Três vezes Pedro Bial. A partir desta quinta-feira, 18, o apresentador estreia novas temporadas dos programas que apresenta na TV Globo. O primeiro deles é o semanal Linha Direta, que voltou à grade da emissora no ano passado, em meio a popularização do estilo true crime (nome dado às produções baseadas em crimes reais) A reestreia, às 23h10, será com o caso da menina Beatriz, menina que desapareceu em meio a uma festa de formatura em um colégio na cidade de Petrolina, em Pernambuco.
No dia 22, o Conversa Com Bial volta ao ar em dose dupla: de segunda a sexta-feira, às 23h30, no GNT, e na sequência, após o Jornal da Globo, na TV Globo, seu local e horário habitual. Por fim, no dia 1º de maio, Os Paralamas do Sucesso inauguram o Som Brasil de 2024.
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Em entrevista concedida ao Estadão por e-mail, o jornalista falou sobre as novidades do programa e refletiu sobre a função de cada um deles. Sobre o Linha Direta, por exemplo, que em 2023 ajudou a prender 37 foragidos da Justiça com os casos que apresentou, Bial diz que a atração tem mostrado “como enfrentar a violência com inteligência, e não com violência” em meio a um Estado, segundo ele, “pouco aparelhado para prover e fazer valer seu monopólio da força”.
Bial se posicionou quando questionado sobre o espaço de debates que criou com o Conversa Com Bial, especialmente em torno da cultura. “Não gosto de me colocar numa posição de resistência. A minha atitude, para usar esse sufixo, é de assistência. Não só de ficar assistindo, mas de me pôr a postos para contribuir, para ajudar”, diz.
Para o Som Brasil, que celebra nomes da música brasileira, o apresentador atribui uma função que vai além da questão artística: a comercial, que ele credita à força que a TV aberta ainda tem. Para ele, nomes como Thiaguinho, Alexandre Pires e Zeca Pagodinho esgotaram os ingressos para seus shows com uma ajuda valiosa do programa.
Também à frente do projeto Conversa.doc, que realizou documentários como Vale o Escrito - A Guerra do Jogo do Bicho e Xuxa, o Documentário, Bial diz que trabalha em novos temas, mas que prefere não revelá-los ainda. Porém, para os curiosos e estudiosos - e há cada vez mais interessados no formato - , deixa uma dica sobre como decidir entre uma entrevista, um especial ou um documentário. “Não tomamos decisões. São as decisões que nos tomam”.
Conversa Com Bial, Som Brasil e Linha Direta. Três programas diferentes. Como fica a cabeça fervilhante de um jornalista diante de tantos diferentes assuntos?
Eu acho que nós, jornalistas, somos treinados e preparados para isso, para lidar com os assuntos mais diversos com a profundidade mais possível de se alcançar, de uma maneira ágil. A experiência ajuda nisso, tem parte do trabalho que a gente faz de uma maneira mais direta, veloz. É muito estimulante, de fato, ter essa pilha de fervilhar as ideias, e isso tudo sempre com uma troca muito grande com o resto da equipe.
É muito evidente nos casos solucionados que só a inteligência vence a violência.
O Linha Direta voltou à grade da Globo no ano passado e (re) estreou sob seu comando em uma época em que o true crime virou uma febre entre o público, impulsionado pelas séries e documentários produzidos para o streaming. A primeira temporada fez sucesso, bateu recordes de audiência. Acredito que vocês tenham feito uma avaliação do que ocorreu, o que chamou a atenção do público, quais casos têm mais interesse... Qual conclusão chegaram e o que esperar dessa nova temporada?
De certa maneira, sim, o Linha Direta voltou ao ar num período em que o interesse pelo true crime se mostra enorme nos streamings, em todas as plataformas e formatos. Mas no caso de TV aberta, existe, além do interesse numa história específica, envolvendo relações humanas na micropolítica que o crime revela, o significado de um País em que a maioria absoluta da população vive sob tremenda insegurança; sob o jugo do crime organizado; de um Estado pouco aparelhado para prover e fazer valer seu monopólio da força. Então, o que observamos em todos os casos é que, além de uma repercussão individual na família, que é sempre muito protagonista em qualquer caso de crime, tem ainda a sua ressonância social. Assim como, de certa forma, um caso pode revelar e ajudar a entender relações coletivas; processos e problemas coletivos, que podem começar a buscar a solução por meio de eventos individuais. Mas que devem se espalhar como consciência.
Outro fator que pegamos de mote, que fico muito feliz por ter se imposto como mote no programa a partir da experiência do ano passado, e esse ano virou quase como um slogan nosso, é a questão de como enfrentar a violência com inteligência, e não com violência. É muito evidente nos casos solucionados que só a inteligência vence a violência. Não se pode combater o crime de maneira criminosa.
O Linha Direta tem uma forte função social, que também está na base do jornalismo. Essa característica do programa, de alguma forma, levou você a aceitar entrar no projeto? Que tipo de satisfação esse aspecto lhe traz?
De ver a solução de crimes, o incentivo e o reconhecimento ao trabalho da polícia, quando ela se dá de uma maneira linda, honesta e bem-sucedida. Isso tudo justifica nossa função social como jornalistas e comunicadores. Fico, sim, feliz.
O Conversa voltará com a plateia, que existia quando ele estreou, em 2017. Depois de algumas temporadas com você sozinho com seus convidados, em algo quase íntimo, o que o público poderá ofertar novamente para o programa e para a condução das entrevistas?
