O New York Dolls, no palco, literalmente chacoalha a estrutura do edifício abandonado, prestes a ruir e desaparecer em uma Nova York em estado de decomposição. Richie Finestra (brilhantemente interpretado por um enfurecido Bobby Cannavale), entorpecido pelas carreiras de cocaína inaladas, as goladas de uísque e o som pesado das guitarras da banda de proto-punk, entrou em êxtase. Sequer percebeu o teto ruir e desabar.
Vinyl transpira a trindade sexo, drogas e rock’ n’ roll – embora seja levemente inclinada a colocar a música acima dos outros dois terços da tríade. É bom lembrar, contudo, que estamos falando de HBO, emissora que não tem medo de mostrar corpos desnudos e sangue aos montes em Game of Thrones. O trabalho de Martin Scorsese, Terence Winter e Mick Jagger prefere ser mais sutil, contudo.
Espalham referências de uma época de ouro para o rock mundial, na transição entre as décadas de 1960 e 1970, mas poucas bandas reais são citadas nominalmente – um aperitivo: o Led Zeppelin aparece e a versão televisiva para Jimmy Page é impagável.
A cidade de Nova York é um personagem a ser explorado mais nos próximos episódios. O rock da época só é selvagem porque espelha toda a imundície e sensação de perigo emanada por aquelas ruas infestadas de ratos e traficantes.
Finestra de Cannavale, por sua vez, mostra logo nesse primeiro episódio o potencial para carregar a série nas costas. É viril e doce, intempestivo e pacificador. Complexo e indecifrável, o protagonista é daqueles cuja reação é sempre imprevisível. Mas uma coisa é certa: se ele e sua American Century caírem, vão levar amigos e inimigos com eles.
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