Se você ficou com a impressão de que 2024 teve 729 dias e, estranhamente, passou tão rápido que não deu para ver, saiba que não está só. Mas, ufa, chegamos ao final.
Para quem tem planos de não ter planos nesse recesso de fim de ano e para os sortudos com férias de verão, é a hora de colocar em dia alguns filmes e séries que ficaram pelo caminho, fazer descobertas, aprofundar-se na obra de algum diretor ou ator, revisitar clássicos.
A seguir, separamos algumas sugestões para você ficar por dentro do que rolou no ano que está terminando e se preparar para 2025.
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Um filme de Natal bom de verdade
Nesta época do ano, as plataformas de streaming são inundadas com produções natalinas. Tudo bem se você não se importa de assistir à milésima história sobre a mocinha bem-sucedida que volta para a pequena cidade onde cresceu e descobre o verdadeiro amor. Mas, se quiser algo um pouco mais substancioso, veja Os Rejeitados (2023), que concorreu a cinco Oscars e ganhou o de atriz coadjuvante para Da’Vine Joy Randolph. No filme, um professor (Paul Giamatti), um aluno (Dominic Sessa) e a cozinheira (Randolph) ficam para trás no Natal em um colégio interno e acabam formando uma família improvisada.
- Onde ver: Prime Video
Walter Salles antes de ‘Ainda Estou Aqui’
O candidato do Brasil ao Oscar ainda está nos cinemas, mas agora é uma boa chance de ver ou rever a obra do diretor. Dois filmes são imperdíveis. Terra Estrangeira (1996), dirigido em parceria com Daniela Thomas e estrelado por Fernanda Torres e Fernando Alves Pinto, reflete o êxodo para o exterior provocado pelo confisco das poupanças no governo Collor. Central do Brasil (1998) traz Fernanda Montenegro no papel de uma mulher amarga que ajuda um menino (Vinícius de Oliveira) a encontrar seu pai e, de quebra, acaba reencontrando o País. Prepare os lenços porque esses são daqueles para chorar.
- Onde ver: Terra Estrangeira na Netflix e no Globoplay e Central do Brasil na Netflix e no Globoplay
Justiça parcial
Quem não gosta de julgar o outro, pelo menos um pouquinho? Pois o cinema tem apresentado dilemas para mostrar como a justiça nem sempre é preto no branco. Até o fim, Anatomia de uma Queda, dirigido pela francesa Justine Triet, coloca o espectador no papel de júri de Sandra (Sandra Hüller), acusada de matar o marido. Ao mesmo tempo em que disseca o casamento, o filme que levou a Palma de Ouro em 2023 e concorreu a cinco Oscars, ganhando o de roteiro original, destaca a misoginia no tribunal. É possível encontrar a justiça nesses termos? Em Saint Omer, da francesa Mati Diop, uma repórter acompanha o julgamento de uma imigrante senegalesa acusada de deixar seu bebê morrer. E em Jurado Número 2, o veterano Clint Eastwood discute o certo e o errado, a justiça e a injustiça, acompanhando Justin Kemp (Nicholas Hoult), membro do júri popular de um homicídio que pode ter a chave para o desfecho.
- Onde ver: Anatomia de uma Queda no Prime Video. Saint Omer no Telecine. Jurado Número 2 na Max
Triângulos amorosos
É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? Tanto Vidas Passadas, estreia na direção de Celine Song, quanto Rivais, dirigido por Luca Guadagnino, fazem essa pergunta. Curiosamente, eles foram feitos por marido e mulher: Song, que escreveu Vidas Passadas inspirada por sua própria experiência, é casada com o roteirista de Rivais, Justin Kuritizkes. Enquanto Vidas Passadas, indicado a dois Oscars, trata com delicadeza um amor perdido por uma separação e um reencontro quando Nora (Greta Lee) está casada com outro, Rivais lida com o relacionamento entre os tenistas Tashi (Zendaya), Patrick (Josh O’Connor) e Art (Mike Faist) como um jogo de tênis sexy.
- Onde ver: Vidas Passadas no Telecine, e Rivais, no Prime Video
Após ‘Wicked’
Se você saiu cantando Defying Gravity de Wicked, que tal revisitar o clássico que conta o depois de Glinda e da Bruxa Má do Oeste (ou Elphaba)? Em O Mágico de Oz, filme de 1939 dirigido por Victor Fleming, Judy Garland é Dorothy, uma menina do Kansas que vai parar na terra encantada de Oz. É um dos filmes mais mágicos da história, embalado pela canção Over the Rainbow.
