Morre Léa Garcia aos 90 anos; atriz receberia homenagem no Festival de Gramado nesta terça

Relembre a trajetória da atriz que teve passagens marcantes pelo teatro, cinema e televisão e foi indicada ao prêmio do Festival de Cannes em 1959, por ‘Orfeu do Carnaval’

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Por Redação
Atualização:

A atriz Léa Garcia morreu nesta terça-feira, 15, aos 90 anos. A informação foi confirmada pela família da artista por meios das redes sociais. Léa estava em Gramado, no Rio Grande do Sul, para participar do Festival de Cinema de Gramado. De acordo com o Hospital Arcanjo São Miguel, citado em nota pela organização do evento, a causa da morte foi um enfarte agudo do miocárdio.

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Léa Garcia seria homenageada na noite desta terça-feira, 15, no Festival de Gramado, ao lado de Laura Cardoso, com o troféu Oscarito. As duas foram vistas juntas no sábado, 12, em uma das sessões do festival.

Após a confirmação da morte, a organização informou que, a pedido da família, a homenagem será mantida. O filho da atriz, Marcelo Garcia, receberá o troféu em nome da mãe no palco do Palácio dos Festivais no início da primeira sessão.

Já a entrega do troféu Oscarito para Laura Cardoso foi reagendada. A cerimônia será realizada na sexta-feira, 18 de agosto, também no Palácio dos Festivais.

Léa Garcia seria homenageada com o troféu Oscarito no Festival de Gramado nesta terça-feira, 15. Foto: Cleiton Thiele/Festival de Gramado/Divulgação

Léa, homenageada agora pelo conjunto da obra, já ganhou Kikitos, por Filhas do Vento, Hoje tem Ragu e Acalanto. A atriz também já foi indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes por sua atuação no filme Orfeu Negro.

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A atriz soma mais de 100 produções, incluindo cinema, teatro e televisão, e continuava no pleno exercício da profissão. Recentemente, ela estava em negociação para reviver a personagem Chica Xavier no remake da novela Renascer, segundo informações do jornal O Globo.

Léa fez uma participação especial na série Vizinhos, que estreia no Canal Brasil no próximo dia 25. Dirigida por José Eduardo Belmonte, a produção traz 12 atores que se revezam em diferentes papéis para gerar reflexões sobre o próprio comportamento.

A artista esteve em cartaz nos palcos de São Paulo no final do ano passado ao lado de Emiliano Queiroz. Os dois apresentaram o espetáculo A Vida Não É Justa, dirigida por Tonico Pereira, no Sesc Santana.

Neste ano, Léa ganhou uma biografia, e compareceu ao lançamento de Entre Mira, Serafina, Rosa e Tia Neguita: a Trajetória e o Protagonismo de Léa Garcia, escrita por Julio Claudio da Silva.

Léa marcou a dramaturgia e a história brasileira com seu ativismo antirracista

Nascida em 11 de março de 1933 no Rio de Janeiro, a Léa Garcia teve grande importância ao coroar o espaço de artistas negros na dramaturgia brasileira.

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Foi aos 16 anos que ela conheceu o Teatro Experimental do Negro (TEN), grupo liderado por Abdias Nascimento, conforme a biografia traçada pelo Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros). A estreia da atriz nos palcos se deu em 1952, com Rapsódia Negra, em que ela interpretava uma poesia de Castro Alves. Demorou para que Abdias a convencesse a atuar, mas Léa estaria presente em sete montagens do TEN.

Foram inúmeros os espetáculos em que Léa esteve presente com sua voz firme. Dentre elas, estão Anjo Negro e Perdoa-me por traíres, de Nelson Rodrigues, além de outros clássicos, como Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, e Piaf, ao lado de Bibi Ferreira.

Orfeu da Conceição daria origem a uma das obras mais marcantes de sua carreira: Orfeu do Carnaval, lançado fora do Brasil como Orfeu Negro, de 1959. Dirigido pelo cineasta francês Marcel Camus, o longa foi laureado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e também foi vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960.

Léa Garcia em cena do filme 'Orfeu do Carnaval'. Foto: Arquivo/Estadão

Em Cannes, a artista foi indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina, mas acabou ficando em segundo lugar. Léa também colecionou participações em diversos outros filmes, como Ganga Zumba e O maior amor do mundo, de Cacá Diegues.

O cineasta Joel Zito Araújo, que trabalhou com a atriz em Filhos do Vento, longa premiado no Festival de Gramado, e O Pai da Rita, enalteceu a trajetória da atriz após o anúncio da morte. “Perdemos ela no apogeu do seu reconhecimento artístico, que veio tarde, mas veio. [...] Enquanto o Brasil perde uma estrela de primeira grandeza, o Orum fica mais bonito”, escreveu.

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Na televisão

O início do apogeu da carreira da atriz na teledramaturgia ocorreu no início da década de 1970, em que Léa interpretaria uma de suas personagens mais marcantes na novela A Escrava Isaura, da TV Globo. A artista viveu Rosa, uma escrava atingida pelas injustiças sociais que se tornaria uma das vilãs do folhetim.

Outras novelas também marcariam a trajetória da artista na televisão brasileira, como Selva de Pedra, Xica da Silva e O Clone. Léa teve imenso destaque na quebra de personagens que eram direcionados a atrizes negras.

Ativismo fora das telas e dos palcos

A atriz também levaria seu ativismo antirracista para fora dos palcos e das telas. Ela foi servidora pública no Ministério da Saúde, ingressando no Departamento Nacional de Endemias Rurais na década de 1960, e também trabalhando no Hospital Psiquiátrico Philippe Pinel até a década de 1990.

No hospital, a artista desenvolveria atividades que uniam teatro e terapia em prol dos pacientes do local, que, segundo a plataforma Google Arts & Culture, possivelmente teria sido inspirada em atividades realizadas no TEN para aliviar os efeitos do racismo.

Léa deixa um legado que transcende suas personagens e adentra na história da resistência da arte brasileira.

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