Jair Bolsonaro prometeu mais R$ 200 de Auxílio Brasil depois de Lula ter acenado com R$ 150. Onde isso vai parar? A corrida eleitoral paralela do valor do benefício que os dois primeiros candidatos nas pesquisas travam é insana. Mais uma semana, Bolsonaro e Lula chegam ao valor de R$ 1 mil, prometido pelo terceiro colocado nas pesquisas, Ciro Gomes.
A candidata Simone Tebet também prometeu R$ 600, mas já defendeu a adoção de um estado de emergência com as despesas fora do teto para zerar a fila no Sistema Único de Saúde. Explicação também não veio.
É sintomático que os candidatos não digam como farão para cumprir a promessa, e muito menos que isso pode envolver até mesmo a retirada ou diminuição de benefício para um grupo.
Parece até heresia quando a imprensa cobra respostas das campanhas de cada lado.
Bolsonaro, que é o governo de plantão e tem Paulo Guedes no comando da economia, não colocou ninguém na equipe de campanha para responder aos questionamentos da imprensa em relação aos temas econômicos. Fala, fala, fala e não tem contraponto.
É fácil assim para a campanha. Guedes, quando se posiciona, é em eventos virtuais ou presenciais em que está blindado das perguntas inconvenientes.
É provável que tenha sido isso que aconteceu quando, na última quinta-feira, depois de o presidente Bolsonaro ter prometido R$ 800 de Auxílio, ele nada falou sobre o assunto.
Ao contrário, saiu com a declaração de que o governo vai atacar a pobreza com respeito ao teto de gastos num eventual novo mandato do presidente Bolsonaro. Não tem como ele prometer isso. Se pudesse, teria feito no projeto de Orçamento de 2023 e não teria validado manobra para adiar ainda mais despesas deste ano para o ano que vem. Vendo o que foi feito, não foi isso que aconteceu. Entrou na campanha com ataques aos adversários, mas sem responder como fazer.
Na campanha de Lula, é assim também. Dizem que não são governo e, portanto, não precisam explicar agora como vão cumprir as promessas. Mas cobram que Bolsonaro prometeu o que não pretende cumprir.
A coluna insistirá nesse debate (até agora, de mudos ou só de bastidores para interlocutores específicos), porque as respostas serão essenciais para balizar todas as outras políticas públicas.
Se tira de um lado, falta do outro. As consequências seguem ocorrendo. O maior exemplo é o corte de 60% que o governo fez na gratuidade dos medicamentos da Farmácia Popular para acomodar emendas parlamentares do orçamento secreto. É uma prova cabal de que o buraco das contas públicas no ano que vem será muito maior do que completar o dinheiro para pagar R$ 600, R$ 800 ou R$ 1 mil do Auxílio Brasil.
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