- Onde ver: Max
O sentimento em forma de animação
Todo o mundo que já passou por uma crise de ansiedade vai se enxergar muito em Divertida Mente 2, de Kelsey Mann. A maior bilheteria do ano reproduz a sensação de uma maneira que só uma animação poderia, ao apresentar as novas emoções da agora adolescente Riley. Já O Menino e a Garça, do mestre Hayao Miyazaki, preenche a tela de visões de sonho e delírio para mostrar o sentimento de um menino em luto pela mãe e por sua rotina, interrompida pela guerra. Os filmes de Miyazaki, aliás, são ideais para quem quer se emocionar - quase todos estão disponíveis na Netflix.
- Onde ver: Divertida Mente 2 no Disney+, e O Menino e a Garça na Netflix
O poder das pequenas coisas
Todo final de ano é assim: a gente promete que vai ter uma rotina mais simples, vai comprar menos, ser mais feliz. Dias Perfeitos, de Wim Wenders, mostra um homem que consegue. Hirayama (Kôji Yakusho) limpa banheiros de Tóquio. Fora isso, lê seus livros, ouve suas fitas-cassete, frequenta o spa local, come no mesmo restaurante - e está contente assim.
- Onde ver: MUBI
Fórmula 1 no recesso
Se você voltou a se interessar pelo esporte depois de assistir à série Senna ou já é apaixonado pelo automobilismo, sabe que as Ferraris, McLarens e Mercedes só voltam às pistas em março. O filme que foi rodado no circuito, estrelado por Brad Pitt, estreia em 2025. Enquanto isso, dá para se divertir com a série documental - mas extremamente dramatizada - Dirigir para Viver, que acompanha as temporadas da F-1, com os documentários Senna e Senna por Ayrton, com os filmes Ferrari, Ford vs Ferrari (que é sobre as 24 Horas de Le Mans, na verdade) e Rush - No Limite da Emoção.
- Onde ver: Dirigir para Viver e série Senna na Netflix, documentário Senna no Prime Video e Netflix, Senna por Ayrton no Globoplay, Ferrari no Prime Video, Ford vs Ferrari no Prime Video e Disney+, e Rush - No Limite da Emoção no Adrenalina Pura
Body horror
É de filme doido que você gosta? Então tome: A Substância foi um sucesso nos cinemas com a história de uma estrela de Hollywood (Demi Moore) que, afastada por causa da idade, resolve recorrer a um método pouco ortodoxo para ser uma versão melhor de si mesma. Nem tudo faz sentido, tem sangue e nojeira, mas é só se entregar à viagem.
- Onde ver: MUBI
O Holocausto de outro ângulo
Zona de Interesse, dirigido por Jonathan Glazer, não é fácil de assistir. Mas ele traz uma perspectiva diferente a uma das maiores tragédias da história, colocando o espectador ao lado dos perpetradores, os nazistas. O filme, que venceu dois Oscars, abre nossos olhos para como o mal é realizado ou normalizado por pessoas comuns, com interesses banais. E, por isso, pode estar acontecendo agora mesmo, em qualquer parte do mundo.
- Onde ver: Prime Video
O lado B da América
Sean Baker ganhou a Palma de Ouro de Cannes com Anora, um dos favoritos ao Oscar, que estreia em janeiro nos cinemas brasileiros. Mas vale a pena conhecer a obra do cineasta, que mostra o lado pouco glamuroso do seu país, os Estados Unidos, e a realidade sem preconceitos do trabalho sexual em longas como Tangerina (2015), Projeto Flórida (2017) e Red Rocket (2021).
Onde ver: Tangerina na Filmicca, Projeto Flórida na Max, e Red Rocket na Netflix.
Nicole em várias versões
A atriz Nicole Kidman, criada na Austrália, continua destemida e trabalhadora como sempre. Ela tem o ousado Babygirl chegando aos cinemas brasileiros no dia 9, em que sua personagem tem um affair quente com o estagiário de sua empresa. Mas dá para admirar sua coragem e versatilidade em diversos outros filmes e séries, como os esquisitos Dogville (2003), O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e De Olhos Bem Fechados (1999), dramas emocionantes como As Horas (2002) e Montanha Gelada (2003) e as séries Big Little Lies, Expatriadas e O Casal Perfeito.
Onde ver: Dogville na MUBI, De Olhos Bem Fechados, O Sacrifício do Cervo Sagrado e Big Little Lies na Max, O Casal Perfeito e Montanha Gelada na Netflix, Expatriadas no Prime Video, As Horas para aluguel no Prime Video e Apple TV.
Solitários unidos
Sabe aquela série que dá um quentinho no coração, fazendo até os mais céticos acreditarem que a vida vale a pena, que é só encontrar um propósito ou então a sua turma? Um Espião Infiltrado, Only Murders in the Building e Alguém em Algum Lugar são assim. Um Espião Infiltrado, do criador de Brooklyn 99 e The Good Place, traz Ted Danson no papel de um viúvo contratado para espionar uma casa para pessoas idosas. Em Only Murders in the Building, um ator (Steve Martin), um diretor de teatro (Martin Short) e uma jovem misteriosa (Selena Gomez) se juntam para fazer um podcast criminal depois de um assassinato em seu prédio. Em Alguém em Algum Lugar, Sam (Bridget Everett) fica deslocada ao voltar à sua cidade natal, mas encontra em outros outsiders como Joel (Jeff Hiller) a força para se encontrar.
