A quinta edição da pesquisa Hábitos Culturais 2024, realizada pela Fundação Observatório Itaú e pelo Datafolha, divulgada nesta quinta-feira, 28, mostra que 97% dos entrevistados realizaram pelo menos uma atividade cultural nos últimos 12 meses. Quase equilibrada está a maneira como os entrevistados consomem cultura: no período, 89% preferiram algum tipo de programa em casa; 85% procuraram atividades presenciais.
A atividade que lidera a escolha dos entrevistados é ouvir música online, apontada por 83% deles. Logo em seguida vem assistir a filmes em plataformas de streaming, com 73%. O consumo de séries vem depois, para 69% dos respondentes.
No quarto lugar aparece evento ao ar livre, com 66%. Seis pontos a mais do que o levantamento de 2023. Logo na sequência, assistir a novelas. Aqui, cabe uma observação. Acompanhar uma trama na televisão ou em uma plataforma de streaming foi, segundo a pesquisa, a atividade que mais aumentou. Saltou de 36% em 2023 para 56% neste ano.
Para Carla Chiamareli, gerente do Observatório Fundação Itaú, um dos executantes da pesquisa, o consumo de telenovelas, sobretudo pelas classes D/E, reforça a necessidade de estratégias para estimular o público a participar de outras formas de entretenimento. “Esse número evidencia uma demanda reprimida e a falta de acesso a outras formas de hábitos culturais”, diz ao Estadão.
Frequentar espetáculos ou apresentações de dança também se destacou e cresceu 12 pontos, chegando a 30%. A opção atividades infantis saltou de 24 para 35%.
Das 23 atividades pesquisadas, 16 mostraram tendência de crescimento.
Entre as que mais perderam adeptos estão ler e-books/livros digitais, de 42% para 36%, e frequentar saraus de poesia e literários, que passou de 12% para 8% no comparativo anual.
Para Chiamareli, a pesquisa apresenta dados relevantes que podem orientar a atuação dos programadores culturais. “Especialmente no que diz respeito ao consumo de informações sobre programações culturais. Repensar e diversificar as estratégias de comunicação pode ampliar o alcance e a participação do público em atividades culturais”, afirma.
O levantamento ouviu 2.494 pessoas em todas as regiões do País. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
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Ranking de atividades culturais mais procuradas nos últimos 12 meses, segundo a pesquisa
- Música online - 83%
- Filmes em plataformas online - 73%
- Séries online - 69%
- Eventos ao ar livre - 66%
- Novelas - 56%
- Podcast - 52%
- Livros impressos - 52%
- Shows de música - 44%
- Festas folclóricas, populares e típicas - 42%
- Jogos eletrônicos online - 42%
- Cinema - 38%
- E-books/Livros digitais - 36%
- Atividades infantis - 35%
- Espetáculo ou apresentação de dança - 30%
- Exposição - 25%
- Centros culturais - 25%
- Biblioteca - 21%
- Espetáculos ou teatros - 19%
- Circo - 19%
- Museus - 16%
- Festivais literários - 12%
- Festivais de música - 11%
- Saraus de poesia e literários - 8%
O que afasta os entrevistados das atividades culturais
Optar por uma atividade online traz ecos da pandemia, quando a demanda e a oferta por conteúdos online aumentou consideravelmente. No entanto, também revela outros fatores que limitam a procura por diversão longe do sofá de casa.
Entre os motivos que se mostram um empecilho para que as pessoas frequentem uma atividade cultural estão a violência e a questão financeira, para 35% dos entrevistados. Para 23% dos entrevistados, o valor cobrado pelo ingresso é um impeditivo. Aparecem também os gastos com transportes públicos, para 18% dos entrevistados.
A violência é mais percebida nas capitais e regiões metropolitanas (43%) do que nas cidades do interior do País (30%). A região Norte é a que apresenta o maior número de moradores que percebem essa insegurança, 38% - tecnicamente empatado, dentro da margem de erro da pesquisa, com os das regiões Sudeste e Nordeste, com 37%.
Pessoas pretas são as que mais sentem insegurança em procurar por um evento cultural, somando 43% dos entrevistados, contra 34% entre os brancos.
Para Carla Chiamareli, gerente da Fundação Itaú, a ampliação do acesso à cultura passa pela garantia dos direitos sociais e exige a implementação de políticas intersetoriais que promovam o bem-estar da população.
“Mais do que democratizar o acesso a espaços, equipamentos e eventos culturais, é fundamental mitigar os riscos que dificultam esse acesso. As populações mais vulneráveis geralmente residem em áreas distantes dos centros urbanos, onde as atividades culturais — como shows, museus e bibliotecas — estão concentradas”, diz.
Além dessa questão, ela ressalta que a maioria dos eventos ocorre no período vespertino ou noturno, quando a violência impacta diretamente o direito de ir e vir.
Segundo ela, a grande mensagem que a pesquisa traz é a necessidade “urgente” de políticas públicas que garantam o acesso a atividades culturais.
“Os resultados revelam o desejo da população de consumir arte e cultura, mas a frequência limitada está longe de garantir o direito efetivo ao acesso cultural”, finaliza.
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