A política esteve presente ao longo de praticamente toda a vida de Silvio Santos, que morreu neste sábado, aos 93 anos. Seja como apresentador de comícios durante a juventude, durante sua aproximação com o governo federal à época em que buscava uma emissora própria de TV ou até mesmo nas ocasiões em que se filiou a partidos políticos e tentou se lançar como candidato a prefeito, governador e presidente.
Desde o lançamento de seu primeiro canal de TV, no fim da década de 1970, Silvio passou a cultivar relações amistosas com praticamente todos os presidentes que passaram pelo comando da República. Em ordem: João Batista Figueiredo (1979-1985), José Sarney (1985-1990), Fernando Collor (1990-1992), Itamar Franco (1992-1995), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010; 2023-), Dilma Rousseff (2011-2016), Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2022). “Não sou amigo dos presidentes, sou amigo das pessoas”, explicava durante entrevista no fim dos anos 1980.
Destaca-se também a veiculação da Semana do Presidente, quadro de alguns minutos que era exibido aos domingos em sua emissora e resumia feitos do mandatário ao longo da semana anterior, que existiu entre as gestões de Figueiredo e FHC.
Na década de 1980, o apresentador usou seu programa para explicar o motivo do jornalismo do SBT muitas vezes abordar o lado positivo de políticos, mesmo em condições adversas: “A minha estação de televisão, enquanto eu viver, vai procurar no ser humano as qualidades do ser humano. Porque o homem brasileiro, desde o faxineiro até o presidente da república, nenhum deles sai de casa dizendo ‘hoje eu vou errar’. Todos saem de casa com a intenção de acertar. Fazem dez coisas, erram três, e os jornais e a televisão só encontram os três defeitos, não encontram as sete qualidades. Qual é o ser humano que vai progredir se não recebe estímulo, se só recebe cacetada da imprensa, da televisão?”
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Relembre abaixo alguns dos encontros que Silvio Santos teve com presidentes da República ao longo dos anos:
Silvio Santos e Jair Bolsonaro
Uma série de elogios e demonstrações públicas de apoio foram trocados pelo apresentador e o vencedor das eleições de 2018. Em dezembro de 2020, por ocasião do lançamento de selos em homenagem aos 90 anos de Silvio Santos, o apresentador afirmou que simpatizava com o político: “O pessoal fala: ‘Silvio Santos tem carisma’. O que é carisma? Não sei. Não se aprende na escola, é carisma, é inexplicável. O pessoal gosta do Bolsonaro da maneira como o Bolsonaro é”.
“O senhor tem um carisma que ninguém consegue entender. É uma realidade, está no sangue, na sua simpatia, no seu sorriso característico. Assim sendo, nada como, em vida, imortalizar a sua pessoa aqui no Brasil”, retribuiu Bolsonaro na ocasião.
Outros momentos, como um almoço na casa do apresentador em dezembro de 2018, pouco antes de sua posse, sua participação no Programa Silvio Santos para abordar a reforma da previdência em maio de 2019 e a aparição ao lado de Silvio e Edir Macedo nas festividades pelo Dia da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 2019, também chamaram atenção.
Em junho de 2020, Bolsonaro recriou o Ministério das Comunicações, entregando a pasta ao então deputado federal potiguar Fábio Faria, casado com Patricia Abravanel, uma das filhas do dono do SBT. “Vamos ter alguém que não é profissional do setor, mas tem conhecimento até pela vida que tem junto à família do Silvio Santos”, justificou o presidente sobre a escolha.
Silvio Santos e Michel Temer
Em 28 de janeiro de 2018, o apresentador recebeu o então presidente do Brasil no palco do Programa Silvio Santos. A participação durou cerca de 14 minutos, e a dupla tentou ‘traduzir’ a reforma da previdência para um público pouco acostumado a termos econômicos. “Não aprovar a reforma da Previdência não é piada, não é bazófia, se não fizer a reforma não vamos ter dinheiro para pagar os aposentados”, comentou Silvio.
Temer encerrou sua participação em meio a sorrisos, entregando uma nota de R$ 50 para o dono do SBT: “Vou fazer uma coisa que você faz com suas colegas de trabalho, vou passar um dinheiro para você”.
Silvio Santos e Dilma Rousseff
Uma das poucas vezes em que o empresário se encontrou com a ex-presidente Dilma foi no dia da exibição do debate presidencial para as eleição de 2014, na qual ela acabaria se reelegendo, no SBT. Na ocasião, ele também conversou com Aécio Neves, candidato do PSDB ao pleito.
Foi durante a gestão da petista que, em 5 de maio de 2016, seu nome esteve entre os que obtiveram a Ordem do Mérito das Comunicações por parte do governo, que “reconheceu serviços relevantes prestados às comunicações” por parte de Silvio Santos.
Silvio Santos e Lula
Em 22 de setembro de 2010, duas semanas antes do primeiro turno da eleição que resultaria na vitória de Dilma, Silvio foi ao Planalto para encontrar o então presidente Lula em seu último ano de mandato. Sobre a conversa, disse que o foco foi o pedido por uma contribuição financeira ao programa de caridade Teleton, além da possibilidade de sua presença na abertura daquele ano.
