Mariana Ximenes relembra 25 anos de carreira, da Anna Júlia dos Los Hermanos à terrível vilã Gilda

Em conversa com o ‘Estadão’, atriz de 42 anos contou histórias da vida profissional e das alegrias, encontros e amigos que fez desde o início da carreira, aos 17; relembre personagens

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Foto do author Daniel Silveira
Atualização:

Em Amor Perfeito, ela foi Gilda, a vilã ambiciosa, bonita e capaz de qualquer coisa para conquistar o que queria, inclusive atirar no marido e acusar a enteada do crime, tudo isso no primeiro capítulo da novela. Celebrando 25 anos de carreira, Mariana Ximenes coleciona personagens que estão na lembrança das pessoas de todo o País, como a doce Celi, de Andando nas Nuvens (Euclydes Marinho, 1999), a espevitada Bionda de Uga Uga (Carlos Lombardi, 2000), a viuvinha Ana Francisca de Chocolate com Pimenta (Walcyr Carrasco, 2003) e, mais recentemente, Capitu, personagem icônico da literatura brasileira no filme Capitu e o Capítulo de Júlio Bressane.

A atriz Mariana Ximenes celebra seus 25 anos de carreira com personagens marcantes, incluindo a vilã Gilda de 'Amor Perfeito', sua última participação em novelas. Foto: Andre Nicolau/Divulgação

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A carreira na TV começou aos 17, quando a atriz estreou em Fascinação, novela de Walcyr Carrasco, autor com quem trabalharia novamente interpretando sua primeira protagonista e um de seus papeis mais marcantes até hoje, Ana Francisca. Atualmente, aos 42, Mariana celebra os inúmeros personagens, em novelas, filmes, minisséries e espetáculos de teatro. “Outro dia, fui no aniversário de uma amiga e o irmão dela falou comigo: ‘gosto de você desde Bionda’”, diz em entrevista ao Estadão. Ao ser lembrada disso, Mariana afirma ter se dado conta - mais uma vez - de quantos trabalhos já tinha feito. “E cada geração viu uma coisa, as meninas mais novas disseram que me viram na reprise de Chocolate com Pimenta”, se diverte.

Sucesso de audiência desde a primeira exibição há 20 anos, a novela é um marco na carreira de Mariana. E enquanto era exibida no horário das 14h - nova faixa na grade da Globo para reprises - a atriz também podia ser vista em Amor Perfeito. “Foi muito curioso ter as duas concomitantemente no ar, dois exemplos fortes da minha carreira”, diz. Além, é claro, de ser uma ótima oportunidade de observar o amadurecimento de Mariana em frente às telas.

Mariana Ximenes deu vida à malvada Gilda Rubião na novela 'Amor Perfeito'. Foto: Paulo Belote/Globo

Desafio

Gilda não foi a primeira vilã de Mariana - a atriz deu vida a Clara de Passione em 2010, novela de Silvio de Abreu. Mas ela conta que teve bastante trabalho ao construir a madrasta má de Amor Perfeito, uma personagem com muitas camadas e que exigiu bastante dela. “Vilãs são muito desafiadoras, surpreendentes e inquietas e Gilda tem tinha muitas camadas”, começa. “Pude viver com ela sentimentos que não são possíveis de acessar se não for por meio de um personagem, é um desafio poder viver o inconcebível”, continua.

Mariana lembra que, quando foi convidada para Gilda, chegou a comentar com os autores (Duca Rachid, e Elisio Lopes Jr.) o quanto seria desafiador viver a vilã, que já no primeiro capítulo mostrou toda a maldade de que era capaz. A atriz revela trabalhar ao lado da psicanalista Katia Achcar há 15 anos, que a auxilia a construir suas personagens. “Ela me ajuda muito a entender o comportamento humano, a gente sabia que Gilda teve uma infância difícil, não recebeu amor, tinha escapado de uma casa de prostituição, passou fome e, ao longo da trama, eu fui recebendo as cenas do passado dela, que também me ajudou muito na construção”, diz.

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Ainda sobre Gilda, a atriz afirma que foi importante ver como ela também amadureceu ao longo da novela. “Uma pessoa que não recebeu carinho de pai e mãe tem consequências, ao longo da trama, ela se apaixonou por Orlando, recebeu amor de uma criança, foi se modificando e isso foi muito interessante. Passamos por essa vilã pérfida, fria, que mandou matar um bocado de gente e que se apaixonou”, diz. E no fim das contas, ela ressalta, “amor é sempre uma boa lição”.

