Júlia Lemmertz deu vida à última Helena das novelas de Manoel Carlos, na Globo, dez anos atrás. Tipicamente ambientada no Leblon, a personagem teria ares muito diferentes hoje, imagina a atriz. Para ela, Helena seria bem resolvida, ativa politicamente, engajada em causas sociais. “Uma Marielle Franco”, resume.
Em plena promoção do novo trabalho, a série Justiça 2, do GloboPlay, com estreia marcada para 11 de abril, Júlia conversou longamente com o Estadão por ligação de vídeo. Após relembrar o papel na novela Em Família, a última de Manoel Carlos em 2014, refletiu sobre o espaço de uma Helena na TV hoje.
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“A Helena é absolutamente contemporânea e moderna. Absolutamente humana. E ela é assim desde que a minha mãe fez.” Lílian Lemmertz, mãe da atriz, foi a primeira Helena de Maneco em Baila Comigo, de 1981.
Júlia enxerga a personagem como “uma mulher real”, conectada com as questões do próprio tempo e não-romantizada, falível. Por exemplo: a primeira teve filhos gêmeos separados no parto. A segunda, de Maitê Proença no início da década de 1990, criou a filha sozinha em Felicidade.
Talvez a mais emblemática, de Regina Duarte em Por Amor, de 1997, trocou o próprio bebê vivo pelo natimorto da filha para que a jovem não sofresse. Em todos esses cenários, e em outros das nove vezes que a protagonista apareceu, Helena é uma mulher apaixonada, dividida pelo amor e angustiada pelas relações familiares.
Realizada no amor
Para Júlia, se Maneco — ou alguém que o sucedesse, visto que acaba de completar 91 anos e não escreve mais novelas — se aventurasse a criar uma nova Helena, ela seria muito mais bem resolvida. “Talvez ela fosse sozinha, ou apaixonada por uma mulher. Tivesse um relacionamento homoafetivo e fosse tudo bem. Talvez ela fosse realizada no amor”, arrisca.
E com o coração em paz, Júlia acha que Helena teria outras coisas em mente, sendo uma mulher que fala com o mundo atual. “Ela poderia ser uma mulher múltipla. Talvez as questões fossem outras, mais no nível político, social. Ela poderia inclusive estar na política. Uma Helena hoje seria talvez até uma Marielle Franco. Uma mulher que luta pelas causas sociais e que está envolvida politicamente nas coisas. Porque política é sobre nós, política está em tudo”, diz, sobre a vereadora assassinada no Rio, em março de 2018.
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