- Onde ver: Um Espião Infiltrado na Netflix, Only Murders in the Building no Disney+, Alguém em Algum Lugar na Max
Novelão
Com Vale Tudo chegando em versão nova, é a hora de rever uma das melhores novelas brasileiras da história, estrelada por Beatriz Segall, Renata Sorrah e Gloria Pires, entre outros, em 1988. Mas mesmo séries sem DNA brasileiro podem se encaixar na definição. É o caso da superprodução colombiana Cem Anos de Solidão, que adapta o romance de Gabriel García Márquez, e de Pachinko, produção norte-americana falada em coreano, japonês e inglês que cobre a história de Sunja (Minha Kim na juventude e Youn Yuh-jung na fase mais velha) e sua família desde a ocupação japonesa na Coreia, antes da guerra, até os anos 1980.
- Onde ver: Vale Tudo no Globoplay, Cem Anos de Solidão na Netflix, Pachinko no Apple TV+
Gente má fazendo maldade
Dois dos personagens mais fascinantes do ano fazem a linha mau como o pica-pau. As duas séries, não por acaso, levam os nomes deles no título. Tanto Ripley quanto Pinguim têm atores irlandeses - na primeira, Andrew Scott, na segunda, Colin Farrell - no papel de vigaristas dispostos a tudo para subir na vida. Os principais obstáculos são mulheres: Marge (Dakota Fanning) e Sofia (Cristin Milioti) respectivamente.
- Onde ver: Ripley na Netflix, Pinguim na Max
É guerra
Duas das melhores séries do ano - Xógum e Mestres do Ar - mostram como é difícil navegar o mundo em tempos de incerteza e guerra. Na primeira, Toranaga (Hiroyuki Sanada) tenta manter sua cabeça grudada no pescoço no século 16, quando o Japão estava dividido pela religião e a política e era um território disputado pelas nações europeias. A segunda conta a história do 100º Grupo de Bombardeios, uma unidade da Força Aérea dos Estados Unidos que tinha alto índice de casualidades na Segunda Guerra Mundial por causa de suas missões arriscadas.
- Onde ver: Xógum no Disney+, Mestres do Ar no Apple TV+
Relacionamentos complexos
Marido e mulher, mestre e pupilo, colegas de trabalho, vampiros dividindo uma mansão: as relações difíceis continuam sendo combustível para bons filmes e séries. No drama Afire, de Christian Petzold, um escritor com bloqueio criativo (Thomas Schubert) não sabe o que fazer com seus sentimentos em relação a Nadja (Paula Beer). Na comédia de ação Sr. e Sra. Smith, o pessoal se mistura com o profissional com Donald Glover e Maya Erskine como espiões em um casamento de fachada que se complica, lógico. Wagner Moura faz uma participação divertida. Nas três temporadas da comédia Hacks, a relação da estrela da comédia Deborah Vance (Jean Smart) e da jovem roteirista Ava (Hannah Einbinder) já passou por tudo quanto foi fase. Em O Simpatizante, um espião do Vietnã do Norte se infiltra no exército do Vietnã do Sul, indo para os Estados Unidos quando o país perde a guerra e mantendo uma relação ambígua com seu mestre em várias formas, todas interpretadas por Robert Downey Jr. Na hilária comédia What We Do in the Shadows, que chegou ao fim depois de seis temporadas, quatro vampiros incompetentes dividem uma mansão em Staten Island. Na comédia Abbott Elementary, professores experientes e novatos do ensino fundamental quebram a cabeça para educar as crianças.
Onde ver: Afire na Reserva Imovision, Sr. e Sra. Smith no Prime Video, Hacks e O Simpatizante na Max, What We Do in the Shadows e Abbott Elementary no Disney+.
Reveja para lembrar
Quando foi que as séries começaram a ter intervalos de dois anos ou mais entre suas temporadas? Pois é. Por causa da maneira como elas são produzidas hoje em dia, isso tem acontecido com frequência. E aí toca o espectador rever tudo para lembrar o que aconteceu anos atrás. Em 2025, teremos o retorno de Ruptura, Stranger Things, The White Lotus, The Last of Us, Wandinha e Yellowjackets. Sem contar Daredevil, que foi encerrada pela Netflix em 2018 para ser retomada, com os mesmos atores, agora pela Marvel.
Onde ver: Ruptura no Apple TV+, Stranger Things e Wandinha na Netflix, Yellowjackets na Netflix e Paramount+, The White Lotus e The Last of Us na Max, Daredevil no Disney+.
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