Reality shows proliferam na TV e na internet. Quais são eles? E por que as pessoas gostam tanto?

‘BBB’, ‘Casamento às Cegas’, ‘Corrida das Blogueiras’, ‘O Namorado’... Por entretenimento ou pelo prazer de acompanhar a vida alheia, o brasileiro é um grande consumidor desse tipo de programa

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Foto do author Daniel Silveira
Atualização:

Se existisse uma trindade do entretenimento brasileiro, com certeza seria formada por futebol, novela e reality show. A mania de acompanhar a vida de desconhecidos pelas telas começou, principalmente, depois da estreia do Big Brother Brasil, em 2002, quando a Globo importou o formato suíço da Endemol. Um pouco antes disso, a gente já tinha se encantado com a Casa dos Artistas, exibido em outubro do ano anterior no SBT. Mas a curiosidade de acompanhar anônimos em frente às câmeras se tornou uma verdadeira paixão nacional.

Carolina Leal é uma apaixonada por reality show, consome vários de diversos tipos.  Foto: Werther Santana/Estadão

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A fórmula é bem parecida para quase todos: câmeras acompanham um grupo de pessoas. Pode ser numa casa, como o BBB, mas também pode ser na sua rotina de tarefas, a preparação de um casamento, uma série de encontro às cegas, a saga de mulheres para escolher um vestido, jovens dispostos a muita paquera... O que importa é ver pessoas comuns (ou nem tanto) deixando que outras espreitem suas vidas, uma espécie de voyeurismo. É isso que deixa os telespectadores viciados.

“Eu não diria viciada, mas uma grandessíssima apreciadora do gênero”, brinca Carolina Leal, 33. A especialista em diversidade teve seu primeiro contato com o universo dos realities da mesma forma que a maioria dos brasileiros, assistindo à primeira edição do BBB. “Era meio caótico, era tarde e eu tinha que dormir cedo para ir à escola”, relembra.

Mais de 20 anos depois, algumas coisas não mudaram para Carolina. Ela diz que, durante a exibição do programa, que costuma durar os quatro primeiros meses do ano, deixa a TV ligada no BBB o dia inteiro, enquanto trabalha ou faz as tarefas domésticas. Carolina assume que ficou meio desligada dos programas durante algum tempo e que foi durante a pandemia de covid-19 que voltou a se dedicar ao programa dirigido por Boninho e que é um dos realities de maior sucesso no País.

O diretor também estará à frente do novo reality de convivência e competição da Globo, o Estrela da Casa, que será apresentado pela ex-BBB Ana Clara, que tem previsão de estreia para outubro. Aliás, competições de música sempre envolvem telespectadores, desde os famosos shows de calouros. A própria vênus platinada já teve em sua grade o Fama e o The Voice. No último fim de semana, o Canta Comigo, programa de competição musical da Record teve seu episódio final, com a vitória de Tânia Mayra com 50% dos votos.

Kleber Bambam foi o primeiro campeão do BBB, que foi exibido em 2002.  Foto: Reprodução/TV Globo

Tipos variados

Existem três tipos principais de realities: competição, confinamento e transformação (quando o participante entra de um jeito para sair de outro, como o Esquadrão da Moda). Alguns chegam a misturar os tipos, outros, são subtipos. Programas como o BBB e A Fazenda, por exemplo, unem competição com confinamento, afinal de contas, os participantes estão “presos” em uma casa e são eliminados até que sobre apenas um, o vencedor.

Assim como a pandemia criou uma gama de espectadores sedentos pelas vidas alheias, afinal de contas muita gente estava confinada em casa e queria ver pessoas vivendo uma vida normal, também fez multiplicar as possibilidades de realities à disposição nas plataformas de streaming, inclusive em plataformas como o YouTube e nas redes sociais.

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Um exemplo é o Corrida das Blogueiras, reality criado pelo casal de influenciadores Eduardo e Filipe, do canal Diva Depressão. O programa é uma competição entre produtores de conteúdo que sonham em fazer sucesso nas plataformas.

O reality nasceu em 2018, quando os dois, que já tinham canal bem estabelecido no YouTube, resolveram criar uma competição para outros produtores de conteúdo. O modelo já tinha sido usado pelo também influenciador Lucas Rangel em seu programa Qual Próximo Youtuber de Sucesso - em seu canal, Lucas também produziu A Ilha dos Famosos e Qual Próximo TikTok de Sucesso.

As inspirações para o Corrida, segundo Eduardo e Filipe, vieram de outros realities de competição, tanto os mais famosos quanto alguns mais nichados como RuPaul’s Drag Race, franquia criada por RuPaul em que drags queens disputam o posto de drag superstar. Uma edição brasileira foi ao ar no ano passado e a maioria delas está disponível no Paramount+.

No início, o Corrida das Blogueiras enfrentou as dificuldades comuns entre produtores de conteúdo: como convencer marcas a investirem em um programa que seria veiculado apenas no YouTube? “A gente pegou u momento em que as pessoas entenderam que dava para trabalhar com produção de conteúdo na internet, além de quererem fazer isso”, conta Filipe.

Camila Queiroz e Klebber Toledo apresentarão Casamento às Cegas Brasil - Uma Nova Chance Foto: Divulgação/Netflix

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O Corrida foi um sucesso de público tão grande que a final da quarta temporada, que foi exibida no ano passado, aconteceu em um evento presencial no Vibra São Paulo em janeiro deste ano. O espaço tem capacidade para sete mil pessoas.

Os exemplos de programas do tipo se multiplicaram na internet. Em seu Instagram, o influenciador Anderson Neiff promoveu o N1 Influencers, que se tornou viral após alguns participantes sofrerem queimaduras durante uma prova de resistência. Recentemente, o ex-BBB Victor Hugo lançou A Bolha, também transmitido no YouTube. (No final desse texto, você encontra uma lista de programas e onde ver cada um deles).

