Incêndio na Globo de 1976: Como foi desastre que destruiu arquivos do ‘Fantástico’

Relembre detalhes sobre o fogo e o depoimento de Berto Filho, que estava no ar pelo ‘Jornal Hoje’ quando o fogo começou

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Foto do author André Carlos Zorzi
Atualização:

O Fantástico deste domingo, 6, exibe uma reconstituição do que foi o programa de estreia, há 50 anos. Isso porque o material original foi perdido em um grande incêndio na Globo em 4 de junho de 1976. Relembre detalhes sobre o episódio abaixo.

Imagens do incêndio na Globo em 1976 exibidas durante o 'Fantástico' especial de 50 anos em 2023 Foto: Reprodução de 'Fantástico' (2023)/TV Globo

O incêndio na Globo em 1976

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“Ninguém levou a sério o primeiro sinal de incêndio na TV Globo. Eram cerca de 10 horas da manhã e um funcionário vira sair fumaça de uma das salas de ar-condicionado. Uma hora mais tarde, outro funcionário também notou que havia fumaça, mas o fato não despertou maior atenção, afinal - pensavam todos - já houve cinco ameças de incêndio na Globo, há última há dois meses”, relatava o Estadão à época.

Naquele dia, por volta das 13h, o Jornal Hoje ia ao ar ao vivo. O apresentador Berto Filho lia uma notícia enviada por telegrama sobre a guerra no Líbano. Em outro estúdio do mesmo prédio da Globo, no Rio de Janeiro, Pepita Rodrigues e Renée de Vielmond gravavam uma cena como Stela e Léa, suas personagens da novela Anjo Mau.

Segundo informações publicadas pelo jornal O Globo no dia seguinte ao incêndio, a causa teria sido a explosão de um computador de programação na sala de controle mestre de VT, no 2.º andar do prédio da rua Von Martius, no Jardim Botânico. Posteriormente, constatou-se também que o problema teria surgido por conta de um ar-condicionado. Quem estava lá solicitou a que o comando da programação fosse transferido para São Paulo e saiu pela janela, por conta da fumaça.

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Estima-se que havia 600 pessoas no prédio - algumas dezenas foram atendidas por ambulâncias e cerca de 10 encaminhadas para o Hospital Miguel Couto. Já do lado de fora, formaram-se ‘cordões’ humanos para tentar resgatar materiais que pudessem ser salvos.

Nomes conhecidos do público, como Milton Gonçalves e Armando Nogueira, estavam por lá. O diretor Walter Clark pedia que não jogassem água sobre as fitas, o que as danificaria. Vendo a falta de organização e o acúmulo de curiosos na região, o ator Murilo Néri se propôs a formar um cordão de isolamento em volta do prédio.

Os estragos do incêndio da Globo em 1976

Quanto aos estragos, conforme consta no O Globo de 5 de junho de 1976:

“Dois funcionários conseguiram entrar na sala de fitas de programação em tráfego, onde são guardados os tapes de novelas antigas, e saíram com a informação de que tudo fora destruído pelo fogo”.

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Dias depois, em 8 de junho, o mesmo jornal destacava que haviam sido perdidos 80% dos números musicais do Fantástico, foram perdidos todos os Casos Especiais em preto e branco, 35 capítulos de O Espigão e alguns de Irmãos Coragem e Vila Sésamo. Materiais que sequer haviam ido ao ar também tinham sumido.

‘Incêndio na Globo poderia ter sido evitado’

Segundo consta no Estadão da época, os bombeiros que foram ao local reclamaram da falta de ação.

“Segundo eles, o incêndio poderia ter sido evitado se fosse combatido logo no início. Eles acham, inclusive, que uma ação mais rápida poderia ter impedido que o fogo atingisse o controle mestre da TV, o equipamento mais sofisticado da emissora.”

A reportagem ainda destacava o esforço dos funcionários. Léo Oliveira Magalhães, então diretor da divisão de filmes da Globo, chegou a desmaiar no momento em que tentava salvar alguns arquivos de longa-metragem quando a fumaça já havia se espalhado pelo local.

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“A TV Globo tem uma equipe de bombeiros e um sistema contra incêndios, mas ambos não funcionaram. Às duas horas da tarde, o fogo, que começou na estação central de ar-condicionado, ameaçava os dois primeiros andares enquanto funcionários tentavam salvar videoteipes gravados. Foi principalmente graças a eles que se conseguiu retirar do segundo andar quase todos os rolos.”

O relato de quem estava ao ar quando a Globo pegou fogo

Berto Filho, que estava no ar no momento do incêndio à frente do Jornal Hoje, relatou sua visão dos acontecimentos em entrevista ao O Globo. Após ler a notícia sobre o Líbano, entraram no ar comerciais. Ele se preparava para falar sobre um jogo da seleção brasileira no México, mas reparou que, em vez de a imagem voltar para ele após os reclames, “entrou um slide do jornal”.

“O pessoal da técnica falava muito, mas nós não podíamos escutar, porque não tínhamos fones. Mas começamos a notar que algo não ia bem”, dizia. Segundo ele, um dos câmeras chegou a avisar que “a estação estava pegando fogo” cerca de cinco minutos antes, mas, não foi levado a sério e o telejornal continuou.

Berto ainda foi para a redação, onde os funcionários ainda não estavam cientes do fogo. “Disse a eles que havia um incêndio na estação, mas ninguém acreditou. Só depois quando viram a fumaça é que começaram a se movimentar e deixar o prédio, mas tudo na maior tranquilidade”.

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Globo mandou provisoriamente seu jornalismo para SP após incêndio de 1976

Menos de uma hora depois, consta que Armando Nogueira, então diretor de jornalismo da Globo, fez uma reunião com sua equipe em uma calçada para definir os rumos da emissora. Poucas horas depois, os apresentadores Cid Moreira e Berto Filho foram enviados para São Paulo, cidade que agora receberia os principais telejornais nacionais da Globo.

Por volta das 14h30, Roberto Marinho, presidente do grupo, chegou ao local do incêndio. Ele fez uma reunião com a diretoria da emissora e saiu sem dar grandes declarações além de que considerou que o novo incêndio havia sido “muito maior que o outro”, em referência ao de cinco anos antes, em 1971.

No dia seguinte ao incêndio, às 9h, a emissora organizou uma “missa de ação de graças” no Teatro Globo de São Paulo por conta da ausência de vítimas fatais no desastre.

A emissora buscou passar uma imagem de impassividade diante do ocorrido, ressaltando o fato de que a emissora ficou “apenas um minuto fora do ar”, e sem promover alterações imediatas em sua programação ou mudar datas de estreia de programas já anunciadas. “Fogo nenhuma caba com a Globo”, disse o diretor-geral Walter Clark na ocasião.

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