‘Não estamos mais conseguindo investir no Brasil por causa do aço chinês’, diz presidente da Aperam

Companhia afirma que, caso governo não adote medidas de defesa comercial, a indústria nacional pode perder competitividade e ter de demitir

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Foto do author Jorge Barbosa

Com o cenário de forte entrada do aço chinês no mercado brasileiro, o diretor-presidente da Aperam na América do Sul, Frederico Ayres Lima, afirma que a companhia acendeu a luz amarela em relação às perspectivas de crescimento da produção siderúrgica no País. O executivo prevê uma gradual perda de competitividade da indústria nacional, paralisação de usinas e até demissões se o governo não adotar ações de defesa comercial.

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A Aperam América do Sul, antiga Acesita e ArcelorMittal, é a maior siderúrgica global no segmento de aços inoxidáveis, elétricos e especiais, atendendo aos setores automotivo, de construção civil, eletrodomésticos e energia em mais de 40 países. A empresa tem forte exposição ao mercado europeu, mas tinha o Brasil como uma das suas principais apostas de crescimento.

Durante conferência realizada para investidores internacionais em setembro de 2022, o presidente global da companhia, Tim Di Maulo, chegou a destacar as qualidades da matriz energética brasileira, em maior parte de origem renovável, como um dos fundamentos para justificar as apostas da companhia no País.

Na última semana, entretanto, a Aperam anunciou a interrupção da sua terceira fase de investimentos no Brasil, que contemplava uma série de modernizações previstas na unidade em Timóteo, no Vale do Aço (MG). O motivo, segundo a empresa, seria o “momento de adversidade enfrentado pela indústria siderúrgica brasileira, com o excesso de aço importado e queda nas vendas”.

Usina da Aperam em Timóteo (MG) Foto: Elvira Nascimento / Divulgação

“Felizmente não temos nenhuma previsão de demissões, mas já não conseguimos mais ter uma perspectiva de crescimento no Brasil. (Por isso) nós estamos acendendo uma enorme luz amarela que significa, basicamente, dizer que já não estamos mais conseguindo investir no País. Esperamos que esse cenário venha a se reverter”, afirmou Lima.

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Segundo o executivo, a decisão poderá ser revista caso ocorra uma mudança do cenário na siderurgia brasileira. O porta-voz da Aperam na América do Sul acrescentou que toda a indústria nacional está sofrendo por causa da forte entrada de aço importado no Brasil. O produto vem principalmente de usinas chinesas, que tem fortalecido a presença no mercado doméstico por meio da prática de preços desleais, devido a fortes subsídios que o governo da China oferece para as companhias locais não reduzirem a sua produção.

Lima endossa o coro defendido por diversos empresários do setor e levantado pelo Instituto Aço Brasil, que defende a aplicação de uma alíquota de importação de 25% para garantir que os preços do aço importado sejam negociados em patamares iguais aos dos produtos domésticos.

Dados do Instituto Aço Brasil mostram que até o terceiro trimestre, a produção de aço no Brasil havia caído 8,1% no ano comparado a igual período de 2022. O pior desempenho foi verificado em lingotes, blocos e tarugos, com queda de 25,5%. Enquanto isso, a produção da China no mesmo período avançou 1,8%. O país asiático representa 56,6% do mercado.

As importações brasileira cresceram 26,4%, sendo que 56% vem da China e 20%, da Europa. “A China é alvo da maior parte das ações de defesa comercial no mundo dentro do nosso setor, porque oferece subsídios aos produtores locais e pratica dumping, causando danos aos mercados de diferentes regiões. Isso já acontecia, mas agora que o estímulo à produção permaneceu, ao mesmo tempo em que o consumo local diminuiu, a conta não fecha mais”, afirmou o executivo.

Ele destacou que o governo tem estado sensível aos pleitos do setor siderúrgico, mas avalia que é difícil prever se haverá a tomada de alguma medida para proteger o setor. Questionado sobre o nível de ociosidade das atividades da Aperam no Brasil, o presidente regional da companhia afirmou que para o quarto trimestre a empresa ainda tem um volume consistente de vendas.

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“Os mercados em que nós atuamos têm uma dinâmica mais diversificada. Além disso, estamos com maior exposição a megatendências. Produzimos o aço inoxidável que é mais durável e reciclável, além de produtos ligados à transição energética, então isso nos dá um fôlego”, afirmou Lima, acrescentando que apesar das unidades no Brasil não estarem rodando com 100% da capacidade, a empresa por outro lado também não apresenta nível de ociosidade parecido com a média do setor.

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