A repercussão negativa da revelação pelo Estadão do corte de recursos para a Farmácia Popular foi tão forte que desnorteou a campanha do presidente Jair Bolsonaro à reeleição. A divulgação dos dados do projeto de Orçamento de 2023 pegou muito mal nas pesquisas internas do PL, partido do presidente.
Depois do alerta da campanha, Bolsonaro cobrou da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, uma resposta. Guedes rapidamente veio a público para garantir que a verba para o programa de medicamentos será recomposta. Ele também carimbou que não faltarão recursos para o aumento do Auxílio Brasil como antecipou a coluna há duas semanas.
O movimento é uma tentativa de reparar os danos provocados pelo corte junto à população que precisa desses medicamentos. Nas redes sociais e em grupos de WhatsApp bolsonaristas, um movimento foi disparado para desqualificar a reportagem com argumentos de que há fraudes na Farmácia Popular e informações de que a ex-presidente Dilma Rousseff também teria cortado R$ 1 bilhão do orçamento, prejudicando o programa em 2016.
Nada disso muda o fato de que foi o próprio presidente Bolsonaro que não vetou dispositivo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que define as regras sobre como o orçamento deve ser feito, que exigia do governo federal a inclusão das emendas parlamentares que sustentam o chamado orçamento secreto. Uma dinheirama de R$ 19,4 bilhões.
A culpa não é dos técnicos da equipe econômica, acusados de não terem “sensibilidade para o impacto da medida em ano eleitoral”. Aliás, se dependesse deles, o avanço do orçamento secreto não teria acontecido.
Sem saída, os técnicos fizeram um corte linear de 60% nas despesas de saúde, já sabendo de antemão que depois das eleições o Orçamento de 2023 será refeito de tão fake que foi enviado.
A culpa pelo impacto do corte é do presidente Bolsonaro, que escolheu priorizar as emendas. Essa é a verdade nua e crua. O orçamento secreto está roubando recursos de políticas públicas importantes. E isso está ficando mais claro nessa campanha eleitoral. Não adianta dizer que vão consertar depois.
O impacto negativo do corte no Orçamento de 2023 surpreendeu o presidente e aliados, que muito provavelmente não tinham dimensão da importância do programa Farmácia Popular para a população e para o SUS. O programa já estava sendo esvaziado no governo Bolsonaro porque era visto como uma política do PT. Mas a repercussão do corte mostrou que essa é uma política de Estado que não tem dono.
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