O que nos faz gostar tanto de reality?

Há quem diga que o brasileiro gosta tanto de reality show porque somos um povo fofoqueiro. No entanto, podemos pensar também nesses programas como uma forma de entretenimento mais fácil de ser consumido. A psicóloga Adriana Nunan, doutora em Psicologia Clínica, aponta que esse comportamento é comum. “As pessoas ficaram muito sem contato social (durante a pandemia) e pegaram gosto por esse tipo de programa, que você vê facilmente, não requer grandes interpretações, não requer tanto pensar e passa rápido. Então muita gente ficou viciada neles”, afirma a profissional. “A gente quer acompanhar, interagir, fofocar”, continua.

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“Às vezes, vejo um reality show porque ele é muito fútil, não lhe obriga a pensar, você não tem que problematizar muitas coisas”, conta Carolina. “Por mais que a gente saiba que ali tem uma direção, uma estrutura com um roteiro, a gente esquece que o programa tem um objetivo, que é um entretenimento”, compartilha.

Além disso, há um certo interesse em acompanhar a vida “editada” das pessoas, um pouco do que também ocorre quando estamos rolando o feed das redes socais e vemos publicações de desconhecidos. “A gente quer saber da vida do outro, estar inteirado, opinar, mesmo que o outro não peça opinião para a gente. Isso justifica um pouco essa paixão”, diz Adriana.

No entanto, da mesma forma que pode ser prazeroso acompanhar a vida de desconhecidos, de forma desmedida pode criar problemas. O maior deles seria a impressão de que aquelas pessoas, aqueles comportamentos, aquelas histórias contadas na TV são, de fato, realidade. Isso pode desencadear crises de ansiedade ou disforias, da mesma forma que acontece com o uso de redes sociais.

Segundo ela, um dos pontos mais importantes de saber ao ver esses programas é que eles não espelham a vida real, como podem parecer. “Ainda que a gente saiba que tem alguma espécie de roteiro, tem orientação, muitas pessoas acham que de fato aquilo é, digamos assim, uma vida real”, explica a psicóloga.

E se essa paixão por realities está te incomodando, é importante saber a hora de parar. Adriana volta a relacionar com o uso de redes sociais. “Uma coisa que a gente sempre fala nas relações com a internet é que assim, a sua vida de verdade tem que ser mais interessante que a sua vida online”, compara. “Você tem que criar vínculos com pessoas do seu dia a dia, ter um trabalho que você minimamente goste ou tolere, não é todo mundo que gosta do próprio trabalho. Ter hobbies, ter diversões, ter uma vida mais enriquecida”, finaliza.

Alguns realities shows e onde ver

  • Corrida das Blogueiras - Cinco temporadas estão disponíveis no YouTube e mais uma está prevista para este ano ainda, dessa vez uma versão “all stars” com ex-competidores.
  • No Limite - Uma versão brasileira do Survivor, que está presente em vários países. Foi um dos primeiros realities show de sobrevivência exibidos na TV brasileira. No Globoplay estão disponíveis as edições mais recentes.
  • Largados e Pelados - Duas pessoas completamente nuas precisam sobreviver na selva por 21 dias, sem ajuda de equipamentos. Uma versão mais selvagem de Survivor.
  • Masterchef - O programa faz cozinheiros (amadores ou profissionais) competirem para ver quem é o melhor. O reality tem várias versões de vários países, incluindo crianças competindo. Disponível no Max.
  • Canta Comigo - Uma competição musical em que o candidato, que pode ser solo, dupla, ou parte de um grupo vocal, precisa levantar 100 jurados de uma só vez para cantar junto. A última edição encerrou neste domingo. Algumas mais antigas podem ser vistas na Netflix.
  • Ilhados com a Sogra - Nesse programa, casais são levados para uma ilha deserta com a promessa de disputar um grande prêmio. No entanto, eles não sabem genros e noras formam duplas com suas sogras.
  • O Namorado - Reality japonês de namoro apenas entre pessoas do mesmo gênero. A estreia está prevista para 9 de julho, na Netflix.
  • Casamento às Cegas Brasil - A quarta temporada da versão brasileira acaba de estrear na Netflix. Lá também existem versões de outros países disponíveis.
  • A Fazenda - A versão da Record para o formato do Big Brother Brasil que une confinamento e competição. Disponível na PlayPlus, streaming da Record.
  • De Férias com o Ex Brasil - A franquia nasceu na gringa, mas parece que foi o Brasil que fez a melhor versão. No Prime Video estão as edições brasileiras e de outros países.
  • The Circle Brasil - Da mesma maneira, o The Circle é uma franquia de reality show. Na Netflix, dá para ver edições brasileiras e de outros países.
  • A Bolha - Criado pelo ex-BBB Victor Hugo, o reality chamou atenção pela precariedade da produção. Trechos se tornaram virais nas redes sociais.
  • Futuro Ex-Porta - O reality show lançado há alguns anos está todo disponível no YouTube e ajudou o grupo a selecionar novos atores para o Porta dos Fundos.
  • Soltos em Floripa - Oito jovens em uma casa de praia em Florianópolis vivem dias de festas, brigas, dramas, diversão e relacionamentos. Disponível no Prime Video.
  • Brincando Com Fogo - O reality junta jovens solteiros e com pouca roupa numa praia paradisíaca. Só que para ganhar o prêmio, eles precisam renunciar ao sexo. Está na Netflix.
  • Glow Up - O reality de competição coloca maquiadores em início de carreira para competirem. Está na Netflix.
  • Vidrados - O reality que acompanha vidraceiros competindo para saber quem é o melhor na arte de moldar vidros, está disponível na Netflix.
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