Na cadeira de ministro da Fazenda há duas semanas, Fernando Haddad trabalhou para apresentar um forte compromisso com a promessa de reversão rápida do déficit fiscal de R$ 242,7 bilhões estimado para 2023 no pacote de medidas anunciado na quinta-feira.
Ele quis dar uma resposta rápida à pressão que o mercado financeiro (“sem coração”, nas palavras de Lula) faz a ele após o aumento de gastos com a PEC da Transição.
Haddad disse que garante uma queda do déficit para abaixo de 1% do PIB (algo entre R$ 90 bilhões e R$ 100 bilhões), mas deixou confuso quem olhou a planilha apresentada no material do anúncio.
Ela mostra uma conta diferente, com a virada das contas públicas do vermelho para o azul com um superávit de R$ 11,13 bilhões ao fim de 2023.
Como nem tudo ali é factível de acontecer (são muitos os percalços a serem enfrentados por sua equipe, entre eles, de natureza política no Congresso e no governo), o ministro achou por bem passar a real ao falar que esse cenário pode não acontecer.
Haddad disse que vai monitorar e tomar novas medidas caso o impacto das já anunciadas deixem o caminho traçado. Mas, com a divulgação da planilha, pode ter contratado um problema para ele mesmo.
Se não era esse o esperado, por que apresentá-la desse jeito? Não teria sido melhor uma tabela mais próxima do que pode acontecer e ir faturando a melhora passo a passo?
A planilha do “plano Haddad” vai ficar sempre a atormentar o ministro a cada frustração das medidas, e pode tirar a paz da sua equipe.
A própria ideia de que há um déficit projetado superior a R$ 200 bilhões é contestada por economistas do PT, que observam que a reestimativa para cima das receitas em R$ 36 bilhões feita no pacote continua baixa, podendo ser algo entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões.
Haddad acabou seguindo o caminho do ex-ministro da Economia Paulo Guedes. Ele prometera zerar o déficit das contas no 1.º ano do governo Bolsonaro, não conseguiu e foi a todo momento cobrado por isso. Ficava irritado. Com Haddad, vai acontecer o mesmo.
De pronto, o ministro cumpriu a promessa de apresentar o seu plano nos primeiros dias de governo. Não houve o famoso “para a próxima semana” que marcou a gestão anterior.
A aposta maior é com o efeito da aprovação da reforma tributária e com um novo arcabouço fiscal a ser apresentado até abril. São duas sinalizações que soam como bálsamo para o mercado. Resistências às medidas, porém, não serão poucas. É só o começo.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.