Gabriela Medeiros, atualmente no ar como Buba em Renascer, vê a própria história entrelaçada com a trajetória da atual personagem. Ambas são psicólogas, são transexuais e passaram por processos parecidos durante a transição de gênero. “Eu e Buba viramos uma só. Tem muita verdade cênica em meu olhar. Ela é parte de mim, parte da minha história”, diz a atriz, em entrevista ao jornal O Globo.
Na noite desta quinta-feira, 16, no centésimo capitulo da novela, o roteiro contará um relato similar à história da atriz. Buba voltará para sua cidade natal e reencontrará os pais, interpretados por Malu Galli e Guilherme Fontes. Ela descobrirá que os dois invetaram para as pessoas que ela havia morrido, para esconder a transição de gênero. Com isso, a trama de Bruno Luperi trará para a TV a rejeição e a violência vivida no dia a dia por essa parcela da população.
De acordo com Gabriela, na sequência de cenas, ela deixou um “pedaço de si”, já que, assim como Buba, ela passou por um processo solitário e sem apoio familiar em sua transição de gênero. Para ela, a arte, começando com a pintura e mais tarde com o teatro, ajudou-lhe nesse momento difícil.
A atriz sempre foi perseguida por um desconforto ao se olhar no espelho, da infância até a puberdade, e não se reconhecia no próprio corpo. “Quando crescer, vou me tornar uma borboleta”, dizia ela para si à época, sem imaginar que os pensamentos de criança se tornariam reais.
“Sinto que as minhas asas de borboleta ainda estão crescendo. A vida se trata de uma grandiosa metamorfose. Sou uma lagarta desabrochando nesse mundo. Fui uma criança bem solitária no meu mundinho particular. Passava horas desenhando e pintando. Minha avó me incentivava, então comprava lápis, canetinhas e giz. E a minha outra vovó, materna, me estimulava a pintar pano de prato com ela. É a arte que me cura de todos os meus processos. Atuar é uma profunda catarse do eu”, fala.
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A história de Buba é uma das novidades do remake de Renascer. Em sua primeira versão, transmitida em 1993, a personagem, interpretada por Maria Luisa Mendonça, era uma pessoa intersexo e a história com a família não existia. Ou seja, as cenas transmitidas a partir desta quinta-feira, 16, serão inéditas.
“Ela é uma rosa cheia de espinhos que foi altamente traumatizada pelo histórico familiar, além de se esbarrar numa relação abusiva que a anula completamente. Mas ela irá desabrochar cada vez mais até o fim da novela”, conta Gabriela, ao falar de sua personagem.
Para os próximos projetos, Gabriela revela alguns sonhos: “Pode parecer clichê, mas quero muito fazer alguma personagem de época dos anos 1940, 50 ou 60. E quero interpretar uma personagem em que a história não gire em torno dela ser trans, e sim de ser uma mulher, seja essa mulher como for, com suas questões, anseios, medos e inseguranças”.
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