Ingrid Guimarães é uma especialista do humor - como poucos profissionais, ela sabe a exata entonação, o tempo necessário, enfim, a melhor forma de se dizer uma frase que arranque gargalhadas. Mas, mesmo senhora de seu ofício, Ingrid passou as últimas semanas estudando como fazer sua arte de uma forma diferente - é que, em Novo Mundo, nova novela das 18h da Globo, que estreia em 22 de março, ela será Elvira, atriz portuguesa que, nos anos 1800, é obrigada a cruzar o oceano Atlântico numa caravela até chegar ao Brasil.
“Como é uma mulher que precisa sobreviver, ela exibe uma moral particular, que busca o próprio bem estar. Afinal, artistas, naquela época, faziam teatro para ter o que comer”, conta Ingrid que, na busca do mais fino humor, estudou a melhor maneira de exibir um sotaque português. “É difícil fazer graça em outra língua, por isso, conversei com comediantes de Portugal até descobrir o sotaque adequado para o meu timing de humor.”
Elvira não apenas marca a volta de Ingrid às novelas (a anterior foi Sangue Bom, de 2013) como retoma um papel marcado pela vilania. Afinal, ao se aproveitar de uma bebedeira do ator Joaquim (Chay Suede), a atriz consegue obrigá-lo a se casar com ela. Com isso, consegue afastá-lo de seu verdadeiro amor, Anna (Isabelle Drummond). “Afirmo, sem medo de errar, que se trata de meu melhor personagem na Globo”, garante Ingrid. “Elvira passeia por todos os momentos da trama e, apesar de ser uma vilã, tem humor e provoca emoção.”
Como membro de um grupo de Commedia Dell Arte (forma de teatro popular em que os artistas se apresentavam nas ruas e em praças públicas), Elvira não se pode dar ao luxo de ter privilégios. “Ela tem que puxar a carroça que leva o grupo, também é a figurinista, enfim, exerce todo tipo de função”, conta Ingrid, que tomou aulas sobre a Commedia, em que aprendeu até a fazer máscaras. Outra fonte de pesquisa foi o filme Viagem do Capitão Tornado, de Ettore Scola. “Ao mesmo tempo, por ser uma artista, suas atitudes são muito teatrais.”
Aos desinformados que ainda se surpreendem com as habilidades cênicas de Ingrid Guimarães, é preciso lembrar que ela tem sólida base teatral. Nascida em Goiânia, se mudou ainda jovem para o Rio, onde estudou na tradicional escola de teatro do Tablado. Disposta a aumentar os horizontes, transferiu-se para São Paulo no final da década de 1990. Detalhe: Ingrid já era nacionalmente famosa com a peça Confissões de Adolescente, em que dividiu a escrita com Maria Mariana. Mesmo reconhecida pelo grande público, não se acomodou com as facilidades da fama e se submeteu ao rígido método interpretativo de Antunes Filho, ensinamento que lhe valeu atuar com segurança na peça dramática O Diário de Anne Frank. Ingrid ainda participou da montagem de Os Sete Gatinhos, de Nelson Rodrigues e dirigida por Moacyr Góes.
Tal bagagem permite aos mais atentos notar detalhes na interpretação da atriz - ainda que o humor se sobressaia, a ponto de Ingrid ser hoje a atriz brasileira que mais público atraiu nos cinemas, com mais de 18 milhões de pessoas. Escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, com direção artística de Vinicius Coimbra, Novo Mundo é uma aventura romântica ambientada no Brasil do início do século 19, entre 1817 e 1822. Período em que o heroísmo era principalmente um ato de sobrevivência. “Isso nos permite participar de grandes cenas”, observa Ingrid. “O primeiro capítulo se parece com um filme de aventura: Elvira rouba ouro na festa de despedida da família real, que se transfere para o Brasil. Mas ela é pega. Antes disso, ela pula em rio e vive no limite. Parece as aventuras de Jack Sparrow. As gravações têm sido divertidas, mas muito cansativas.”
As insinuações amorosas também são motivo para cenas engraçadas. “Como sempre foram mais libertários, os artistas acostumaram-se a ter uma liberdade sexual maior que a dos nobres”, diverte-se ela, que vai dividir a vilania com Gabriel Braga Nunes, intérprete de Thomas Johnson, espião da corte portuguesa que se passa por herói da marinha britânica mas, no fundo, é um mercenário e um traficante de escravos.
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