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Morre Silvio Santos: relembre a amizade de pai para filho com Manoel de Nóbrega e Carlos Alberto

Empresário, que morreu neste sábado aos 93 anos, construiu uma relação forte ao longo de décadas com os dois apresentadores

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Foto do author André Carlos Zorzi
Atualização:

Ao longo da sua trajetória na TV, Silvio Santos construiu uma relação forte com dois outros nomes bastante conhecidos do telespectador: os apresentadores Carlos Alberto de Nóbrega e Manoel de Nóbrega. Silvio Santos morreu neste sábado, aos 93 anos de idade.

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Silvio Santos conheceu Manoel em 1954, quando veio para São Paulo em busca de oportunidades na rádio Nacional. Ele tinha uma carta de recomendação escrita pelo irmão de Nóbrega, que morava em Niterói, mas mostrou-a somente após ter feito um teste e sido aprovado para trabalhar na emissora.

“Essa carta eu não mostrei antes porque queria entrar com méritos. Eu queria entrar tendo a certeza de poder ocupar o lugar”, teria dito Silvio na ocasião. A atitude foi valorizada por Manoel, em depoimento gravado em 1974 e publicado na biografia A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva: “Achei espetacular. Eu disse: ‘Olha, parabéns, rapaz. Não é sempre que a gente encontra uma pessoa assim, um jovem que larga o ‘pistolão’ para lutar; sabe que seus méritos são realmente bons’”.

“O Manoel da Nóbrega me gozava muito. Eu não tinha ainda este desembaraço, tinha vergonha, ficava vermelho. O Nóbrega me chamava de Peru. Ele tinha uma caravana - ele, o Ronald Golias e o Carlos Alberto, mais o Canarinho e a Tânia Castilho. Iam de circo em circo. Às vezes, eu ia junto, mas não gostava”, relembrava Silvio.

Em 1957, um homem ofereceu sociedade a Manoel para criar o Baú da Felicidade, empresa que vendia antecipadamente cestas de fim de ano com brinquedos variados. À época, ele entraria com dinheiro e com anúncios na rádio Nacional, enquanto o homem tocaria o negócio. Não deu certo, e Nóbrega acabou levando um golpe do colega, que sumiu com parte do dinheiro.

Silvio Santos esteve presente tanto na estreia de 'A Praça da Alegria', em 1972, ao lado de Manoel de Nóbrega, quanto na de 'A Praça É Nossa', comandada por seu filho, Carlos Alberto de Nóbrega, décadas depois. Foto: Arquivo/Estadão

A pedido de Manoel, Silvio foi até a empresa para ajudá-lo a lidar com os clientes lesados. Não demorou muito para que seu lado empresário falasse mais alto e visse no Baú uma oportunidade para lucrar, revertendo o prejuízo, aumentando a quantidade de investimentos e variando os produtos das cestas.

Receoso de levar ainda mais prejuízo por conta das altas apostas que o amigo fazia na empresa, Nóbrega decidiu passá-la para o nome de Silvio, que se tornou proprietário em definitivo do Baú da Felicidade. O apresentador viu o ato como generoso e os laços se estreitaram a partir daí, quando ambos ganhavam cada vez mais relevância na TV.

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Em entrevista ao Domingo Espetacular em 2020, Carlos Alberto relembrou um gesto de generosidade de Silvio quando o pai estava à beira da morte: “Meu pai tinha dois, três meses de vida, se tanto. Ele falou: ‘Carlos, o que eu faço para o seu pai ganhar dinheiro sem humilhá-lo? Eu preciso ajudar teu pai’. O Silvio botou meu pai como presidente da TV Corcovado, dando um tremendo de um salário para ele, para não ter que dar o dinheiro. Meu pai teve um amigo: Silvio Santos. O único”.

Em meados da década de 1970, Manoel de Nóbrega foi diagnosticado com um câncer no pâncreas. Os médicos lhe deram, no máximo, um ano de vida. Mesmo assim, passou por três cirurgias e diversos tratamentos, todos pagos por Silvio Santos. Já bastante mal de saúde, esteve presente na cerimônia de concessão da TVS, primeiro canal de televisão adquirido por Silvio, em 22 de dezembro de 1975, meses antes de sua morte, em 17 de março de 1976.

Em determinada ocasião, o apresentador surpreendeu Carlos Alberto durante uma gravação da Praça, prestando uma homenagem ao falar sobre a perda de Manoel: “Você hoje está sentado nesse banco, Carlos. Se não fosse ele , nós não teríamos esse banco e nem essa televisão. Você veio para cá. Não veio só como redator, como artista. Você veio como meu irmão, como meu amigo, uma pessoa que vai me ajudar a fazer aquilo que o seu pai gostaria de fazer comigo”.

A briga entre Silvio Santos e Carlos Alberto de Nóbrega

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Porém, nem tudo foram flores no relacionamento entre Silvio Santos e a família Nóbrega. No livro A Luz Que Não Se Apaga, lançado em 2004, Carlos Alberto relembrou a briga séria que teve com o dono do SBT: “Fiquei 11 anos sem falar com o Silvio. Por imaturidade minha e cabeça dura dele, nós nos afastamos. Na minha casa, não se ligava a televisão na TVS. Não se ouvia a voz do Silvio. Com o passar do tempo, as feridas foram cicatrizando, mas eu não tinha coragem de procurar o Silvio. Tinha medo de ouvir coisas que não queria mais ouvir e ficava na saudade”.

“Se havia uma ponta de ciúme nesse amor de pai e filho? Meu analista diz que sim. Muita coisa que eu guardo comigo em relação ao Silvio vem de um passado ciumento. Até hoje, aos 68 anos de idade, ainda tenho coisas quanto ao Silvio mal resolvidas na minha cabeça; daí ter cometido algumas injustiças em relação a ele. Afinal, eu era o filho do Manoel de Nóbrega. O filho único. De repente, aparece um sujeito na minha vida, super simpático, torna-se meu amigo e começa a conquistar o coração do meu pai! Que atrevimento! O pai era meu. Ele tinha o dele, mas insistia em tratar o meu pai como se fosse seu”, continuava.

Carlos Alberto de Nóbrega em participação no 'Programa Silvio Santos' em 2012. Foto: Arquivo/Estadão

Em 1987, por intermédio de um amigo, os dois souberam que um tinha vontade de retomar o contato com outro, e decidiram resolver as diferenças e deixá-las no passado. No mesmo ano, Carlos saiu da Bandeirantes e foi contratado pelo SBT, onde permaneceu pelas décadas seguintes no comando de A Praça É Nossa.

Àquela época, Silvio chegou a comentar sobre seus grandes amigos durante uma edição de seu programa, e citou Nóbrega: “Carlos Alberto foi meu amigo. Foi! Ficou onze anos sem mim e agora voltou. Mas não sei se ele mudou nesses anos. Onze anos modificam muita gente”. Nas décadas seguintes, a boa convivência voltou.

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