Não dá para dizer que a produção do Big Brother Brasil 25 não tentou gerar conflitos entre os brothers. Na última terça, 11, antes da eliminação, o programa se utilizou de um VT quase como um pedido por redenção. Na transmissão, o reality lembrou que, em apenas um mês de programa, os participantes já enfrentaram duas provas de resistência, a dinâmica inédita do Freeze, o Quarto Secreto e um Tá Com Nada.
Mas, apesar das inúmeras tentativas, raras foram as esperadas “tretas” no BBB 25. O público se deparou com discussões pontuais nas dinâmicas do Sincerão, pequenos desentendimentos entre irmãos e sugestões de rodas de sarau – que, inclusive, viraram motivo de brincadeira para a própria produção.
Alguns podem até apontar um desinteresse dos participantes. Afinal, pisar no gramado do reality leva à máxima: é preciso viver intensamente.
Uma preocupação em se prejudicar fora do programa pode, de fato, estar lá, mas a atual morosidade do jogo envolve algo mais complexo do que simplesmente a falta de interesse. O que agora ocorre dentro do BBB 25 é um comportamento exatamente como o esperado.
O Estadão conversou com a psicóloga e neuropsicóloga Lilian Vendrame, especialista em psicologia analítica junguiana, e com o influenciador Lucas Vivot, que, há anos, realiza seus conhecidos “plantões” de BBB nas redes sociais. Segundo ambos, uma coisa é certa: a dinâmica inédita em duplas colocou o jogo em câmera lenta.
Lilian explica que o fato de as duplas terem sido escolhidas pelos próprios participantes os traz uma posição de conforto – palavra, inclusive, que não combina com Big Brother Brasil. Os conflitos entre pessoas que já se reconhecem se tornam previsíveis e os “desabafos” são feitos com alguém já de confiança.
Conforme a psicóloga, tudo seria diferente em uma ambientação mais estranha aos brothers. “Quando vamos para uma situação em um ambiente desconhecido, com pessoas desconhecidas, a nossa tendência é entrar em um mecanismo de defesa maior, naturalmente, pelo medo. Então, nós nos protegemos mais”, diz.
Lucas aponta que há certos participantes que mostram ter uma tendência mais explosiva, mas que acaba “travada” pela dupla. “A Renata parece uma menina super explosiva, mas ela tem a Eva ali do lado que a segura, que é uma pessoa de confiança dela”, exemplifica ele.

Para o influenciador, o que falta na edição é um “telefone sem fio”: as fofocas acabam restritas a um círculo de confiança e não se espalham pela casa. Lilian também dá como exemplo a relação entre Diego e Daniele Hypolito, que preferem manter um ponto de apoio entre si.
“Em situações em que a irmã se sentiu excluída, o primeiro que ela recorria era o irmão. Apesar de eles terem as suas diferenças, eles estão acostumados com como um lida com o outro. Então, ela sente mais acolhida”, diz. “Se não tivesse essa pessoa, ela teria outros comportamentos, que, aí, poderiam ter gerado mais conflitos.”
As separações vão ajudar?
A dinâmica em duplas, porém, não chegou a completar um mês. Até o momento, dois participantes já deram adeus aos seus parceiros de jogo: Gracyanne Barbosa e Maike. Lilian e Lucas acreditam que, sem uma “âncora”, os participantes podem se sentir mais desconfortáveis no programa e, consequentemente, protagonizar mais situações de conflito.
Para a psicóloga, irmãos com uma relação de muita proximidade, como os gêmeos João Pedro e João Gabriel e Diego e Daniele Hypolito, podem se mostrar mais vulneráveis com a possível eliminação da antiga dupla. “Eles podem ser afetados psicologicamente, principalmente esses casos. [...] Quando um deles sai, em um primeiro momento, eles vão sentir essa falta dessa proteção, desse conforto, desse aconchego”, afirma.

Lucas comenta que, além disso, “com uma semana de separação das duplas, os participantes até começaram a se odiar um pouco mais”. Mas Lilian diz que apenas separar as duplas pode não ser o suficiente para movimentar o jogo. Afinal, o elenco pode se mostrar resiliente.
“Quem não conseguiu aprender essa autorregulação emocional e lidar com [o reality] sozinho pode ter vários problemas dentro da casa”, diz. “Mas aquele que consegue replicar o que o outro fez por ele dentro da casa tem a tendência a ficar bem.”
O que ainda dá para fazer?
A psicóloga considera ainda ser cedo para avaliar se a dinâmica em duplas, de fato, atrapalhou o reality. Para Lilian, tudo vai depender do comportamento dos participantes após a separação e do quanto a antiga relação com as duplas os fortaleceu ou não.
Lucas, porém, é enfático ao dizer: “O principal erro [do BBB 25] foi as duplas”. O influenciador afirma que apenas dinâmicas mais radicais, com a entrada de pessoas com “visões diferentes” na casa, serão capazes de salvar o programa.
Ele sugere um Quarto Branco com a inclusão de novos participantes ou um paredão “mirabolante”. “Uma dinâmica que nós pedimos há muito tempo é um paredão em que quase todo mundo vai. Por exemplo, com 12 participantes. E, aí, saem logo três pessoas de uma vez e entram quatro de uma Casa de Vidro, por exemplo”, diz.
O influenciador reconhece um esforço da produção para movimentar o jogo – inclusive de Tadeu Schmidt, que tem feito discursos de eliminação mais assertivos. Segundo ele, porém, o maior desafio é enfrentar o “ego” do elenco.
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“As irmãs Camilla e Thamiris têm um problema muito grande no entendimento dos discursos, porque elas acham não serve para elas”, exemplifica. “Na verdade, os discursos cabem para elas e cabem para muitas outras pessoas que precisam se expor um pouco mais.”
Lilian afirma que, apesar da falta de brigas, ainda é possível se reconhecer nos micro-conflitos cotidianos que envolvem as duplas. Ela aponta novamente para a relação de Daniele com Diego – viralizaram cenas em que, diversas vezes, a irmã recebia críticas duras do irmão.
“[O BBB 25] mostrou também alguns comportamentos que temos com as pessoas que amamos e, muitas vezes, podem ser tóxicos. Mas, por estarmos tão dentro daquela relação, não reparamos”, diz. “[O programa] deixa uma pergunta: o que eu posso aprender sobre o meu comportamento assistindo às duplas no BBB 25?”