Se algum dia houve alguma desconfiança sobre o trabalho de Grazi Massafera como atriz, hoje não há mais. Ela, que ganhou fama ao ser finalista da quinta edição do reality show Big Brother Brasil, conseguiu traçar o caminho que muitos queriam: sair do programa e seguir a carreira de atriz. Hoje, quase 20 anos após o BBB, já são mais de 10 novelas no currículo.
Seus trabalhos recentes, porém, fogem de tudo que Grazi estava acostumada. Primeiramente, com o filme Uma Família Feliz, que foi lançado em abril e marcou a chegada da paranaense de vez nos cinemas após algumas pequenas participações. Depois, talvez o seu projeto mais ousado: ser a protagonista de Dona Beja, novela da Max e que deve estrear em meados de 2025 – mas, com toda pós-produção pela frente, sem data marcada.
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É, afinal, o primeiro projeto da atriz fora da Globo, em uma adaptação sem qualquer pudor – são mais de 80 cenas de intimidade em apenas 40 episódios – sobre uma “moça de beleza estonteante” à frente de seu tempo, no século 19. Tudo ainda com a imaginação das pessoas sempre voltando para a novela da TV Manchete, que era protagonizada por Maitê Proença. “Não deixa de ser uma homenagem para a Maitê”, comenta Massafera.
Em fevereiro, o Estadão visitou o set de Dona Beja, no Rio de Janeiro, e conversou com Grazi sobre os desafios da novela, os planos que tem para sua carreira nos próximos anos e o que pensa do audiovisual hoje – e o que pode acontecer com as novelas no futuro.
O que te atraiu em fazer Dona Beja?
Entrei no projeto no susto. Eu estava em casa com uma amiga e ela me falou que estavam comentando que eu era cotada para fazer Dona Beja. Já tinha ouvido falar, conhecia a personagem, mas não tinha assistido. Fui pesquisar sobre e fiquei enlouquecida. Quis saber quem estava fazendo a novela. Quando soube que era a Max, liguei para eles e pedi a personagem. O tempo passou, nada aconteceu, até que do nada me chamaram. Em um piscar de olhos, estava fazendo a preparação. Foi tudo muito rápido.
Então você não assistiu à versão original da novela?
Não. Peguei pedaços depois, quando fui pesquisar. Mas só vi partes.
Não quis assistir depois?
Conversamos todos e decidimos não assistir. É uma releitura, escrita de outra forma, então achamos melhor assim. Mas não tem como: Maitê Proença foi icônica com a personagem e deixou o Brasil apaixonado, impactado. Não deixa de ser uma homenagem para a Maitê.
Como você descreveria a sua Dona Beja?
Não sei te dizer. Afinal, eu sempre gravava e assistia ao meu trabalho [nas novelas da Globo]. Hoje, eu gravo e não vejo nada. Estou há cinco meses gravando e não sei como está ficando. Mas alguns dias saio feliz do set, outros saio triste. É como qualquer trabalho.
Pra você, está sendo uma experiência diferente fazer uma novela assim, menor e tão intensa?
Eu sou uma atriz intensa. Além disso, por ser uma novela reduzida [com apenas 40 episódios], vivo muitas emoções, o dia inteiro, sem parar. Já teve cena que comecei a fazer, me emocionou demais e não conseguia terminar. Eu me envolvo. Não consigo fazer diferente. Eu estou neste projeto há cinco meses muito focada. Meus amigos falam pra voltar para eles, mas peço para esperarem um pouco mais. É o jeito que eu trabalho.
Como você vê esse formato de novela para o streaming e com menos episódios?
Eu espero que esse formato dê muito certo. É bom para o audiovisual depois de tantos desfalques que tivemos na classe artística, agora com essa retomada e esse interesse do público. Diziam que as novelas estavam saturadas até que o streaming aponta para esse mercado e começa a preparar duas novelas ao mesmo tempo [com Dona Beja e Beleza Fatal]. Para a gente, isso é muito importante. Estamos aqui abrindo mato, já que tudo é novo: o formato, a plataforma, a quantidade de episódios. É insano! Chego na minha casa exausta! Também estamos misturando uma galera que fazia novela com quem fazia cinema.
Sempre é difícil experimentar um novo formato…
É difícil, é cansativo. Estou exausta. Mas sempre que leio [o roteiro], a personagem me estimula muito. Ela é muito bem escrita pelo Daniel Berlinsky e pelo António Barreira.
Você acha que o futuro da novela está no streaming?
Hoje, ainda não consigo dizer. Estamos trabalhando freneticamente para ser, mas é uma aposta de um mercado que está se abrindo. É preciso ver se o público aceitará da forma que a gente espera.
E sobre seu futuro de carreira? Quer fazer mais cinema, depois de ‘Uma Família Feliz’, ou mais novelas?
Agora escolho o que quero fazer por prazer. Eu não tinha prazer antes. Eu fazia por dinheiro, por não ter profissão. Claro que a profissão de atriz sempre me encantou, mas, com o tempo, trabalhando com isso, fui vendo como tudo era absolutamente diferente. É lindo quando o ator escolhe o personagem e te coloca em uma reflexão. É lindo quando não é fazer por fazer. Tem uma diferença grande. Hoje, trabalho por prazer. É muito doido falar isso aos 40 anos no Brasil, com tantas dificuldades que a gente passa, mas faço parte de uma porcentagem pequena que pode fazer isso. Escolho personagens que podem causar alguma reflexão para mim e para o público. Entendi a importância da minha responsabilidade nesse lugar.
No começo, você teve dificuldades e enfrentou preconceitos por sair do Big Brother Brasil. Essa visão sobre você e seu trabalho acabou, então?
Comecei com um pedido do público. O Brasil me queria ali, me estimulava, confiava em mim. Era uma multidão que confiava em mim, gostava de mim. E eu não me sentia tão interessante assim. Mas me descobri como uma mulher corajosa, que se apaixona pelo que faz e que sempre quer fazer bem feito. Cada vez mais, me preocupo mais, me dedico mais e estou apaixonada pelo que faço.
*Repórter viajou para o Rio de Janeiro a convite da Max.
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