O público torna mais explícita a presença de testemunhas. As testemunhas podem inibir certo tipo de manifestação, mas ao mesmo tempo podem estimular outras formas de expressão. De certa maneira, é um diálogo ampliado, ligado e conectado à plateia. A respiração, as reações... sentimos tudo isso. E o entrevistado também pode pedir o apoio, usar a interlocução presumida com quem está assistindo. E tem a coisa da televisão, do programa de auditório, da farra. As pessoas que vão fazer plateia vão animadas; e é bacana que seja um programa em que a atração é para além da música, da coisa do espetáculo, mas está na proporção de ideias, de palavras e discursos. Isso tem um poder de encantamento muito reconfortante. É incrível ver como certos valores se mantêm, e se mantêm atraentes.
Eu não gosto de me colocar numa posição de resistência. A minha atitude, para usar esse sufixo, é de assistência. Não só de ficar assistindo, mas de me pôr a postos para contribuir, para ajudar.
Ao contrário do que muitos apregoam, o público se mostra interessado em cinema, literatura, música, séries... A cultura brasileira está viva, sobreviveu e sobrevive a ataques e à concorrência com os fragmentos que as redes sociais podem oferecer. O Conversa, de alguma maneira, reflete essa resistência cultural, apesar de não ser um programa apenas sobre cultura. Como essa temporada virá?
Uma das evidências da pandemia é que a de não vivemos sem bens culturais, ninguém. Nem só de pão vive o homem mesmo, é mais uma das verdades que a Bíblia contém. No entanto, eu não gosto de me colocar numa posição de resistência. A minha atitude, para usar esse sufixo, é de assistência. Não só de ficar assistindo, mas de me pôr a postos para contribuir, para ajudar. O programa, em meio às guerras culturais que vivemos, se coloca numa torre, para ilustrar. Estamos ali, num posto de observação onde podemos ver todos os lados. Queremos dar voz e exposição a todos os lados. E que quem assiste ao programa tenha esse ponto de vista do alto dessa torre, acompanhando de onde vêm ideias que são mais úteis e desejáveis, seja de que lado vier, de todo o espectro desse embate em que nos encontramos agora.
Ano de Rock in Rio, Madonna no Brasil, expectativa pela vinda da Beyoncé. Astros do cinema dando alô para brasileiros nas redes sociais, literatura mundial com ótimos lançamentos... O Conversa se voltará aos convidados estrangeiros, quando possível?
O Conversa adora convidados estrangeiros, e manteremos a proposta de falar com grandes personalidades mundiais nessa temporada. Devo confessar que eu prefiro viajar para encontrá-los [risos]. É sempre bom viajar a trabalho. Eu acho a melhor maneira de viajar, aliás. Às vezes, até melhor do que viajar de férias, porque acho que dá mais sentido à viagem. Mas atualmente temos o recurso do remoto. Então, muitas vezes resolvemos essas entrevistas dessa forma. No entanto, quando puder ser no presencial, será. Madonna posso adiantar que estamos tentando.
O Conversa, agora, estará antes no GNT, canal de assinatura da Globo. O que isso indica? Muda a forma como ele é pensado?
No GNT o público é mais nichado, mais segmentado. A audiência do Conversa na TV aberta é muito grande entre as classes C e D, então temos uma audiência popular muito significativa. Estamos falando na casa dos milhões. Às vezes, até mais do que a dezena de milhões. Então, é aquela bomba que é a TV aberta. Mas é muito bacana termos mais opções para o espectador assistir ao programa. Não é que vai determinar nenhuma mudança editorial ou formal, mas nos dá um gás a mais.
O Som Brasil, que já passou por diferentes formatos ao longo dos anos, encontrou agora um também muito interessante, quase de minis docs, no seu comando. Tudo isso em um momento em que a música brasileira, e muitos medalhões da chamada MPB, passam por uma revalorização muito interessante. Como isso se refletirá nessa nova temporada?
De fato, houve essa coincidência feliz entre o Som Brasil voltar, de certa maneira, renovado e revitalizado pela linguagem, como você observou muito bem, que é de documentário, e esse renascimento da música brasileira. Mas esse reconhecimento vem de tudo; há parentescos entre tudo. Entre bossa nova e sertanejo; entre Titãs e gospel; entre Caetano Veloso e Maria Bethânia; e tudo o que se faz e se canta. E o Som Brasil, além da relevância artística, também se afirmou de grande valia comercial e empresarial. Por meio dele, Thiaguinho, Alexandre Pires e Zeca Pagodinho - e eu nem me lembro de todos -, esgotaram as vendas de ingressos. Foi durante o programa que as vendas para as turnês se esgotaram. Ou seja, esta é a força da TV aberta a serviço do entretenimento de qualidade.
Diante de tantos formatos, como tomar a decisão do que vale ou rende uma entrevista, um especial ou uma série documental?
Como costumamos dizer, não tomamos decisões. São as decisões que nos tomam. Às vezes, pensamos: “esse assunto tem potencial maior de aprofundamento, com outras ramificações, que vai para outros lugares que podem e merecem ser explorados, como num documentário ou numa série documental” ou “puxa, isso aqui vai ser mais bem explorado numa conversa íntima no Conversa. Foi assim, por exemplo, com Nara Leão. Fizemos um programa, não me recordo a partir de qual efeméride de Nara, e isso se revelou potencialmente como um documentário que foi muito bem executado pelo [documentarista] Renato Terra. É difícil dar uma resposta exata sobre isso. Com o tempo vamos ficando mais sensíveis aos sinais. É a própria história, com seus eventos, acontecimentos, dramas e conflitos, que vai indicar a maneira.
Datas das estreias
- 18/4: Linha Direta
- 22/4: Conversa com Bial
- 1/5: Som Brasil
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