O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Giancarlo Greco, confirmou que a entidade propôs ao Banco Central (BC) limitar o prazo do crédito rotativo, como antecipou ontem o Estadão/Broadcast. Ele disse ainda que o setor de cartões e o regulador podem voltar a se reunir nos próximos 30 dias.
“Hoje, depois de 30 dias [de atraso], começa a contar juros. O que a gente diz [propôs] é reduzir o prazo para cinco dias, para dar conta daquele pequeno atraso, e dali para frente entraria no parcelamento de fatura”, disse ele em coletiva de imprensa sobre os resultados do setor no terceiro trimestre deste ano.
Como mostrou ontem a reportagem, a Abecs trouxe de volta, em reunião com o BC, representantes de bancos e do varejo, a ideia de reduzir o prazo em que o cliente pode ficar no crédito rotativo. Depois de findos os cinco dias, esse cliente seria migrado para o parcelamento de faturas com a incidência de juros.
A proposta foi uma das que vieram à mesa durante a reunião. Enquanto representantes de fintechs propuseram a consolidação de parcelas futuras no parcelamento de faturas, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) sugeriu limitar o parcelado sem juros, argumentando que uma limitação a seis vezes reduziria os juros do rotativo a algo próximo de um dígito por mês.
“A gente imagina uma série de mudanças estruturais que, ao longo do tempo, vão reduzindo os juros de forma consistente”, disse Greco nesta quarta-feira. O executivo voltou a dizer que a entidade é contra qualquer tipo de tabelamento de juros, como o que incidirá caso o setor não chegue a um consenso até o final do ano. “Não colocamos nenhuma medida específica para o PSJ.”
Greco afirmou ainda que a tarifa de intercâmbio, que remunera os emissores, é algo específico do setor e que serve para dar sustentação aos benefícios oferecidos aos clientes, como os programas de ponto, e não para remunerar os riscos incorridos na concessão de crédito.
Segundo ele, as entidades envolvidas na discussão trocarão entre si as propostas apresentadas ontem. “Não há uma data para a nova reunião, o BC deve modelar algumas dessas propostas, mas eu entendo que em até 30 dias voltaremos a discutir”, afirmou.
Endividamento
O rotativo responde por 3% do endividamento das famílias brasileiras, de acordo com dados do Banco Central (BC), compilados pela Abecs. Essa fatia está distante das vistas entre o crédito imobiliário, de 39,6%, e o consignado, de 24,9%.
“Tem uma série de discussões, mas é muito importante a gente contextualizar o papel que o rotativo tem no endividamento”, disse o presidente da Abecs, Giancarlo Greco, em coletiva de imprensa sobre os resultados do setor no terceiro trimestre deste ano. “A representatividade do rotativo no endividamento é muito baixa.”
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O rotativo tem sido alvo de uma discussão entre agentes de mercado, que tentam evitar a imposição de um teto de 100% do valor original da dívida para os juros da modalidade. A Abecs participou, ontem, de reunião com o Banco Central para discutir o tema. O teor da discussão foi revelado pelo Estadão/Broadcast.
Greco tratou ainda da qualidade de crédito no mercado de cartões. Os dados do BC referentes a setembro mostram que a inadimplência do produto, pelo critério de atrasos acima de 90 dias, estava em 8,3%, marcando uma queda em relação ao pico de 8,8% visto em abril e maio.
“A queda na inadimplência precisa ser monitorada com cuidado, mas mostra que estamos caminhando para um outro momento”, afirmou o presidente da Abecs.
Compras online
Entre julho e setembro, os brasileiros fizeram R$ 212,2 bilhões em compras não presenciais com pagamento através dos cartões, de acordo com a Abecs. O número representa alta de 13% em relação ao mesmo período de 2022.
O crescimento foi puxado pelo cartão de crédito, que é o de maior representatividade. O método de pagamento respondeu por R$ 204,1 bilhões em transações não presenciais, um crescimento de 12,9% em relação ao mesmo período do ano passado.
Por outro lado, o cartão de débito cresceu 40,5% no online em relação ao mesmo período do ano passado, movimentando R$ 3,8 bilhões, em crescimento superior ao do pré-pago (+23,2%). “As ações para melhorar o uso do débito no online vêm dando resultados”, disse o presidente da entidade, Giancarlo Greco, em coletiva de imprensa sobre os resultados do setor no terceiro trimestre deste ano.
As empresas do setor unificaram programas de compras com débito sem senha no e-commerce e outros espaços virtuais justamente para que os cartões dessa modalidade decolem no uso na internet.
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