Na série 'Cursed: A Lenda do Lago', Netflix reconta lendas do Rei Arthur sob perspectiva feminina

A personagem Nimue enfrenta os Paladinos Vermelhos para entregar a Excalibur ao mago Merlin

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Desde que o clérigo galês Godofredo de Monmouth publicou sua História dos Reis da Bretanha, em 1136, a lenda do Rei Arthur vem sendo contada e recontada de diversas maneiras ao longo dos anos, tornando-se uma das principais influências da literatura fantástica e dos romances de capa e espada. Autores como William Morris, J.R.R. Tolkien e Robert Howard buscaram inspiração em aspectos distintos do ciclo arturiano, e muitos dos arquétipos e até dos clichês que rondam o gênero, como suas ambientações medievais ocidentais, vêm majoritariamente daí.

A nova série da Netflix Cursed: A Lenda do Lago, inspirada em livro de Tom Wheeler com ilustrações do lendário quadrinista Frank Miller, propõe mais uma releitura desse mito, mas por uma perspectiva feminina. Livros da saga As Brumas de Avalon (1983-2009), de Marion Zimmer Bradley, já haviam trilhado caminho semelhante, mas a obra de Wheeler e Miller busca um olhar mais íntimo para uma personagem: Nimue, a Dama do Lago.

A personagem Nimue enfrenta os Paladinos Vermelhos para entregar a Excalibur ao mago Merlin Foto: NETFLIX

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Interpretada por Katherine Langford (que foi a protagonista Hannah Baker na série 13 Reasons Why), Nimue é uma feérica, um ser místico com poderes que sofre perseguição da seita dos Paladinos Vermelhos, conflito que lembra bastante a repressão do Culto do Fogo Eterno aos elfos na saga The Witcher. Quando a aldeia em que Nimue vive é destruída por esses extremistas religiosos, ela se vê numa jornada para levar a espada Excalibur ao mago Merlin, trama que se conecta, enfim, às lendas do Rei Arthur.

Apesar de já terem sido relidas por diversas chaves, essas histórias têm muito a nos dizer, acredita Frank Miller. “A cada vez que mitos são recontados, essas releituras dizem respeito a seu tempo”, afirma o quadrinista e produtor executivo da série ao Estadão. “No caso das lendas arturianas, há uma relação de oposição entre a civilização e a magia da natureza”, analisa ele, que revelou ter vontade de explorar mais a mitologia grega, pela qual nutre grande interesse.

Miller é mais conhecido por seus quadrinhos emblemáticos, como o arco Batman: O Cavaleiro das Trevas na DC Comics e sua reinvenção do Demolidor na Marvel, mas algumas de suas obras já foram transpostas com grande sucesso para o cinema, como Sin City, Elektra e Os 300 de Esparta. Sobre o desafio de levar um trabalho como Cursed às telas, o artista afirma: “É uma oportunidade. Agora temos os maravilhosos recursos de produção para explorar lugares incríveis, castelos, ferramentas e objetos de época e, acima de tudo, ter atores de verdade interpretando.”

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Apesar de ter criado obras tão diferentes entre si, Miller avalia que existe um fio condutor que interliga os vários momentos de sua carreira: “Gosto de pensar nisso como o que continuamente estudo, examino, exploro. Mais que qualquer coisa, acredito no herói. Todas minhas histórias o examinam”, afirma. “As regras podem mudar, o mundo pode mudar, mas o que faz de alguém um herói é eterno.”

Mas há algo mais que a obra de Miller continuamente apresenta, seja nos quadrinhos, seja nas telas, e se relaciona diretamente com a proposta de Cursed. “Em um dos meus quadrinhos mais antigos, criei Elektra. Desde então, venho introduzindo personagens femininas fortes”, diz. A série da Netflix tem uma intensa ênfase na representatividade, não apenas por sua perspectiva feminina, mas por trazer um ator negro, Devon Terrell, no papel de Arthur. A mudança, embora extremamente instigante em Cursed, chegou a provocar polêmica. Ao ser questionado sobre isso, Miller é lacônico como seus espartanos: “Nada.”

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