EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Repórter especial de economia em Brasília

‘Filigranas’ do arcabouço não preocupam o mercado

Exclusão de gastos com ciência e tecnologia, do Fundeb e de fundo do Distrito Federal não causaram celeuma, ao contrário do que se poderia prever

PUBLICIDADE

Foto do author Adriana Fernandes

Está acontecendo algo muito estranho em Brasília. Autoridades do governo federal e parlamentares estão, mais do que nunca, tratando custo de bilhões de reais como “coisa pequena” para o Orçamento.

A bola da vez foi o relator do projeto do arcabouço fiscal, senador Omar Aziz, que, no ímpeto de defender as mudanças feitas no projeto, afirmou que a exclusão dos gastos de ciência e tecnologia do novo limite de despesas no arcabouço eram “filigranas, recurso pequeno”.

PUBLICIDADE

O relator também colocou fora do novo teto de gastos as despesas do Fundeb (educação básica) e do FCDF (o aporte que o Tesouro Nacional faz todos os anos ao Distrito Federal por sediar a capital do País)

A maior parte do mercado também fez vista grossa às mudanças, com analistas e investidores embalados pelos ventos favoráveis que chegam à economia brasileira. Até há pouco tempo, a preocupação com o desenho do arcabouço fiscal era central e movia corações e mentes dos analistas. Sumiu a preocupação?

O Senado não melhorou o projeto que veio da Câmara. Piorou e o mercado nem piscou. Pelo contrário, bateu palmas. A ficha vai cair lá na frente e os problemas pipocarão, caso ajustes no texto não sejam feitos na Câmara. A hora é agora para consertar. Como avaliou o economista Caio Megale, da XP, o ovo da serpente pode estar sendo formado.

Publicidade

Plenário do Senado aprovou o arcabouço fiscal nesta quarta-feira, 21 Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado

Os gastos com ciência e tecnologia são de máxima importância, assim como os de saúde, educação, Bolsa Família e tantos outros meritórios. Mas fazer deles uma exceção em relação aos outros não parece que pode dar certo. O risco maior é que apareçam projetos ruins, custosos e com pouco ganho para o País. É claro, em detrimento de outras despesas também importantes que vão ficar dentro do novo teto de gastos.

Algo parecido ocorreu no passado, quando o governo criou o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, e os investimentos prioritários passaram a ser abatidos da meta fiscal. Resultado: na época, todos os investimentos queriam ficar fora do cálculo da meta. Tudo passou a ser prioritário.

A exceção morreu de tão ineficiente e a política fiscal enfraqueceu com a perda de credibilidade. Parece ser esse um caminho provável do arcabouço com as mudanças do relator, que acatou emenda do senador Renan Calheiros.

A retirada das despesas em ciência e tecnologia do teto pegou de surpresa o governo e não foi alinhada com o Ministério da Fazenda. No Tesouro, a avaliação é a de que a medida representa um precedente ruim. A dúvida é se a emenda de Renan Calheiros passa na Câmara, comandada por Arthur Lira, seu maior adversário político.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.