“Ele disse para mim que sempre é a favor dos menos protegidos. Ele acha que mesmo que não continue no governo, vai continuar dando atenção para aqueles que merecem mais atenção. Me lembro que vim falar com o Itamar há uns 20 anos, estava no gabinete, batemos um grande papo. Depois, nunca mais eu vim a Brasília para fazer nada. Hoje foi a oportunidade que eu tive de dar um abraço nele, conversar com ele, enfim, visitar o Lula. Minha visita não é ao presidente, é ao Lula. Desde que o conheço, sempre foi o Lula”, afirmou a jornalistas.
Silvio Santos e Fernando Henrique Cardoso
Em 1996, Fernando Henrique Cardoso visitou as instalações do complexo do Centro de Televisão (CDT) da Anhanguera do SBT, que, à época, ainda estava sendo construído na região de Osasco. O local foi definido como uma “fábrica de sonhos” pelo presidente, que foi acompanhado por Silvio durante a maior parte da visita.
Silvio Santos e Itamar Franco
O primeiro encontro público de Silvio Santos com FHC, porém, ocorreu anos antes, à época em que o apresentador abriu espaço em seu programa para que ele, como Ministro da Fazenda de Itamar Franco, explicasse ao público sobre as medidas econômicas recém-lançadas. “Ele foi lá e deu um show. Explicou muito mais apropriadamente do que eu seria capaz ao auditório dele o que era o Plano Real e URV”, relembrou Cardoso sobre a ocasião em entrevista à BBC, em 2019.
Algo semelhante já havia sido feito durante o governo de José Sarney, quando o ministro da Fazenda Dilson Funaro abordando o Plano Cruzado no 1º trimestre de 1986, e com Zélia Cardoso de Mello, em 1990, falando sobre as políticas adotadas por Fernando Collor. Posteriormente, o apresentador abriria espaço semelhante a Temer e Bolsonaro para falar sobre medidas do governo em suas gestões.
Além do espaço dado à aposta econômica de Franco, Silvio também se encontrou com o então presidente no Palácio do Planalto por volta de 1994. “Estive aqui há 20 anos, me lembro que vim falar com o Itamar, ele ainda estava no gabinete, batemos um grande papo”, citou o apresentador após visita a Lula no local em 2010.
Silvio Santos e Fernando Collor
Em 1991, Silvio foi a Brasília para se encontrar com Collor, mas não deu grandes detalhes sobre o motivo da visita. Naquele mesmo ano, Silvio conseguiu o reconhecimento de sua Tele Sena como um plano de capitalização por parte do Ministério da Fazenda.
Silvio Santos e José Sarney
Em 10 de maio de 1985, Silvio Santos se reuniu com Sarney num de seus primeiros meses como presidente do Brasil. Três anos depois, em 1988, questionado sobre sua opinião a respeito do governo Sarney, Silvio Santos respondia em entrevista à Folha de S.Paulo: “Não tenho nada a ver com isso. Eu sou concessionário [por ter uma concessão de TV], um ‘office boy’ de luxo do governo. Faço aquilo que posso para ajudar o País e respeito o presidente, qualquer que seja o regime”.
Já sobre o presidente como pessoa, tinha outra visão: “Gosto muito do Sarney, é um homem polido, um homem bom, conheci a família. Acho que é um homem simples, extraordinário, na minha opinião”.
Silvio Santos e os militares
A primeira emissora de televisão de Silvio Santos, a TVS (TV Studios Silvio Santos), foi concedida ao apresentador por meio do decreto nº 76.488, assinado por Ernesto Geisel em 22 de outubro de 1975.
Conforme consta em depoimento de Dermeval Gonçalves, editor de plantão do Grupo Silvio Santos à época, à biografia A Fantástica História de Silvio Santos, as visitas de Silvio à cidade de Brasília eram frequentes para negociações na década de 1970: “O governo abriu o canal no Rio de Janeiro. O ministro [das comunicações Euclides] Quandt de Oliveira era um homem absolutamente afável. Entramos com o projeto. E aí, sim, Silvio fez um trabalho perseverante junto às autoridades, para demonstrar que ele poderia fazer coisas muito importantes com um canal de televisão. Lembro que, várias vezes em que visitamos o Palácio do Planalto, funcionários se reuniram em volta de Silvio, formando uma pequena multidão, fazendo fotos, pedindo autógrafos. Isso acontecia até nas antesalas da presidência. Fomos ao gabinete de Geisel duas vezes. No de Figueiredo, chefe do SNI, várias vezes. Ao Quandt de Oliveira, sempre”.
Quanto ao SBT, foi João Batista Figueiredo, por meio do decreto 83.094, em 1979, que outorgou a concessão da emissora ao Grupo Silvio Santos, que viria a concretizar seu lançamento em 1981, mesmo ano em que Silvio passou a produzir o Semana do Presidente. “Gosto muito do Figueiredo, sou grato a ele pelo que me deu”, declarou, ao fim daquela década.
Em dezembro de 2018, durante o Jogo das 3 Pistas no Programa Silvio Santos, foi proposta uma charada cuja resposta seria o ex-presidente Figueiredo. Uma das dicas lidas pelo apresentador foi justamente “deu a televisão para o Silvio Santos”.
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