Ícaro Silva fala de seu personagem em ‘Garota do Momento’, Duda Santos e mudanças na TV: ‘Orgulho’

Ele interpreta o dono de um boliche na nova novela das 6 da Globo; no elenco estão ainda Duda Santos, que vive a mocinha Bia, e Maísa, que estreia na Globo como vilã

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Foto do author Daniel Silveira
Atualização:

Ícaro Silva, de 37 anos, está em seu décimo personagem em novelas no folhetim Garota do Momento, que estreou nesta segunda, 4, em que dá vida a Ulisses. O ator começou sua carreira na televisão, em 1998, na infantil Meu Pé de Laranja Lima, exibida na Band. Isso inclui cinco temporadas de Malhação (entre 2003 e 2007), quando fez sua primeira participação em folhetins da Globo, como o estudante Rafa.

Na nova novela das seis, Ulisses é um cara bem diferente de Leonardo Gusmão de Cara e Coragem (2022), seu último folhetim. Seu personagem na trama de Alessandra Poggi é um empreendedor, dono do boliche Bowling Rock, melhor amigo de Beto (Pedro Novaes), que é uma das pontas do triângulo amoroso com Beatriz (Duda Santos, a Maria Santa de Renascer) e Bia (Maísa em sua estreia na Globo).

“Ulisses é filho de um casal que trabalhava em casa de família, e que também são empreendedores. Ele é uma figura que agrega as pessoas da comunidade. O boliche é um ponto de encontro dos jovens da novela e várias histórias se desenrolam ali”, comenta o ator em entrevista ao Estadão. “A vontade dele é de dar continuidade à prosperidade (dos pais)”, continua. Os pais do personagem serão interpretados por Tatiana Tiburcio e Cridemar Aquino, que serão Vera e Sebastião, respectivamente.

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Ícaro Silva é Ulisses na nova novela das seis, 'Garota do Momento', de Alessandra Poggi, que tem Duda Santos como protagonista. Foto: Beatriz Damy/Rede Globo

Ulisses é apaixonado por Glorinha (Mariana Sena), com quem tem um romance. A menina que se torna amiga de Beatriz assim que a jovem chega no Rio de Janeiro, vive na pensão de Iolanda (Carla Cristina Cardoso). E, apesar de ser um homem respeitador, o jovem vai se ver envolvido por esta mulher mais velha. “Embora ele seja um rapaz muito íntegro e honesto, vai se envolver numas confusões por conta dessa história com mais de uma mulher ao mesmo tempo”, comenta o ator que defende o personagem.

A relação entre Iolanda e Ulisses vai dar o que falar, já que a novela se passa nos anos 1950, um momento da nossa história em que as cobranças em torno das mulheres eram muito maiores do que atualmente e uma mulher livre como Iolanda podia ficar muito mal falada

Essa não é a primeira experiência de Ícaro vivendo um personagem de época. O ator esteve no elenco de Joia Rara (2013) e Verão 90 (2019) e também fez parte da série Coisa Mais Linda, da Netflix. “Sou muito curioso e gosto de investigar as coisas, então trabalhar com tema de outra época instiga muito a curiosidade e a vontade de investigar”, comenta o ator. “Como a gente não tem o mesmo nível de registro dos anos mais recentes, essa investigação se torna ainda mais preciosa, tenho me divertido muito e fico pensando em toda essa vida mais analógica que as pessoas tinham nas décadas passadas, isso muda a própria relação com o tempo”, continua.

Carla Cristina Cardoso é Iolanda, com quem Ulisses terá um caso. Foto: Beatriz Damy/Rede Globo

Uma vida cheia de arte

Apesar de ter começado a carreira de ator aos 11 anos, a primeira ligação de Ícaro com as artes foi por meio das palavras. Aos seis anos, ele escreveu seu primeiro livro, de um total de três. Quem apresentou o mundo das letras para o pequeno foi seu pai, que era segurança em uma biblioteca pública e pegava livros emprestados para os filhos (o ator tem uma irmã mais velha).

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“Olho minha história com orgulho e tenho muito amor pela criança Ícaro, sou grato aos meus pais por eles terem me apresentado o mundo das palavras e terem incentivado as minhas habilidades artísticas desde cedo”, diz o artista. “Tenho muito carinho pela minha trajetória e, junto com vários colegas de gerações passadas e novas, acho que faço parte de um momento da história em que a gente vê mudanças mais efetivas no sentido de abraçar a todos os tipos de pessoas e públicos”, continua o ator que em Cara e Coragem fazia parte do núcleo principal, que tinha Taís Araujo como uma das protagonistas.

Em entrevista ao Estadão na época do lançamento da novela, a atriz destacou a importância de ter uma história em que sua personagem tinha pai, mãe e irmão - uma família completa -, o que era pouco comum em produções mais antigas. Nos últimos anos, a dramaturgia da Globo tem passado por uma transformação e as novelas têm escalado cada vez mais atores e atrizes negros para suas novelas. Com a estreia de Garota do Momento, todas as três novelas da emissora terão atrizes negras como protagonistas: Mania de Você tem Gabz e Volta por Cima tem Jéssica Ellen.

“Vejo isso a partir do meu entorno, do momento que tenho vivido. Estou trabalhando em uma novela em que Duda Santos é protagonista e quando a vejo em cena, quando converso com ela fora de cena, entendo que existe uma mudança efetiva”, comenta. “Estou olhando para essa mudança a partir de meu trabalho, minha indústria, e vejo que a transformação está acontecendo e não acho que seja retornável, a gente não retrocede nesse sentido”, pontua.

Ícaro diz acreditar que as escolhas de elenco são reflexos de uma transformação que também está nas pessoas que antes não se viam na TV. “Pessoas não brancas, LGBT, todas as ‘não normativas’ da nossa geração têm muito mais ideias de com o que trabalhar e elas conseguem, têm a possibilidade de se entender melhor no mundo”, reflete o ator. “E aí falando de mim especificamente, fico muito feliz de estar no trabalho em que a Duda Santos, que é muito talentosa e muito dedicada, seja protagonista, nesse momento eu olho para o meu mercado, meu trabalho, minha indústria com otimismo”, afirma.

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E diante de tanta gente preta na tela da TV, como não celebrar essas histórias? Mais que isso, Ícaro celebra a trajetória dele, de quem veio antes e de quem vem depois, num claro exemplo de respeito pela ancestralidade. “Quando se fala de cultura, sociedade, filosofia preta, de ancestralidade africana, a gente fala de continuidade, que ‘eu sou porque nós somos’ (significado da palavra ubuntu, que tem origem nas línguas Bantu, faladas pelos povos da África Subsaariana)”, explica. “A minha trajetória começa antes de mim, vem com o Luis Miranda e, antes dele, com Milton Gonçalves (1933-2022) e, antes dele, com Grande Otelo (1915-1993). Minha trajetória é a continuidade da trajetória dos meus e a da Duda é a continuidade da minha. Por isso eu olho para ela com tanto orgulho”, continua.

“Todas as pessoas não normativas que vieram antes de mim, e as que estão vindo depois, também são eu, então fico feliz e orgulhoso de saber que ajudei a dar esse passos na nossa trajetória como comunidade, como família. Eu sou um pouco Luís Miranda e Duda e é uma alegria sem fim poder ver os dois vivos e trabalhando. A gente (pessoas não normativas) tem construído nosso caminho com muita firmeza e com muita dedicação”, finaliza.

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