BRASÍLIA - A nova era dos superapps dos bancos é regida pela “principalidade”. Substantivo feminino usado para nomear a característica do que é principal, essa palavra é chave para entender a competição que se dará cada vez mais entre os bancos com a expansão do sistema de Open Finance, prevê ao Estadão o diretor de Regulação do Banco Central (BC), Otávio Damaso.
Ser principal no Open Finance significa para os bancos trabalhar para que o que o seu superapp seja o principal aplicativo do seu cliente. O Open Finance possibilita aos clientes compartilhar seus dados financeiros e fazer transações entre instituições autorizadas pelo BC. Por esse “ecossistema” bancário, o cliente tem acesso a serviços relacionados a pagamentos e à contratação de operações de crédito e aplicação de investimentos de outros bancos por meio do aplicativo.
“O que o banco quer? Que você o use como o banco principal. A briga está sendo pela principalidade”, resume Damaso, que está à frente da diretoria do BC que cuida das normas necessárias para colocar em funcionamento o novo sistema.
“Cada instituição financeira vai tentar fazer com que você escolha o superapp dela para ser a sua principal interface de relação no sistema financeiro”, complementa. Para Damaso, a busca da principalidade será muito importante para reforçar a relação do banco com o seu cliente.
“Mesmo que ele ofereça produtos de uma plataforma de investimento, mesmo que você consiga visualizar a sua conta em outro banco, ao entrar no superapp dele, você está reforçando a sua relação com aquela instituição específica”, diz ele. O diretor do BC conta que a discussão em torno desse tema ganhou força no Brasil após o crescimento do mercado de cartão de crédito.
“De 2020 para cá, sabemos que o cartão de crédito teve uma explosão de crescimento. Algumas instituições financeiras, para não falar todas, foram para o chamado mar aberto. A inadimplência subiu, porque elas foram trabalhar com um cliente que não conheciam”, explica o diretor do BC.
De acordo com ele, o que a instituição financeira está querendo agora é que o cliente o adote como banco principal, mesmo que consuma produtos e serviços financeiros de outras instituições. “Quando falo banco, estou me referindo a tudo: cooperativa, banco digital, fintech; todo mundo está nessa onda agora”, ressalta.
De acordo com dados do BC, já são mais de 41,3 milhões de consentimentos ativos para compartilhamento de dados no âmbito do Open Finance, e um total de 27,2 milhões de clientes com compartilhamento de dados ativos em pouco mais de dois anos de implantação.
Antes do Open Finance, o banco não “enxergava” o relacionamento que clientes possuíam com outras instituições, o que prejudicava a competição entre elas.
Com a permissão de cada correntista, as instituições se conectam diretamente às plataformas de outras instituições participantes e acessam exatamente os dados autorizados pelos clientes. Segundo o BC, todo esse processo é feito em um ambiente seguro e a permissão pode ser cancelada pela pessoa sempre que ela quiser.
Norma recente do BC, publicada em outubro passado, permite às instituições participantes ofertar prazos de validade mais longos do que o limite anterior - de 12 meses de duração da autorização para o compartilhamento -, mantendo a determinação de que seja permitido ao cliente revogar o consentimento a qualquer momento.
Inicialmente, essa jornada de renovação simplificada estará disponível apenas para clientes pessoa física, mas será estendida para pessoa jurídica a partir do próximo ano.
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