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Repórter especial de economia em Brasília

Governo e Congresso seguem apostando que podem mudar regras fiscais sem custo de credibilidade

‘Acordão’ fez Senado aprovar projeto que deixa despesas para financiar bolsas para alunos do ensino médio fora do limite de gastos da nova regra fiscal

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Foto do author Adriana Fernandes

É acordão que se chama a aprovação pelo Senado de projeto de lei complementar que altera artigo do arcabouço fiscal para tirar do teto de gastos deste ano as despesas que vão financiar a bolsa poupança de incentivo à permanência de estudantes de baixa renda no ensino médio.

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Governo e oposição se uniram e aprovaram nessa quarta-feira o projeto, de autoria do senador petista Humberto Costa, relatado pelo líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP). O placar foi de 61 votos a favor e nenhum contrário.

Com a aprovação do projeto, que precisa passar por mais uma votação na Câmara, acabou a aura em torno do arcabouço em apenas três meses desde a sanção da lei, no dia 30 de agosto passado.

Ficou muito claro também que, com uma rápida negociação de acordos para atender interesses de curto prazo, é possível mudar a regra fiscal, numa votação rápida, sem nenhuma discussão séria. Para mudar o antigo teto de gastos criado pelo governo Temer, era preciso alterar a Constituição, o que é muito mais difícil e exige quantidade de votos maior e dois turnos de votação.

Governo pretende dar bolsa para alunos de baixa renda permanecerem no ensino médio como forma de reduzir evasão escolar Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Resultado: temos um arcabouço que foi sancionado faz poucos meses e já estamos discutindo riscos fiscais no Brasil. O arcabouço previu um modelo de transição para o limite de despesas neste ano após a extinção do teto de gastos.

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A leitura no Senado é de que o acordo com a oposição ainda reflete o aceno ao líder do governo no Senado, Jaques Wagner, pelo voto favorável à PEC que limita os poderes do Supremo Tribunal Federal em decisões monocráticas. Mas, sem dúvida, estão sendo costurados muito mais acordos por trás, que garantiram também a aprovação do projeto que altera os investimentos em fundos dos super-ricos no Brasil (exclusivos) e no exterior (offshore). Renegociação mais favorável de dívida de Estados e novos “jabutis” a encarecer a conta de luz certamente estão nesses acertos de votações na reta final do ano.

Às vésperas do ano de eleições municipais, o que está acontecendo agora com o programa não é lá muito diferente do que aconteceu no governo Bolsonaro, em 2021, com a aprovação da MP que criou o Auxílio Brasil – que, na época, substituiu o Bolsa Família, e que já se sabia que tinha sido desenhado de olho nas eleições do ano seguinte.

O desenho do Auxílio Brasil foi um horror e seu estrago ainda não foi totalmente consertado com a recriação do Bolsa Família no governo Lula.

O Senado está aprovando a mudança das regras fiscais para passar o programa sem saber o seu desenho, porque o governo quer acelerar a sua implementação.

É lamentável, porque esse tipo de programa é altamente meritório e, em tese, se bem desenhado, sai barato quando comparado ao enorme benefício que pode alcançar para diminuir o elevado abandono escolar no País. Mas os interesses de curto prazo, sobretudo os eleitorais, sempre se sobrepõem.

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Governo e Congresso seguem apostando que podem mudar as regras fiscais e que não há custo de credibilidade, bastando repetir o mantra da responsabilidade fiscal. Daqui a pouco esse custo vai ficar mais claro para os investidores. Aliás, já está ficando. É só aguardar um pouco mais com as manobras em curso. Mudar ou não a meta nesse cenário vai virando discussão secundária.

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