Netflix mira em produção original de reality shows

Serviço passou de dois programas em 2016 para 75 em 2018; aposta no formato deve continuar

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Foto do author Matheus Mans

Agora, ao acessar a plataforma de streaming da Netflix, o usuário não encontrará apenas os filmes originais, com lançamentos semanais, ou séries de sucesso mundial, como House of Cards, 13 Reasons Why e Orange is the New Black. Afinal, nas últimas semanas, o serviço passou a investir de maneira mais incisiva em programas originais no formato de reality show, com temáticas que vão desde moda, beleza e gastronomia até mágica e reformas de casas de verão.

Segundo levantamento feito pelo site Filmes Netflix, que faz um acompanhamento diário do catálogo da plataforma de streaming, eram apenas dois títulos que se encaixavam dentro da categoria de reality shows, talk shows e programas de variedades no início de 2016. Agora, dois anos e meio depois, a categoria já abriga 75 títulos – um total de 1,9% do catálogo brasileiro da plataforma. “E mais programas estão a caminho”, avisa Ricardo Ferreira, do Filmes Netflix.

Jonathan Van Ness, uma das estrelas do reality 'Queer Eye', da Netflix Foto: Netflix

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Dentro da categoria, o grande destaque até o momento é a série Queer Eye, nova versão de um antigo programa norte-americano. Nele, cinco homossexuais ajudam heterossexuais em áreas distintas: vestuário; culinária e vinhos; arte e cultura; higiene pessoal e cabelo; e design de interiores. Com bom humor e uma produção que impressiona, a série já ganhou duas temporadas apenas em 2018, totalizando 16 episódios – outros oito chegam em 2019.

“Em um primeiro momento, a Netflix apostou em formatos com os quais o público já estava familiarizado”, explica Martin Eikmeier, coordenador da Academia Internacional de Cinema. “No entanto, o serviço tem se tornado, para muitas pessoas, a janela principal de conteúdo. Era esperado que a empresa passasse a incorporar em seu catálogo formatos de programas típicos da TV aberta e por assinatura, como talk shows, reality shows e assim por diante.”

Uma das temáticas que mais tem rendido novidades na Netflix é a gastronomia. Apenas em julho, o serviço lançou séries como Sugar Rush, um MasterChef para confeiteiros; Mandou Bem!, quase uma paródia das batalhas culinárias; e Dinheiro à Mesa, que mistura a técnica de MasterChef com a luta por investimento de Shark Tank. Outros programas que chamam a atenção são o Reforme na Baixa, Alugue na Alta, que mostra a reforma de casas de veraneio; e o divertido Mágica para a Humanidade, reedição do que Criss Angel fazia na TV aberta.

Há até alguns casos estranhos ao público brasileiro, como o reality Doenças do Século 21. Nele, o espectador é conduzido no tratamento e no cotidiano de pessoas que enfrentam enfermidades como o vício em suplementos vitamínicos e, até mesmo, a “alergia” a Wi-Fi.

“Essa movimentação faz parte da estratégia de diversificação da Netflix, que tenta oferecer um pouco de tudo e, com isso, atender uma grande variedade de interesses”, contextualiza Ricardo, do Filmes Netflix. “A plataforma precisa dessa diversidade para se igualar, ou até superar, serviços como TV aberta e por assinatura, onde esses programas fazem sucesso.”

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Além dos novos formato e temáticas, os novos reality shows também estão retomando os episódios individuais. Em grande parte dessa nova leva de programas lançados, cada segmento da série conta com uma história única e com pessoas diferentes – até mesmo nos de gastronomia, que fazem pequenas competições em cada episódio, sem ligação direta. Afinal, isso traz ainda mais variedade e as chances da pessoa se cansar do programa diminuem. Sem falar que é mais simples e prático de acompanhar toda a série.

“A Netflix traz formatos impensáveis na TV. É uma busca para se posicionar como uma empresa ousada e progressista”, diz Eikmeier. “Assim, a renovação de formatos será cada vez mais constante e fica difícil saber quais vão pendurar. O reality tomou a TV e perdura até hoje, mas isso pode mudar. A própria empresa é a prova de que hábito é algo que se cria. Não tenho dúvida, portanto, que é uma questão de tempo para que novos formatos, que busquem outra natureza de vínculo com os espectadores, sejam explorados com ainda mais frequência.”

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