Ver filmes no streaming é o 2º hábito cultural preferido do brasileiro, aponta pesquisa; veja lista

Levantamento realizado pela Fundação Itaú/Datafolha mostra que procura por programas culturais aumentou, mas violência e preço de ingressos afastam o público das atividades presenciais. Consumo de novela também aumentou; confira principais destaques

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Foto do author Danilo Casaletti

A quinta edição da pesquisa Hábitos Culturais 2024, realizada pela Fundação Observatório Itaú e pelo Datafolha, divulgada nesta quinta-feira, 28, mostra que 97% dos entrevistados realizaram pelo menos uma atividade cultural nos últimos 12 meses. Quase equilibrada está a maneira como os entrevistados consomem cultura: no período, 89% preferiram algum tipo de programa em casa; 85% procuraram atividades presenciais.

A atividade que lidera a escolha dos entrevistados é ouvir música online, apontada por 83% deles. Logo em seguida vem assistir a filmes em plataformas de streaming, com 73%. O consumo de séries vem depois, para 69% dos respondentes.

Nova temporada da série coreana 'Round 6', uma das séries mais assistidas do ano, estreou na NetFlix em novembro Foto: Netflix/Divulgação

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No quarto lugar aparece evento ao ar livre, com 66%. Seis pontos a mais do que o levantamento de 2023. Logo na sequência, assistir a novelas. Aqui, cabe uma observação. Acompanhar uma trama na televisão ou em uma plataforma de streaming foi, segundo a pesquisa, a atividade que mais aumentou. Saltou de 36% em 2023 para 56% neste ano.

Para Carla Chiamareli, gerente do Observatório Fundação Itaú, um dos executantes da pesquisa, o consumo de telenovelas, sobretudo pelas classes D/E, reforça a necessidade de estratégias para estimular o público a participar de outras formas de entretenimento. “Esse número evidencia uma demanda reprimida e a falta de acesso a outras formas de hábitos culturais”, diz ao Estadão.

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Frequentar espetáculos ou apresentações de dança também se destacou e cresceu 12 pontos, chegando a 30%. A opção atividades infantis saltou de 24 para 35%.

Das 23 atividades pesquisadas, 16 mostraram tendência de crescimento.

Entre as que mais perderam adeptos estão ler e-books/livros digitais, de 42% para 36%, e frequentar saraus de poesia e literários, que passou de 12% para 8% no comparativo anual.

Para Chiamareli, a pesquisa apresenta dados relevantes que podem orientar a atuação dos programadores culturais. “Especialmente no que diz respeito ao consumo de informações sobre programações culturais. Repensar e diversificar as estratégias de comunicação pode ampliar o alcance e a participação do público em atividades culturais”, afirma.

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Público no festival Lollapalooza, em 2023  Foto: Taba Benedicto/Estadão

O levantamento ouviu 2.494 pessoas em todas as regiões do País. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Ranking de atividades culturais mais procuradas nos últimos 12 meses, segundo a pesquisa

  • Música online - 83%
  • Filmes em plataformas online - 73%
  • Séries online - 69%
  • Eventos ao ar livre - 66%
  • Novelas - 56%
  • Podcast - 52%
  • Livros impressos - 52%
  • Shows de música - 44%
  • Festas folclóricas, populares e típicas - 42%
  • Jogos eletrônicos online - 42%
  • Cinema - 38%
  • E-books/Livros digitais - 36%
  • Atividades infantis - 35%
  • Espetáculo ou apresentação de dança - 30%
  • Exposição - 25%
  • Centros culturais - 25%
  • Biblioteca - 21%
  • Espetáculos ou teatros - 19%
  • Circo - 19%
  • Museus - 16%
  • Festivais literários - 12%
  • Festivais de música - 11%
  • Saraus de poesia e literários - 8%

O que afasta os entrevistados das atividades culturais

A violência, sobretudo nas grandes cidades, afasta o público de programas culturais Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Optar por uma atividade online traz ecos da pandemia, quando a demanda e a oferta por conteúdos online aumentou consideravelmente. No entanto, também revela outros fatores que limitam a procura por diversão longe do sofá de casa.

Entre os motivos que se mostram um empecilho para que as pessoas frequentem uma atividade cultural estão a violência e a questão financeira, para 35% dos entrevistados. Para 23% dos entrevistados, o valor cobrado pelo ingresso é um impeditivo. Aparecem também os gastos com transportes públicos, para 18% dos entrevistados.

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A violência é mais percebida nas capitais e regiões metropolitanas (43%) do que nas cidades do interior do País (30%). A região Norte é a que apresenta o maior número de moradores que percebem essa insegurança, 38% - tecnicamente empatado, dentro da margem de erro da pesquisa, com os das regiões Sudeste e Nordeste, com 37%.

Pessoas pretas são as que mais sentem insegurança em procurar por um evento cultural, somando 43% dos entrevistados, contra 34% entre os brancos.

Para Carla Chiamareli, gerente da Fundação Itaú, a ampliação do acesso à cultura passa pela garantia dos direitos sociais e exige a implementação de políticas intersetoriais que promovam o bem-estar da população.

“Mais do que democratizar o acesso a espaços, equipamentos e eventos culturais, é fundamental mitigar os riscos que dificultam esse acesso. As populações mais vulneráveis geralmente residem em áreas distantes dos centros urbanos, onde as atividades culturais — como shows, museus e bibliotecas — estão concentradas”, diz.

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Além dessa questão, ela ressalta que a maioria dos eventos ocorre no período vespertino ou noturno, quando a violência impacta diretamente o direito de ir e vir.

Segundo ela, a grande mensagem que a pesquisa traz é a necessidade “urgente” de políticas públicas que garantam o acesso a atividades culturais.

“Os resultados revelam o desejo da população de consumir arte e cultura, mas a frequência limitada está longe de garantir o direito efetivo ao acesso cultural”, finaliza.

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