novela A Próxima Vítima, também de Silvio de Abreu, Aracy viveu a italiana Filomena Ferreto, matriarca de uma família que escondia grandes mistérios, em uma trama repleto de assassinatos. Mais um sucesso na TV. No programa Persona em Foco, em 2106, Aracy disse que a personagem foi baseada em sua vivência em São Paulo. “Ela não falava italiano, ela tinha um cantar, como tantos que a gente conhece”. Por esse papel, Aracy venceu os prêmios Globo de Melhores do Ano, APCA e Troféu Imprensa como melhor atriz do ano.

Aracy Balabanian na novela 'A Próxima Vítima' Foto: Nelson di Rago/TV Globo

Entre 1996 e 2002, Aracy fez sucesso com a personagem Cassandra, no humorístico Sai de Baixo, ao lado dos atores Miguel Falabella, Luis Gustavo, Claudia Jimenez, Marisa Orth e Tom Cavalcanti. O programa, gravado ao vivo em um teatro na cidade de São Paulo, marcou época na televisão brasileira. A atriz voltou a viver a personagem em uma série de quatros programas especiais produzidos pelo canal Viva em 2013.

Em entrevistas, Aracy comentava que pensava que não seria capaz de interpretar Cassandra pois tinha o riso frouxo. A solução, indicada pelos diretores Daniel Filho e Dennis Carvalho, foi incorporar o riso à personagem, algo que ela seguiu, sobretudo quando provocada por Falabella.

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Aracy e Miguel Falabella em cena do programa especial "Sai de Baixo" Foto: Eliana Rodrigues/Canal Viva

Com o fim do humorístico, Aracy seguiu participando de novelas. Em 2004, fez sucesso como Germana Pacheco, em Da Cor de Pecado, na qual contracena com Lima Duarte. Fez ainda A Lua Me Disse (2005), Passione (2010), Cheias de Charme (2012) e Geração Brasil (2014).

Sua última novela completa foi Sol Nascente, de Walther Negrão, exibida em 2016, na qual novamente interpretou uma italiana, Giuseppina De Angeli (Geppina), formando um simpático casal com o personagem Gaetano de Angeli, de Francisco Cuoco.

No cinema, Aracy participou de filmes como A Primeira Viagem (1975), Caramujo-Flor (1998) e Sai de Baixo - o Filme (2019).

Aracy não se casou e não teve filhos, mas teve muitos sobrinhos que divulgaram uma carta de despedida. Em documento obtido pelo g1, os familiares declararam:

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“Tia Aracy era pra nós mais que uma atriz brilhante, era um exemplo de força, carinho e amor! Uma tia admirável em todos os sentidos… Tia, sentiremos muita saudades do seu abraço amoroso e do seu cheiro maravilhoso! Que Deus e Nossa Senhora te recebam de braços abertos e com muito amor, assim como você merece”.

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