Mariana Ximenes deu vida a Vicky no piloto da série Sandy & Juniorm, que foi ao ar como especial de fim de ano em 1998, na Globo. Foto: Caio Guatelli/Agência Estado/Arquivo - 02/11/1998

Revivendo clássicos

Voltando ao passado, um dos primeiros trabalhos de Mariana Ximenes na Globo foi no especial Sandy & Junior, exibido no final de 1998, em que a atriz interpretava Vicky, estudante bolsista da escola que era o principal cenário da produção. O programa, que foi o piloto da série, contava uma história em que a menina era alvo de ódio e bullying de outros personagens por ser pobre.

“Foi lindo ter feito essa participação, foram amigos que eu ganhei para sempre, eu estava no terceiro ano do Ensino Médio e não podia faltar aula, minha mãe só me deixou fazer se eu não faltasse”, lembra. Mariana conta que para não perder nenhum dia letivo durante as gravações, ia com o cabelo arrumado para a escola, usando um boné e depois das aulas ia para Campinas, onde a série foi rodada.

Uma curiosidade da carreira de Mariana foi o fato da atriz reproduzir duas cenas clássicas do cinema, sendo uma delas vivida duas vezes. A primeira aconteceu justamente no piloto de Sandy & Junior, quando ela teve um momento Carrie, A Estranha, tomando um banho de tinta. A cena se repetiu em Chocolate com Pimenta, quando Ana Francisca é humilhada em um baile, na primeira fase da novela.

Outra cena clássica, que também aconteceu na novela de Walcyr foi a reprodução de ... E o Vento Levou, quando Ana Francisca promete se vingar de todos que a humilharam. “Eu assisti a ...E O Vento Levou quando tinha 12 anos, e como sempre quis ser atriz, sempre procurei saber dos clássicos, meu pai também falava para que eu conhecesse para ter referência”, conta. “Me lembro de assistir a essa cena e quando fui refazer fiquei muito emocionada pensando ‘meu Deus, estou reproduzindo, não estou acreditando que ganhei isso de presente’”, rememora. “Sou muito grata ao Walcyr, ele me deu minha primeira protagonista”, continua.

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Presentes

Um presente de quem a conheceu ainda muito jovem, afinal, Mariana estreou na TV numa novela de Walcyr para o SBT. “É muito bom quando a pessoa acredita em você e nesse nível, eu dei o melhor de mim ali, o que eu poderia dar aos 22 anos, hoje em dia eu olho e digo: ‘fui muito sortuda, privilegiada’”.

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Nos últimos 25 anos, a atriz celebra também que seus trabalhos tenham te levado a conhecer tantas pessoas interessantes e que se tornaram grandes amigos. “Foram lindos encontros, eu tive muitas oportunidades que eu levo pra minha vida inteira”, comemora. “Minha formação de atriz e vida adulta foi no Rio de Janeiro, na Globo, eu cresci mesmo, né? E isso é muito especial”, conta, relembrando nomes com quem trabalhou e que se tornaram amigos como Laura Cardoso, Ary Fontoura, Osmar Prado, Marco Nanini (que viveu seu pai em Andando nas Nuvens).

Entre os papeis marcantes, Mariana também lembra de seu trabalho como Anna Julia, personagem do clipe da música de mesmo nome da banda Los Hermanos, quando o grupo carioca ainda estava no início da carreira. “Eu tinha 17 anos, me mandaram uma fita demo, coloquei no no toca-fitas e pensei: ‘meu Deus isso é muito bom, vou fazer’. Foi lindo, um sucesso estrondoso e até hoje, quando tocam numa festa me chamam no palco”, se diverte.

“Eu tenho boas histórias”, brinca a atriz, lembrando também de uma passagem com Zé Celso, diretor do Teatro Oficina, morto este ano. “Eu não consegui assistir a Os Sertões nem no Rio nem em São Paulo, daí ele foi fazer uma apresentação em Canudos e eu resolvi ir. Ele me fez uma proposta: ‘vamos fazer uma aventura, você faz uma pessoa perambulando’”, lembra rindo. “Foi incrível, tenho uma história com o Zé, não tive a oportunidade de ser dirigida por ele, mas pude viver essa energia que ele evocava”, pontua.

Agora, sem projetos, por enquanto, Mariana diz que vai aproveitar o fim da novela para uma pausa. “Não tive nem tempo para parar e pensar nas férias, mas preciso voltar para minha casa em São Paulo, ficar um tempo, colocar minha saúde em dia”, comenta. “Preciso me organizar porque vivi intensamente, a Gilda foi uma personagem que eu tinha que me conectar com um energia que não era minha, então agora meu destino é minha casa”, finaliza.

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