Em um surto de populismo, Lula abriu uma campanha para ridicularizar a independência do Banco Central e elevar a meta de inflação. Sua proposta supõe que, com uma meta mais alta, os juros reais seriam mais baixos, o que aceleraria o crescimento. Além de ignorar que o BC não fixa a taxa real de juros, e sim a taxa nominal, esquece que se chega à taxa real subtraindo da taxa nominal de juros a inflação esperada, e que esta somente gravitará em torno da meta de inflação caso o BC tenha plena liberdade de fixar a taxa nominal de juros.
O ataque à independência do BC é também um ataque à sua capacidade de manter a inflação ancorada à meta. Mais grave ainda é ignorar que inflações da magnitude da que atualmente existe no Brasil decorrem da expansão da demanda agregada, para a qual contribui uma política fiscal expansionista. Há um conflito fiscal-monetário, e a atitude responsável de um presidente em início de mandato seria resolvê-lo atacando o excesso de gastos públicos com a implantação de um arcabouço fiscal que garantisse a sustentabilidade da dívida, e desse ao BC o respaldo para baixar os juros.
Contudo, em vez de orientar seu governo para a execução de políticas públicas voltadas para o bem comum, prefere elevar o tom do discurso típico de um populista em campanha eleitoral. Podemos perdoá-lo por desconhecer a teoria econômica, mas não por ignorar nossa própria história. Por exemplo, entre 2005 e 2012 os juros reais caíram devido aos superávits primários, parte dos quais ocorridos durante seu segundo mandato. Já a partir de 2013, a opção de Dilma pelo “gasto é vida” fez ressurgirem os déficits, o que elevou as taxas reais de juros. Uma nova queda de juros reais ocorreu após a aprovação do teto de gastos, e um novo ciclo de aumento teve início com os sucessivos furos no teto.
Ao ignorar nossa própria história, se esquece que em 2011 Dilma convenceu o BC a operar com meta implícita de inflação mais alta, com resultado idêntico ao do aumento da meta oficial. A combinação dessa “mágica” com a política fiscal expansionista levou à desancoragem das expectativas e ao arrocho monetário que provocou a extensa recessão de 2014/16.
O alerta emitido pelos dados é de que há em marcha um forte crescimento das taxas esperadas de inflação. Se não quiser repetir o desastrado experimento de Dilma, Lula terá de entender que elevar a meta de inflação equivale a apagar o fogo com gasolina. Cabe aos dois ministros que, junto com o presidente do BC, compõem o Conselho Monetário Nacional rejeitar essa proposta.
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